Qual é o maior mandamento?

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24 Outubro 2014

São dois mandamentos com um verbo só: «Amar». E dois sujeitos a se amar: Deus e o próximo. Dito isto, está tudo dito. E todos os outros mandamentos dependem destes. Reunirmo-nos neste domingo é darmos a Deus prova de que o amamos e que decidimos amar o nosso próximo. Nada mais, nada menos.

A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras do 30º Domingo do Tempo Comum - Ciclo A. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara, e José J. Lara.

Eis o texto.

Referências bíblicas:
1a leitura: Êxodo 22,20-26
2ª leitura: 1 Tessalonicenses 1,5-10
Evangelho: Mateus 22,34-40

Os dois mandamentos

As diversas passagens do evangelho que, há alguns domingos, estamos lendo, estão situadas nos últimos tempos de Jesus: a paixão vai se aproximando. Podemos considerar estes textos como uma espécie de testamento; palavras que coroam e resumem o conjunto da mensagem. Notemos que nossa leitura de hoje guarda plena coerência com o «Discurso após a Ceia», do Evangelho de João: o convite ao amor mútuo, pelo qual passa o amor a Deus, é de qualquer forma a última palavra do nosso evangelho. É este o amor que Jesus vai agora afixar na cruz. Lembremos que os dois mandamentos citados por Jesus não fazem parte do Decálogo. O primeiro encontra-se em Deuteronômio 6,5, no famoso «Escuta Israel», que é frequentemente recitado pelos judeus. O segundo vem do Levítico 19,18, capítulo no qual encontramos uma grande variedade de fórmulas a respeito do amor ao próximo. A novidade trazida pelo evangelho de hoje consiste em declarar «semelhantes» estes dois «mandamentos» tirados de dois livros diferentes. Para mim, aqui, este «semelhante» não significa somente «comparável», mas «idêntico». Em outras palavras, o nosso amor para com Deus só pode ganhar forma através do nosso amor para com os outros. Lembremos o que diz João, em sua primeira carta (4,20): «Quem não ama seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê.»

A única relação ao Deus desconhecido

Uma questão se põe: pode alguém amar a Deus a quem não vê e em quem às vezes nem mesmo crê, simplesmente amando os outros e colocando-se a seu serviço? Pode-se amar a Deus sem saber? A resposta é sim. E é exatamente o que está dito em Mateus 25,21-45. O texto é célebre: «Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, era forasteiro e me acolhestes, estive nu e me vestistes, doente e me visitastes, preso e viestes ver-me.» Quando fizemos tudo isto? Perguntam estupefatos os destinatários desta declaração, ou melhor, desta revelação. Conhecemos a resposta: «Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes.» Os interlocutores ficaram surpresos! Este é um convite para que olhemos com outros olhos a quantos, solitariamente ou no quadro de organismos diversos, consagram parte de suas vidas aos necessitados do Terceiro Mundo ou aos rejeitados e excluídos das nossas sociedades de consumo. O Cristo encontra-se, escondido, nos homens que a vida crucifica e, também, nos que lhes prestam socorro. O «Reino» já está aí. Jesus, no evangelho, diz que tudo o que está nas Escrituras, toda a Lei e os Profetas dependem destes dois mandamentos do amor, que são apenas um. Esta é uma das chaves que deve orientar a nossa leitura da Bíblia, submetendo-a à busca do amor.

O Amor acima de tudo

Na versão paralela de Marcos (12,28-34), lemos que o duplo mandamento do amor não apenas recapitula o conjunto das Escrituras, mas também que vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. O que equivale a dizer que o culto, o rito não serve para nada se não for a expressão e celebração de um amor que, além disso, no quotidiano, seja o motor da vida. Somos, no entanto, muito hábeis, até mesmo sutis, em nos esquivarmos, em encontrar sucedâneos a um amor que ama como o Cristo nos ama, ou seja, dando a nossa vida (ver João 15,13). Confundimos com facilidade o amor a que se refere o Evangelho com um simples sentimento de afeto que frequentemente não sobrevive à prova, ou com uma atração física, psicológica ou mesmo sexual que com o tempo pode revelar-se o inverso do amor: a decisão do dom de si mesmo confunde-se então com o seu contrário, a vontade de possuir, de usufruir o outro e, até mesmo, de dominá-lo. Por isso devemos desconfiar quando vamos repetindo «amor,…amor», o que faço aliás neste momento, seguindo Jesus em seu discurso após a última Ceia, segundo João 13-17. Para Paulo, o amor, a que chama preferentemente de «caridade» e que é o cumprimento da Lei (ler Romanos 13,6-10), está acima da fé, que um dia cederá lugar à visão; acima da esperança, que terá fim quando entrarmos na posse da vida que ela espera e que é o lugar de acesso ao amor integral (1 Coríntios 13). Não esqueçamos que Amor é o outro nome de Deus.

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