Quinta-feira Santa - Ano B - O lava-pés: uma pedagogia de inversão de paradigmas sociais

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Por: MpvM | 27 Março 2018

Cada eucaristia é renovação do gesto próprio do Cristo, que também cada um dos que participam deverão fazer seu, “como” Ele o fez. Celebrante e povo entregam seu corpo e sangue pela mesma causa: que o mal da história seja vencido pela graça do perdão de Deus, tal como pede a CF 2018: “Fraternidade e superação da violência” e se viva o: “Em Cristo somos todos irmãos”!

Bárbara Pataro Bucker, religiosa da Congregação das Irmãs Mercedárias da Caridade - MC é mestra no Institutum Theologiae Vitae Religiosae Claretianum pela Pontificia Universitas Lateranensis (1980) e doutora em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1992). Atualmente é professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia Teológica, atuando principalmente nos seguintes temas: teologia, mariologia, ética cristã, espiritualidade. Atua em assessorias à Vida Religiosa Consagrada.

A professora Bárbara participará das seguintes atividades no XVIII Simpósio Internacional IHU. A virada profética de Francisco. Possibilidades e limites para o futuro da Igreja no mundo contemporâneo:

22 de maio – terça-feira | 16h às 17h30min – Minicurso – A missão da Vida Religiosa Consagrada hoje: desafios e perspectivas para uma virada profética

24 de maio – quinta-feira | 10h30min às 12h – Mesa-redonda – O futuro da virada profética do Papa Francisco: desafios e perspectivas para a Igreja do Brasil

Referências Bíblicas
1ª Leitura – Ex 12, 1-8.11-14
Salmo 116
2ª Leitura – 1 Coríntios 11, 23-26
Evangelho – João 13, 1-15


Êxodo 12, 1-8.11-14 - Este trecho da passagem do Êxodo recorda a Festa da Páscoa, evoca Deus que liberta seu povo em “um dia memorável”, motivo de ação de graças “de geração em geração”.

Observemos a orientação que traz como um dado de fé: quando Deus fala inicia-se uma relação de comunicação que compromete.
As promessas de Deus são irrevogáveis, e aparece aqui o aspecto de suficiência e partilha (o animal deve corresponder ao número de pessoas a consumir, e fazer chegar aos vizinhos).

O critério, portanto, não são os privilégios e o acumular na Aliança e Eleição de Deus, mas o estar prontos para a “páscoa”, passagem do Senhor que liberta...

1 Coríntios 11, 23-26 - No trecho da Carta aos Coríntios: o recebido gratuitamente deve ser transmitido e testemunhado.

A compreensão do que se oferece a Deus já não é mais o sangue de sacrifícios de animais, mas o de fazer memória ativa da oferta da vida do Filho amorosamente entregue ao Pai em favor de toda a humanidade, selo de uma nova e eterna Aliança de Amor irrevogavelmente selado no suplício da Cruz: Memória Gratidão na Eucaristia!...

João 13, 1-15 - João não descreve o relato da última ceia como fazem os demais evangelistas, seu discurso revela o espírito eucarístico como lei do amor, caminho de maturidade espiritual num clima marcado pelo afeto filial e fraterno de Jesus.

A páscoa é a grande festa do povo judeu, memória da saída do Egito e da opressão.

Antes desta festa, Jesus quer cear com seus amigos – discípulos, de modo solene, oportunidade reveladora da riqueza do Reino de Deus.
Jesus capta ter chegado sua ‘hora’, momento de “passar deste mundo para o Pai”!

Não é um trânsito fácil, porque Jesus tem vínculos estreitos de amor com “os seus”, e esse mesmo amor o leva a separar-se deles.
É o preço que terá que pagar por ter anunciado o Reino de Deus: Reino pleno da pureza do amor em gratuidade de entrega, de verdadeira alegria, e da paz como oferta de vida e justiça para todos.

Essas realidades que são desejadas por cada coração humano, só podem ser verdadeiras se verificadas na vivência de uma prática através da conduta, que os poderes deste mundo ficam recalcitrantes em admitir.

O gesto profético de Jesus de levantar-se para lavar os pés de seus discípulos é expressão de acolhida e serviço, pedagogia de inversão de paradigmas estabelecidos pela hierarquia social. Ao inverter os termos, seu amor leva-o ao serviço mais humilde.

Pedro protesta, e isso não o detém, fazendo ver a importância do que está acontecendo.

Não excetua Judas, mas adverte que “nem todos estão limpos”, chance para uma tomada de consciência.

A pergunta é: “compreendeis o que eu fiz?”

Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus vive o ‘ministério do serviço entre os irmãos como Senhor e o Filho glorificado pelo Pai’ (Jo 13, 31).
Filho identificado com o Pai de tal maneira, que conhecer a Jesus é conhecer o Pai (Jo 14, 9), glorificação da humanidade quando se tornar discípula de Jesus e produzir frutos de seguimento.

O Reino que anuncia é descrito como vida eterna, uma vida que começa na história, porque consiste em crescer no conhecimento de quem é o Pai e o Filho e na prática de sua única lei: a de nos amarmos uns aos outros como Jesus nos amou, dispostos a entregar a vida em favor dos irmãos, medida de amor que revela a vontade do Pai como Rei.

Jesus ensina na ceia que não há lei se não houver amor, essa é a única lei!

O que parece estar em oposição, quando exercitado chega a um ponto em que lei e amor se fundem em uma única realidade. A autonomia da liberdade (amor) busca conhecer o desejo do Amado, o Outro, que pela lei oferece toda a expressão de Seu Amor na liberdade.

As palavras de Jesus que consagram o pão e o vinho em corpo e sangue são anúncio de algo que ocorrerá na sexta-feira de sua paixão e morte, e representam o compromisso de algo que se irá realizar, juramento e promessa de doação total.

A eucaristia é memória de todo o Mistério Pascal: promessa realizada na quinta-feira e que se concretiza na sexta-feira Santa, englobando a aceitação do Pai e dos irmãos, e revelação no domingo da ressurreição.

Cada eucaristia é renovação do gesto próprio do Cristo, que também cada um dos que participam deverão fazer seu, “como” Ele o fez. Celebrante e povo entregam seu corpo e sangue pela mesma causa: que o mal da história seja vencido pela graça do perdão de Deus, tal como pede a CF 2018: “Fraternidade e superação da violência” e se viva o: “Em Cristo somos todos irmãos”!

Esforços comprometidos em eliminar todo tipo de violência, aspecto da entrega do próprio corpo e sangue na mesma causa de Jesus Cristo.
A comunidade Igreja inteira, como corpo sacerdotal, através das palavras de seus ministros, revela a fidelidade da Esposa, que acompanha o Esposo na missão do Reino, na doação e na hora da cruz. Peçamos que a ‘lei de amor’ seja caminho em nossa vida!

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