Metas dos países para redução de emissões são insuficientes

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01 Setembro 2015

Propostas apresentadas até agora para cortar gases de efeito estufa não conseguirão manter aquecimento abaixo de 2°C, alerta instituto

Se depender das contribuições que os países apresentaram até agora de redução das emissões de gases estufa, que provocam o aquecimento global, vai ser bem pouco provável que o planeta consiga estabilizar o aumento da temperatura em 2°C até o final do século.

A reportagem é de Giovana Girardi, publicada no jornal O Estado de S. Paulo, 31-08-2015.

É o que mostra um cálculo preliminar feito com base nas INDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida, na sigla em inglês) entregues até a semana que passou à Convenção do Clima da ONU. As INDCs são os compromissos que os 196 países membros da convenção têm de propor até 1º de outubro para fundamentar o novo acordo climático global que deve ser finalizado na Conferência do Clima da ONU (COP-21), a ser realizada em dezembro em Paris.

Até sexta-feira, 56 países, responsáveis por quase 70% das emissões do planeta, de acordo com a ONU, apresentaram suas propostas.

Cálculos feitos pelos pesquisadores do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (Idesam), obtidos com exclusividade pelo Estado, mostram que as emissões do mundo em 2030 – com os cortes sugeridos até o momento – serão no mínimo o dobro do necessário para segurar o aumento da temperatura. A comunidade científica considera que um aumento acima de 2°C em média em todo o planeta podem trazer consequências catastróficas.

Orçamento. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), para evitar o pior cenário, o mundo só pode emitir, entre 2012 e 2100, 1.000 gigatoneladas (Gt) de CO2 – é o chamado “orçamento de carbono”. Numa distribuição igualitária ao longo do tempo, isso significa que podemos emitir no máximo 11,3 GtCO2 por ano até lá. O problema é que o mundo, em 2010, segundo o IPCC, emitiu 49 Gt do gás, o que dá uma ideia do tamanho do desafio para fazer essa redução.

Os pesquisadores do Idesam calcularam quanto cada um dos países que já apresentaram suas INDCs deverão emitir em 2030 se essas metas forem adotadas. Eles chegaram ao montante de 14,9 Gt. Isso sem contar a China. Hoje o maior emissor mundial, o país somente indicou que vai alcançar seu pico de emissões em 2030, sem trazer nenhum indicativo numérico de quanto vai ser isso.

Em 2012, a China emitiu 10,7 Gt CO2. Ou seja, hoje sozinha ela é responsável pela quantidade que o mundo inteiro deveria emitir. Mesmo se o país mantiver esse valor até 2030, a soma das emissões globais, considerando as metas dos demais países, seria de 25,60 Gt CO2, mais que o dobro do limite recomendado pelo IPCC.

O grupo cita, no entanto, que há previsões, como a feita pelo Grantham Research Institute on Climate Change, de que emissões chinesas podem chegar, daqui a 15 anos, a 16,5 Gt, o que elevaria a emissão global a 31,40 Gt CO2, quase o triplo da estimativa de 11,3 Gt por ano.

E ainda não se sabe quais são as previsões para Brasil, Índia, Indonésia e África do Sul, que estão entre os maiores emissores do mundo. Após a submissão de todas as INDCs, o secretariado da Convenção do Clima da ONU vai oferecer uma síntese de todas as metas oferecidas e provavelmente fazer um balanço do seu grau de ambição. Por essa época, o Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma) também vai lançar seu Relatório sobre a Lacuna de Emissões.

Pouca ambição. Mesmo sem todas as cartas na mesa, o que fica claro até o momento, dizem os pesquisadores Mariano Cenamo e Pedro Soares, é que a soma das ambições dos países para combater as mudanças climáticas globais não está compatível com a necessidade apresentada pela ciência para manter o equilíbrio climático do planeta.

Cenamo alerta que hoje as INDCs estão sendo apresentadas cada uma de um jeito, o que dificulta a realização de comparação entre elas. Além do caso da China, que só apresentou o ano de pico, não há padrão, por exemplo, sobre a data que é usada como base para se estabelecer as metas de redução de emissões. Por exemplo, a União Europeia se compromete a reduzir 40% das emissões até 2030 com base na quantidade que era emitida em 1990. Já os Estados Unidos prometem cortar de 26% a 28% em 2025, com base nos valores de 2005.

“Essa contabilidade criativa não ajuda. Por enquanto está se estabelecendo a base de negociação, mas esperamos que no futuro, seja por via oficial da Convenção do Clima ou por iniciativas da sociedade civil, que tenhamos uma base de comparação mais clara, seja a partir da responsabilidade histórica de cada país ou de suas capacidades econômicas. Mas já podemos dizer com tranquilidade que é preciso que os países adotem metas mais robustas e compatíveis”, diz.

Soares destaca o fato de que alguns países historicamente pouco responsáveis pela concentração de gás carbônico que está na atmosfera (cerca de 400 ppm) e ainda subdesenvolvidos, assumiram metas mais ousadas. É o caso da Etiópia e Gabão, que se comprometeram a reduzir, respectivamente, 64% e 50% de suas emissões até 2030. “Imaginamos que é porque eles estão esperando atrair com essa meta investimentos para gerar um desenvolvimento mais sustentável.

Parece uma boa estratégia”, diz. Nesse cenário, a Etiópia teria uma redução absoluta maior que a da Austrália, que propôs cortar até 28%.

Nesta segunda-feira, começa em Bonn (Alemanha) uma nova rodada de negociações em torno do acordo climático. É o penúltimo encontro antes da COP de Paris.

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