Quem matou os monges de Tibhirine? Um juiz em busca da verdade

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18 Outubro 2014

Talvez finalmente será possível se aproximar da verdade sobre o massacre dos monges de Tibhirine. O juiz francês do antiterrorismo, Marc Trévidic, chegou a Argel, no domingo, 12 de outubro, junto com quatro especialistas.

A reportagem é de Florence Beaugé, publicada no jornal Le Monde, 14-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O drama remonta a 1996. A Argélia estava, então, em plena guerra civil. As forças de segurança se opõem ao Grupo Islâmico Armado (GIA). Na noite entre os dias 26 e 27 de março, sete religiosos que viviam há tempos no mosteiro de Tibhirine, perto de Médéa, a 90 km de Argel, são sequestrados por um grupo armado.

O GIA reivindica o sequestro. No dia 21 de maio, anuncia a execução dos monges. Nove dias depois, as cabeças dos religiosos são descobertas na beira de uma estrada montanhosa. Os corpos nunca seriam encontrados. São aquelas cabeças, sepultadas em Tibhirine, que o juiz Trévidic quer submeter a autópsia. Porque, até hoje, a verdade nunca foi estabelecida. Oficialmente, foi o GIA que executou os monges. Mas circulam versões contraditórias.

No dia 25 de junho de 2009, foi relançada a hipótese, já afirmada, mas nunca demonstrada, segunda a qual os sete religiosos teriam sido mortos pelo Exército argelino por erro. O ex-funcionário militar da Embaixada da França em Argel, François Buchwalter, aceita depôr.

Esse general aposentado explica que, em maio de 1996, durante uma missão das equipes de Médéa, dois helicópteros do Exército argelino metralharam um acampamento, acreditando que se tratava de um grupo armado.

"Depois, pousaram (…) e descobriram que tinham atirado contra os monges. Os seus corpos estavam crivados de balas", relata. O general recebeu essa informação de um dos seus amigos e coirmãos argelinos. O irmão desse amigo pilotava um dos helicópteros que teriam atirado contra os monges.

No dia 5 de dezembro de 2011, Marc Trévidic lançou uma carta rogatória internacional. Pediu para poder se dirigir à Argélia para proceder a audiência de cerca de 20 testemunhas, incluindo terroristas arrependidos, e a exumação das cabeças dos monges cistercienses, a fim de praticar uma autópsia e uma perícia de DNA.

Só esses exames científicos poderão, talvez, definir se as cabeças encontradas são realmente as dos monges, e se estes foram decapitados depois da sua morte. Em suma, reconstituir a ambientação da eventual encenação da sua morte, ou depois da execução por parte dos seus raptores, ou para encobrir um erro do Exército israelense.

A questão estaria bloqueada, não fosse a obstinação do juiz Trévidic e a insistência de Patrick Baudouin, o advogado das famílias dos monges. François Hollande intervém junto ao presidente Bouteflika.

Em dezembro de 2013, Marc Trévidic obtém da Argélia a autorização para uma exumação e uma autópsia das cabeças dos monges, com a condição de que a operação fosse realizada por peritos argelinos. Mas lhe foi oposta uma recusa em relação à audiência das testemunhas.

"Um juiz instrutor argelino está se encarregando disso. Ele transmitirá as transcrições", informam-lhe. Embora ainda não tenha recebido as transcrições prometidas, Marc Trévidic se declara hoje "confiante" e tem boas esperanças de prosseguir.

"Se me deixam ir até o local, é porque as coisas estão se desenvolvendo positivamente. Não vejo por que nos incomodariam para depois nos impedir de fazer um trabalho eficaz", confidencia ele ao Le Monde.

Sobre as possibilidades de descobrir a verdade, Marc Trévidic se mostra prudente. "Depois de tantos anos, não sabemos em que estado de conservação encontraremos as cabeças, nem o que a ciência nos permitirá descobrir", destaca.

A mesma prudência é mostrada pelo advogado Patrick Baudouin. "A principal coisa em jogo é poder fazer a autópsia nas melhores condições possíveis, como se faria em qualquer situação como essa", explica.

Em Tibhirine, enquanto isso, os únicos ocupantes do lugar são os crânios dos monges mortos, sepultados no parque: sete montinhos de terra, cada um coberto por uma laje de mármore branco que traz gravado um nome e uma mesma data: 21 de maio de 1996. Aquela que se presume que seja a data da morte dos religiosos.

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