Habemus Giudam: todos os inimigos de Francisco

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30 Junho 2015

Um golpe contra a hierarquia vaticana – verbal, lembram-se do soco? – é o remédio que Jorge Mario Bergoglio prefere. É um rodado instrumento que ele explora bem para atingir governos e políticos. No Sínodo de outubro, sitiado pelos conservadores norte-americanos, pelos espanhóis da marca Opus Dei, pelos alemães nostálgicos de Ratzinger, Francisco proferiu um inequívoco e pouco diplomático "aqui quem manda sou eu": "O papa garante a unidade". E a oposição de púrpura – cardeais com a paixão por obras instantâneas, assustados com o progressismo sobre as questões da família, casais gays, ambiente e capital –, em público, responde com sorrisos falsos.

A reportagem é de Carlo Tecce, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 29-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Mas essa oposição recebe socos cada vez mais poderosos: "O povo de Deus possui um faro infalível para reconhecer os bons pastores e distingui-los dos mercenários". Não é apenas a faixa com a marca do IS dos fanáticos islâmicos que exterminam cristãos indefesos que perturba o argentino, nem sequer as reações agressivas de Israel para a surpreendente sintonia de Francisco com os palestinos. O pontífice, definido como o último marxista, enfrenta a Cúria, a Igreja mais intransigente e obscurantista.

E os homens de hábito talar rejeitam as suas reformas por razões teológicas, por relutância congênita ou, mais frequentemente, por ânsia de poder. Não existe uma lista completa de cardeais ou bispos adversários ou simplesmente não seguidores, mas sim uma lista (certamente não de proscrição) que deve ilustrada.

Bergoglio invoca a "parrésia". Dizer tudo, dizer a verdade. O que inquieta o argentino é justamente a capacidade curial de se insinuar e de tramar. Em silêncio: sem dizer nada, dizendo o falso.

* * *

Tarcisio Bertone, ex-secretário de Estado

Com Joseph Ratzinger, o salesiano era realmente o primeiro-ministro vaticano, atento aos assuntos terrenos (IOR) mais do que espirituais. Talvez, não cultivasse a vinha do Senhor, mas as relações com a política. Quando o substituiu por Pietro Parolin, Bergoglio lhe sugeriu que se retirasse em oração para Valdocco, casa-mãe de Dom Bosco. Bertone preferiu uma cobertura no Vaticano.

 

Camillo Ruini, ex-presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI)

Ele era o chefe dos bispos italianos. Por 20 anos, influenciou a política, os palácios e praticou o "patrocínio" transversal para os expoentes católicos espalhados pelo centro, pela direita ou pela esquerda. Reduziu as aparições públicas. Quando intervém, no entanto, marca as distâncias de Francisco. Rejeitou as uniões civis. É pior quando não aparece. Ao término do Sínodo de outubro, para amplificar a discordância sobre os divorciados em segunda união (nunca a Eucaristia), Ruini não entrou na fila para cumprimentar o papa.

 

Gerhard Ludwig Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé

O alemão de Mainz, na Praça do Santo Ofício, preside um ministério que pertenceu durante décadas a Joseph Ratzinger, mas é Bergoglio que o ordenou cardeal. Ao contrário de Ruini, que não apertou as mãos de Francisco às margens do Sínodo, Müller brigou por muito tempo com Walter Kasper e, depois, desertou da missa. Para os bergoglianos, é um reacionário. De Kasper, o soco: "O pontífice não precisa de aulas de teologia".

 

Raymond Leo Burke, soberano da Ordem de Malta

Junto com os cardeais Velasio De Paolis, Carlo Caffara, o já citado Müller e o austríaco Walter Brandmüller, o ex-arcebispo metropolitano de Saint Louis assinou o manifesto "Permanecer na verdade de Cristo", que se opõe à hipótese de retomada dos sacramentos para os divorciados. Burke se expôs muito. Assim, Bergoglio o promoveu e o removeu. Era o prefeito do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica: em novembro, foi-lhe conferida o cargo honorário de patrono dos Cavaleiros de Malta.

 

Angelo Scola, arcebispo de Milão

Foi impressionante: o enésimo purpurado que entra papa no conclave e sai cardeal. O sistema que o Comunhão e Libertação reflete contava com Scola para expugnar o Vaticano e, com o Vaticano, a Itália inteira, a Igreja-mundo. Ele era o favorito, o predestinado. Até mesmo nos jornais, criavam-se linhas de montagem de extração ciellina. Scola não perdeu apenas uma eleição. Sancionou o epílogo de um sistema de pensamento, que ele ainda representa.

 

Mariano Crociata, arcebispo de Latina

O ex-secretário-geral dos bispos italianos (CEI) foi sugerido por Tarcisio Bertone a Francisco para que elevasse Crociata ao cargo de cardeal. Parece que ele colocou isso por escrito. Bergoglio jogou no lixo as indicações de Bertone e o enviou para a diocese de Latina-Terracina-Priverno-Sezze.

 

Angelo Bagnasco, presidente da CEI

Em rápida e impiedosa sequência e com a honra de uma saída no fim do mandato, em menos de poucos anos, o Papa Francisco destituiu o cardeal Bagnasco, o chefe dos bispos italianos. Primeiro, Bergoglio nomeou Nunzio Galantino como secretário-geral da CEI, que desmontou a estrutura de Bagnasco, e depois inaugurou a hostil assembleia anual dos bispos: "O papa não fala por último".

 

Giuseppe Sciacca, bispo de Fondi

Não bastou ao siciliano natural de Aci Catena se exibir com um SUV de sabe-se lá qual geração. Bergoglio logo o expulsou, recém-instalado. Em épocas ratzingerianas, Sciacca era secretário do Governatorato, sucessor de Carlo Maria Viganò, o núncio enviado para o exílio nos Estados Unidos pelas suas desavenças com o tentacular Bertone. Com Sciacca, foi pior: secretário adjunto do Supremo Tribunal da Signatura Apostólica.

 

Domenico Calcagno, cardeal diácono

Ele explorou o rastro de Bertone, apesar das polêmicas: a paixão pela caça (ele detinha pistolas, rifles e uma espingarda), as acusações de falta de atenção sobre os episódios de pedofilia na diocese de Savona. Francisco não o confirmou no Conselho do IOR. Ele ainda preside a Administração do Patrimônio vaticano (APSA), mas, na prática, é comissionado por George Pell, o australiano prefeito da Secretaria Econômica.

 

Mauro Piacenza, penitenciário maior

Quando a Liguria importava – Bertone foi arcebispo de Gênova –, Piacenza era o nome certo para qualquer cadeira. Ele era candidato para a Secretaria de Estado, mas Bergoglio o transferiu para o tribunal da Penitenciaria Apostólica.

 

Giuseppe Betori, arcebispo de Florença

O ex-secretário da CEI tem uma formação ruiniana e, portanto, é inadequado para o reformista Bergoglio. Há muito tempo, ele está prestes a deixar a Toscana para a Cúria: por enquanto, permanece onde está.

 

Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto

O cardeal é o porta-voz da Igreja africana e da direita mais reacionária que sobrevive, embora derrotada, na Cúria. É o mais credenciado para se tornar o primeiro papa negro. Assumiu uma posição de fechamento (hermético) em relação aos discursos de acolhida aos homossexuais e divorciados de Francisco: "A Igreja está confusa sobre doutrina e moral".

 

Stefan Oster, bispo de Passau

Na Alemanha, lugar de refinados teólogos, sub-repticiamente, alimenta-se o duelo entre o progressista Kasper, fiel aliado de Francisco e o conservador Müller. O jovem bispo salesiano se pronunciou várias vezes para defender a doutrina. Ao redor de Oster, coagulou-se um grupo de bispos alemães: Konrad Zdarsa, Rudolf Voderholzer, Friedhelm Hofmann, Wolfgang Ipolt, Gregor Maria Hanke. Até mesmo Dom Georg Gänswein, o assistente pessoal de Bento XVI, olha com atenção para esses movimentos na Alemanha.

 

Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos

O cardeal canadense, que apoia o retorno à adoração eucarística e aos cantos gregorianos, tem uma visão que pouco se cruza com o olhar de Bergoglio. Todas as vezes que, em preparação a um consistório, aponta bispos para serem transformados em cardeais, o argentino o ignora.

 

Giuseppe Nosiglia, arcebispo de Turim

Nem mesmo o sucesso midiático para a exposição do Sudário serviu para que o ex-colaborador de Ruini recebesse o cobiçado barrete vermelho. A decepção de Nosiglia é a mesma de Francesco Moraglia, o enésimo liguriano que Bertone colocou em Veneza. Ele é patriarca, não cardeal. O arcebispo de Ferrara, Luigi Negri, que vem de Cielle, não deve ser considerado um bergoglionano.

 

Antonio María Rouco Varela, ex-presidente dos bispos espanhóis

Um ano atrás, o cardeal renunciou ao governo pastoral de Madri. Francisco esperava isso há meses. Assim, encerrou-se a interminável temporada de Rouco Varela, próximo do Opus Dei.

 

Giuseppe Versaldi, prefeito para a Educação

O cardeal manejou o poder com as bênçãos de Bertone. Com um telefonema descoberto com o inquérito sobre o fracasso da Divina Providência, soube-se que Versaldi (investigado) mentiu para Bergoglio sobre 30 milhões de euros estatais destinados ao hospital Bambin Gesù e, talvez, desviados para o Istituto Dermopatico dell'Immacolata (IDI).

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