“A misericórdia é urgente, neste nosso tempo o perdão é um hóspede raro”, diz o Papa Francisco

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Por: André | 11 Dezembro 2015

“De modo especial neste nosso tempo, em que o perdão é um hóspede raro nos âmbitos da vida humana, o chamado à misericórdia é mais urgente, e isto em todos os lugares: nas sociedades, nas instituições, no trabalho e nas famílias”. Um dia após começar o Jubileu da Misericórdia, o Papa Francisco voltou a refletir sobre o sentido do Ano Santo, explicando na Audiência Geral, que aconteceu na Praça São Pedro, que a Igreja “ne-ces-si-ta” deste ano extraordinário e também que “a necessária obra de renovação das instituições e das estruturas da Igreja” será em vão sem a misericórdia.

A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi e publicada por Vatican Insider, 09-12-2015. A tradução é de André Langer.

Após recordar que abriu a Porta Santa em Bangui, na República Centro-Africana, Francisco perguntou, retoricamente: “por que um Jubileu da Misericórdia? O que significa isto?” A Igreja, prosseguiu, “necessita desse momento extraordinário. Não digo que este tempo extraordinário seja bom para a Igreja, não, não; digo que a Igreja necessita desse momento extraordinário. Na nossa época de profundas mudanças, a Igreja é chamada a oferecer a sua contribuição peculiar, tornando visíveis os sinais da presença e da proximidade de Deus. E o Jubileu é um tempo favorável para todos nós, porque contemplando a Misericórdia Divina, que ultrapassa todo e qualquer limite humano, podemos nos tornar testemunhas mais convictas e eficazes.”

“Dirigir o olhar a Deus, Pai misericordioso, e aos irmãos necessitados de misericórdia, significa concentrar a atenção no conteúdo essencial do Evangelho: Jesus, a misericórdia feito carne, que torna visíveis aos nossos olhos o grande mistério do Amor trinitário de Deus. Celebrar um Jubileu da Misericórdia equivale a colocar novamente no centro da nossa vida pessoal e das nossas comunidades o específico da fé cristã, isto é, Jesus Cristo, Deus misericordioso”.

Ou seja, o Jubileu é “um momento privilegiado para que a Igreja aprenda a escolher unicamente ‘aquilo que mais agrada a Deus’. E o que é que ‘mais agrada a Deus’? Perdoar os seus filhos, usar de misericórdia para com eles, a fim de que possam, por sua vez, usar de misericórdia e perdoar os seus irmãos, resplandecendo como tochas da misericórdia de Deus no mundo. É isto que mais agrada a Deus.”

Santo Ambrósio – prosseguiu o Papa –, em um livro de teologia que escreveu sobre Adão, toma a história da criação do mundo e diz que Deus, cada dia após ter criado a lua, o sol ou os animais, o livro, a Bíblia diz: ‘ Deus disse que isto era bom’, mas quando criou o homem e a mulher a Bíblia diz: ‘Deus disse que isto era muito bom’, e Santo Ambrósio se pergunta por que Deus diz ‘muito bom’, por que Deus está tão contente depois da criação do homem e da mulher. Porque, finalmente, tinha alguém a quem perdoar. Que bonito! A alegria de Deus é perdoar. A essência de Deus é a misericórdia.”

“Por isso – continuou ainda o Papa –, neste ano devemos abrir o coração, para que este amor, esta alegria de Deus nos encha, encha a todos nós com esta misericórdia. O Jubileu será um ‘tempo favorável’ para a Igreja se aprendemos a escolher ‘aquilo que mais agrada a Deus’, sem ceder à tentação de pensar que haja algo mais importante ou prioritário. Nada é mais importante do que escolher ‘aquilo que mais agrada a Deus’, sua misericórdia, seu amor, sua ternura, seu abraço, suas carícias”.

“Até mesmo a obra de renovação das instituições e das estruturas da Igreja – disse Francisco – é um meio de experimentar a misericórdia de Deus que, sozinha, pode garantir à Igreja ser aquela cidade construída sobre uma montanha que não pode permanecer escondida (cfr. Mt 5,14). Somente uma Igreja misericordiosa resplandece. Se tivéssemos que esquecer, embora apenas por um instante, que a misericórdia é ‘aquilo que mais agrada a Deus’, cada esforço nosso seria em vão, porque nos converteríamos em escravos das nossas instituições e de nossas estruturas, por mais renovadas que possam ser, mas sempre seríamos escravos”.

Com a misericórdia, insistiu o Papa, “reforçaremos em nós a certeza de que a misericórdia pode contribuir realmente para a edificação de um mundo mais humano, especialmente neste nosso tempo, em que o perdão é um hóspede raro nos âmbitos da vida humana, a reivindicação da misericórdia é mais urgente, e isto em todos os lugares: na sociedade, nas instituições, no trabalho e também na família”.

“Claro, alguém poderia objetar: ‘Mas, padre, a Igreja, neste Ano, não deveria fazer algo mais? É justo contemplar a misericórdia de Deus, mas há muitas necessidades urgentes’. É verdade, há muito a ser feito, e eu, em primeiro lugar, não me canso de recordá-lo. Mas é necessário ter presente que, na raiz do esquecimento da misericórdia, sempre está o amor próprio, o egoísmo. No mundo, isso toma a forma de busca exclusiva dos próprios interesses, prazeres e honras, juntamente com a acumulação de riquezas, enquanto na vida dos cristãos aparece muitas vezes sob a forma de hipocrisia e mundanismo.”

“Todas estas coisas são contrárias à misericórdia – prosseguiu Francisco. As investidas do amor próprio, que alienam a misericórdia do mundo, são tais e tantas que frequentemente nem sequer somos capazes de reconhecê-las como limite e como pecado. Este é o motivo pelo qual é preciso reconhecer que somos pecadores para reforçar em nós a certeza da misericórdia divina.”

E conclui com uma breve oração: “‘Senhor, eu sou um pecador, Senhor eu sou uma pecadora, vem com tua misericórdia’ e esta é uma belíssima oração, é fácil, é uma oração fácil para ser dita todos os dias, todos os dias. ‘Senhor, eu sou um pecador, Senhor eu sou uma pecadora, vem com tua misericórdia’”.

A Audiência Geral aconteceu novamente entre fortes medidas de segurança. Entre as personalidades que saudaram o Papa no final da Audiência, destacam-se o cardeal Georges Cottier e o filósofo francês Bernard-Henri Lévy.

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