''Farei ouvir a voz de uma mulher abusada por um padre'', afirma Marie Collins

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24 Março 2014

É uma daquelas notícias que, há alguns anos, teria sido considerada ficção científica. Agora, ao invés, graças à decisão de Francisco que quer continuar com firmeza na linha iniciada por Bento XVI, Marie Collins, uma mulher irlandesa abusada por um padre aos 13 anos, foi nomeada membro da nova comissão antipedofilia da Santa Sé. Uma mulher que, quando menina, foi vítima de violência estará envolvida, portanto, no mais alto nível para fazer com que as regras e as leis já existentes correspondam também a uma verdadeira mudança de mentalidade na hierarquia.

A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 23-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

"Eu esperava que houvesse um representante das vítimas na comissão, mas não tinha ideia de que seria nomeada", afirma Marie Collins. "Para mim, foi uma surpresa absoluta. A instituição dessa comissão é uma medida muito positiva do Papa Francisco e pode levar a uma mudança real do modo pelo qual o problema da proteção dos menores e do cuidado pastoral das vítimas será gerido no futuro. Há muito trabalho a fazer."

"Como sobrevivente de um abuso clerical, para mim, foi uma viagem longa e difícil. A minha confiança e o meu respeito pela Igreja Católica foram minados pela forma como o meu caso e, em geral, os casos de abuso foram enfrentados. Houve momentos em que eu me perguntei se eu realmente devia ir embora. Por isso, agora, o fato de me encontrar como parte de uma comissão desse nível no Vaticano é algo que eu nunca poderia ter previsto. E é preciso aproveitar a oportunidade para fazer a voz de uma vítima."

O anúncio ocorreu nesse sábado, de surpresa, depois de uma aceleração desejada pessoalmente pelo papa: "A Comissão para a Proteção dos Menores" contra o fenômeno da pedofilia, por enquanto, é composta por quatro homens e quatro mulheres, representantes dos vários países. Além de Collins e do cardeal Sean O'Malley, estão a francesa Catherine Bonnet; a inglesa Sheila Hollins; o jurista italiano Claudio Papale, professor de direito canônico; a ex-embaixatriz polonesa Hanna Suchocka; e dois jesuítas da Gregoriana: o argentino Humberto Miguel Yánez, diretor do Departamento de Teologia Moral, e o alemão Hans Zollner, decano do Instituto de Psicologia.

Os oito membros são apenas os primeiros, porque outros serão designados a partir das diferentes áreas geográficas do mundo. O nascimento da comissão antipedofilia havia sido discutida pelos oito cardeais conselheiros de FranciscoO'Malley é um deles – em dezembro passado.

As nomeações desse sábado são apenas um primeiro passo. Os estatutos já estão sendo estudados, e os oito membros terão que se ocupar deles, definindo "as competências e as funções" da própria comissão, para garantir a segurança das crianças, a prevenção, o estudo dos procedimentos penais, os deveres e as responsabilidades civis.

A finalidade é a de aconselhar o papa e a Santa Sé sobre as normas antipedofilia e o cuidado pastoral das vítimas. O novo órgão, que também terá que identificar novos colaboradores, não irá substituir a força-tarefa da Congregação para a Doutrina da Fé que lida com esses casos, nem aos vários dicastérios envolvidos na formação do clero. Mas irá colaborar com todos os escritórios vaticanos, fornecendo indicações e propostas concretas.

Marie Collins foi a única vítima de abuso a tomar a palavra no primeiro simpósio internacional sobre pedofilia clerical organizado pela Gregoriana em fevereiro de 2012, com o apoio do Vaticano e com a participação de bispos e superiores religiosos de todo o mundo.

Ela havia contado que, aos 13 anos, enquanto estava internada em um hospital de Dublin, havia sofrido violências. "O fato de que o homem que abusou de mim fosse sacerdote acrescentou uma grande confusão na minha mente... Aqueles dedos que tinham abusado do meu corpo na noite anterior eram os mesmos que, na manhã seguinte, seguravam e me ofereciam a hóstia sagrada."

O capelão do hospital tentou tranquilizá-la, dizendo que, como era um padre, não podia agir mal. "Isso acrescentou um novo peso ao meu sentimento de culpa, e a convicção de que o que tinha acontecido era de responsabilidade minha, e não dele. Quando saí do hospital, eu não era mais a mesma menina...".

O arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin, parabenizou Collins pela nomeação: "A sua contribuição ao trabalho para a proteção das crianças na nossa diocese foi crucial, e os seus conselhos e comentários críticos foram de inestimável ajuda e inspiração para mim".

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