Encontro em Bogotá captura o “coração latino-americano” do papado de Francisco

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26 Agosto 2016

Neste fim de semana, 15 cardeais e 120 bispos, juntamente com superiores de ordens religiosas, reitores de santuários e universidades, além de aproximadamente 400 padres e leigos/as, irão se reunir na capital colombiana de Bogotá para um evento centrado no Ano Santo da Misericórdia, do Papa Francisco.

A reportagem é de Austen Ivereigh, publicada por Crux, 25-08-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

Todos os que quiserem perscrutar o coração latino-americano do pontificado de Francisco devem se dirigir para a capital colombiana de Bogotá, onde 15 cardeais e 120 bispos – juntamente com superiores de ordens religiosas, reitores de santuários e universidades, além de aproximadamente 400 padres e leigos/as – estão reunidos para responder ao Jubileu da Misericórdia do papa.

O evento, organizado em conjunto pelo Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM, com sede em Bogotá, e a Pontifícia Comissão para a América latina – CAL, do Vaticano, é o maior encontro de líderes eclesiásticos do continente desde a Conferência Geral do CELAM em Aparecida-SP, em maio de 2007.

O “Jubileu Extraordinário da Misericórdia no Continente Americano”, com quatro dias de duração (27 a 30 de agosto), começará no sábado com uma vídeo-mensagem de 32 minutos gravada pelo Papa Francisco – de longe, a sua maior mensagem do gênero já feita até então.

O conteúdo da mensagem está sendo mantido sob sigilo, porém o presidente-secretário da CAL Guzmán Carriquiry, um dos colaboradores mais próximos de Francisco em Roma, descreveu-a como “muito impressionante” e disse que ela gerará um impacto bem além da América Latina.

Entre as muitas implicações da misericórdia consideradas pelo papa, disse ele, uma delas é a implicação política, que ressalta a importância de “regenerar a nossa coexistência enquanto povos à luz da misericórdia”.

O encontro está sendo designado como um “evento” e não um congresso ou conferência, porque, entre as principais alocuções – entre os que irão discursar na abertura estão o Cardeal Marc Ouellet(presidente da CAL), o Cardeal Rubén Salazar (presidente do CELAM), e Dom Rino Fisichella (prelado encarregado por Francisco para o Jubileu da Misericórdia) –, os delegados irão visitar favelas, prisões, projetos de caridade e outras “Obras de Misericórdia” em Bogotá.

Eles também vão ouvir testemunhos de alguns projetos sociais católicos famosos na América Latina, como o projeto jesuíta “Hogar de Cristo”, do Chile, e o centro de reabilitação “Fazenda da Esperança”, no Brasil.

O encontro igualmente recordará o testemunho de santos latino-americanos ao longo de sua história – os seus grandes missionários, educadores, místicos, mártires e defensores dos pobres e indígenas – a fim de compreender “como eles continuam a caminhar conosco e nos desafiar hoje”.

Uma característica marcante do evento vai ser a delegação substantiva de bispos e cardeais norte-americanos, liderados pelo presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, Dom Joseph Kurtz, da Arquidiocese de Louisville, e pelo primaz canadense, o Cardeal Gerald Lacroux, de Quebec.

Excepcionalmente para um encontro do CELAM, além dos idiomas português e espanhol, o inglês será a terceira língua oficial nos dias de encontro.

A colaboração entre as igrejas católicas das Américas – que concentra mais de 60% dos católicos do mundo – vem crescendo desde os dias de João Paulo II, quem via a fronteira entre a América do Norte e a do Sul como o próximo “Muro de Berlim” que precisava vir abaixo.

Desde que Bento XVI designou o cardeal canadense Ouellet para a presidência e secretaria da CAL, as competências desta Comissão “ampliaram consideravelmente a compreensão do continente Americano”, diz Carriquiry, que aponta para o encontro de Bogotá como um passo real na direção da colaboração eclesiástica intra-americana.

Carriquiry ainda enfatizou a importância da organização conjunta feita pela CAL e o CELAM.

Muito embora no passado – em particular, na época da Conferência Geral do Episcopado Latino Americano de Santo Domingo em 1992, quando as relações entre Roma e o CELAM tiveram os seus piores dias –, os dois órgãos estiveram distantes um do outro, atualmente as relações entre a CAL e o CELAM “não podem ser melhores”, diz Carriquiry.

É claro que ajuda ter um papa latino-americano com laços estreitos com o CELAM, alguém que foi também um protagonista importante na Conferência de Aparecida para a revista sobre o tema. Com efeito, o tema do encontro deste fim de semana – a misericórdia como chave para uma Igreja mais pastoral, missionária – está tão próximo do tema de Aparecida como está na relação com o pontificado de Francisco.

De várias formas, este evento situa-se dentro da longa tradição da Igreja latino-americana de “receber” o magistério da Igreja universal e assimilá-lo à luz de suas próprias tradições, conforme o fez com o Concílio Vaticano II na Conferência Geral do CELAM em Medellín, Colômbia, no ano de 1968.

Mais tarde, em Puebla, México, no ano de 1979, a Conferência do CELAM tomou a mensagem da Evangelii Nuntiandi, do papa Paulo VI – que introduzia o conceito de evangelização através da cultura – e a aplicou na América Latina.

Um grupo de pensadores nacionalistas católicos que incluía o então padre jesuíta Jorge Mario Bergoglio assim como Carriquiry considerava, após Puebla, como tarefa nutrir o que chamaram de “o ressurgimento católico” no continente.

Fazia parte desta renovação a recuperação da “cultura” singular da era colonial da América Latina, nascida da revelação da proximidade de Deus aos povos nativos sofredores cujo ícone é Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas. (Carriquiry descreve a sua aparição em 1521 a Juan Diego como o “ato fundante” de Deus no continente.)

Há muito o Papa Francisco está convencido de que a América Latina está sendo chamada agora para servir à Igreja em todo o mundo, e que para isso deve aproveitar as suas reservas pastorais e missionárias, aprofundando aquilo que Aparecida chamou de “Missão Continental”.

Portanto, este final de semana tem a ver, na verdade, com um aprofundar desta missão.

Confrontados com a ameaça de forças mundiais externas e hostis à América Latina, afirma Carriquiry, “precisamos de uma ressurgência, um segundo lançamento das energias missionárias em direção a todas as periferias, no intuito de proteger e renovar este patrimônio que Deus nos confiou”.

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