A Cúpula de Paris e o aquecimento global que nos empurra para o abismo

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Por: Jonas | 01 Dezembro 2015

Com a presença de mais de 195 países, acontecerá a partir deste dia 30 de novembro, em Paris, a XXI Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, também conhecida como Conferência das Partes (COP21) ou Cúpula de Paris, onde se busca chegar a um acordo que evite uma temperatura global acima dos 2ºC, pois, caso contrário, levar-nos-ia a ultrapassar o ponto de não retorno de uma espiral ascendente de consequências apocalípticas.

A reportagem é de Sergio Flores, publicada por La Izquierda Diario, 27-11-2015. A tradução é do Cepat.

Os dados duros

O drama foi desatado após se conhecer os últimos dados sobre o aquecimento global provocado pelos gases do efeito estufa. A Organização Mundial do Meio Ambiente destacou que, no ano de 2014 (o mais quente da história), bateu-se o recorde de emissão de gás deste tipo, com o aumento de dióxido de carbono (CO2) em 143%, em comparação com o da era pré-industrial, ultrapassando as quatrocentas partículas por milhão na atmosfera. James Hansen, ex-diretor do Goddard Institute, da NASA, sustenta que o limite de sustentabilidade da civilização humana está no limite dos trezentos e cinquenta partículas por milhão. Por sua parte, o Escritório Meteorológico Britânico prognostica um aumento da temperatura global em 1ºC, em fins de 2015. No entanto, o horror se concentra no aspecto exponencial do crescimento do aquecimento global, impedindo a elaboração de planos efetivos de longo alento, uma vez que com o tempo a pendência se torna mais evidente e os prazos para se buscar uma solução real se encurtam.

No ano de 2007, o Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) prognosticou que, para o ano 2100, a temperatura global aumentaria 1ºC, mas, em 2008, o Centro Hadley para a Pesquisa da Meteorologia modificou esta informação, prognosticando um aumento de 2ºC para a mesma data. No mesmo ano, a ONU prenunciou um aumento de 3,5ºC para 2100, afirmando que este aumento, em si, implicaria no desaparecimento de todos os habitats naturais do planeta, chegando a converter, por exemplo, a Amazônia, “pulmão do planeta”, em um deserto. Este aumento também aniquilaria quase todo o plâncton oceânico, destruindo a base da cadeia alimentar marinha. Por sua vez, estas enormes secas regionais quebrariam o sistema agrícola internacional provocando grandes fomes, jamais antes vistas, com seus consequentes conflitos político-militares. A isto podemos somar o fato de que jamais na história da humanidade esta experimentou uma temperatura global deste tipo.

No entanto, informação mais recente foi piorando ainda mais o panorama, já que não se deveria esperar o ano de 2100. Em 2009, Hadley corrigiu seus dados, prognosticando um aumento de 4ºC para 2060, ao passo que o Global Carbon Project e o informe Copenhague Diagnosis calcularam, para 2100, um aumento entre 6ºC e 7ºC, respectivamente. E, em 2010, a ONU voltou a corrigir a informação, fixando para 2050 um aumento de 5ºC, ao mesmo tempo em que a Agência Internacional de Energia (AIE) fixou um aumento de 2ºC para 2017 (o dobro do que, em 2007, o IPCC havia prognosticado para 2100) e de 3,5ºC para o ano de 2035. Ou seja, um aumento catastrófico da temperatura, em nível global, que implica na aniquilação total da vida na Terra.

O caso da Extinção do Permiano

Os setores mais preocupados do campo da ciência tomam como referência eventos geológicos similares, como as chamadas grandes extinções. É o que sustentam vários especialistas, como o climatologista da Universidade de Cambridge, Peter Wadhams, que, junto a outras referências, integra o Arctic Methane Emergency Group (AMEG), organização científica que faz parte da COP21. Este setor, por sua vez, é respaldado por ativistas e comunicadores sociais tais como o jornalista Thom Hartmann, em consonância com ONGs do tipo Green World Rising, que divulgaram um alarmante material intitulado Last Hours, vislumbrando a COP21.

Em toda a sua história, a Terra experimentou cinco grandes extinções, que aniquilaram mais da metade da vida. A mais famosa de todas é a quinta, a extinção do Cretácio (há sessenta e seis milhões de anos), por ter sido a responsável pelo desaparecimento dos dinossauros. No entanto, a pior de todas foi a terceira, a extinção do Permiano (há duzentos e cinquenta milhões de anos), também conhecida como A Grande Mortandade. Esta extinção foi responsável pelo desaparecimento de 95% da vida na Terra. Para alcançar tão alto grau de mortandade, a vida foi atacada por diversos elementos. No entanto, um só foi o detonante: o efeito estufa provocado pelos gases emanados de uma erupção vulcânica de características extremas. A principal hipótese aponta para um meteorito gigantesco, cuja cratera de 500 km foi descoberta em 2006, na Terra de Wilkes, Antártida, que provocou uma onda sísmica de tal magnitude que repercutiu no lado oposto do globo, com a irrupção dos Trapps Siberianos. Este vulcanismo extremo, comprovado, lançou à atmosfera tal quantidade de gases de efeito estufa que o calor retido chegou a descongelar as fontes de gás metano localizadas sob as costas oceânicas. Este gás metano, que potencializou a espiral ascendente no aquecimento global, provocou, por sua vez, a proliferação das bactérias anaeróbias no oceano, as que emitiram em conjunto tal quantidade de sulfeto de hidrogênio que, além de envenenar os mares, debilitaram a camada de ozônio a um nível jamais experimentado, expondo à calcinação por raios ultravioleta os poucos setores sobreviventes sobre a face da Terra. O resultado em conjunto foi a aniquilação de 95% da vida no planeta e a mais longa odisseia terrestre por sua recuperação, quando o mundo foi somente um marasmo desértico dominado por fungos.

Às portas de uma sexta extinção?

Em nossos dias, a ameaça de extinção se torna uma realidade, quando vemos que a emissão de gases do efeito estufa provocado por mais de cem anos de impunidade e irracionalidade imperialistas pode superar a provocada pela erupção dos Trapps Siberianos. Os cientistas Igor Semiletov e Natalia Shakhova vêm estudando a emissão de gás metano na Sibéria Oriental, produto do derretimento do Permafrost das estepes e leitos marinhos. O gás metano, a curto prazo, tem um efeito estufa cem vezes mais poderoso que o CO2, e só 1% dos depósitos siberianos estudados por Shakhova e Semiletov (sem contar o restante das reservas localizados na Sibéria, Alasca e Ártico) serviria para dobrar a quantidade de metano atual da atmosfera. Segundo estes cálculos, o colapso seria iminente, já que esta emissão massiva de gases, já em curso, pisaria no acelerador do aquecimento global.

A batalha na Cúpula de Paris

A Cúpula do Clima busca acordar um pacto que administre a descarbonização da economia internacional, para evitar aumentar a temperatura global para além dos 2ºC, dado que este número é considerado como o limite após o qual o aquecimento global tomaria as dimensões catastróficas anteriormente expostas. Há seis países insulares preocupados, já que sofreriam um desaparecimento nas próximas décadas com o aumento do nível médio do mar, como consequência do derretimento do Ártico. Este acordo já entraria em vigor em 2020 (ainda que perdure até 2050) e requereria, segundo a AIE, um investimento de 13,5 bilhões de dólares e a ajuda internacional para os países pobres. No entanto, muitos setores críticos apontam contra o IPCC, que representaria a posição oficialista (ONU) da Cúpula, já que questionam o caráter conservador de seus dados e políticas. O IPCC promove acordos de longo prazo que apostem em investir na geoengenharia e se baseia em cálculos que não integram o fator metano na equação do aquecimento global. O grupo AMEG questiona justamente este fato, que teria como objetivo evitar radicalizar as políticas para os grandes grupos econômicos petroleiros, principais responsáveis pelo aquecimento global, e considera a Cúpula de Paris como a última oportunidade para buscar uma verdadeira virada na política de acordos, para reverter o fenômeno climático que nos empurra para o abismo.

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