Hélder Câmara, ''o bispo dos pobres''

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06 Mai 2015

"É um dia de grande felicidade para todos. Estamos no tempo da Páscoa, período de alegria por excelência. Este ano, porém, a Páscoa é ainda mais alegre, porque damos início oficialmente ao processo de beatificação de Dom Hélder". Fernando Saburido, arcebispo de Olinda e Recife, iniciou assim, no domingo, a missa com que se deu início ao processo que poderia levar o antecessor, Hélder Câmara, aos altares.

A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada no jornal Avvenire, 05-05-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

A celebração – simples e participado, ao estilo do "dom" (título com que, no Brasil, são indicados os bispos) dos pobres – foi realizada na igreja do Santíssimo Salvador de Olinda. A mesma onde se encontra o túmulo de Dom Câmara. Um sepulcro humilde, como a casa de Recife onde o pastor morreu, no dia 27 de agosto de 15 anos atrás.

Ele tinha 90 anos de idade e, por mais de 68, como sacerdote e depois como bispo, tinha sido uma das vozes com maior força profética da Igreja brasileira. No entanto, em uma entrevista ao jornalista francês Roger Bourgenon, o próprio Dom Hélder tinha afirmado: "Ser um profeta não é uma missão rara. O Espírito chama a todos a sê-lo". Certamente, ler a realidade à luz do Evangelho nem sempre é fácil. Especialmente quando a história se torna tumultuada e fosca.

Câmara, depois de 12 anos como bispo auxiliar no Rio de Janeiro, foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife no dia 12 de março de 1964: 18 dias depois, os militares esmagaram com o seu punho de ferro as instituições democráticas, inaugurando uma ditadura que prolongaria por 21 anos.

A partir da chegada na arquidiocese – no dia 11 de abril – Dom Hélder se encontrou diante de uma população paralisada pelo medo. Uma pressão que, a partir daquele primeiro discurso, pronunciado de improviso no aeroporto, o novo arcebispo conseguiu atenuar com a força não violenta e libertadora da esperança. "Sou uma criatura humana que se considera irmão de graça e de pecado dos homens de todas as raças e línguas. Um cristão que se dirige a outros cristãos, mas com um coração aberto a todos os homens, de qualquer fé e ideologia. Um bispo da Igreja Católica que, à imitação de Cristo, não vem para ser servido, mas para servir", disse ele à multidão reunida debaixo da chuva para acolhê-lo. Uma síntese dos 20 anos de ministério posteriores à frente da arquidiocese.

Como notam os biógrafos, Dom Hélder não chegava a Olinda e Recife com um "programa" preciso. Ele só sabia que era necessário "desarmar os espíritos". E assim o fez. Mas não pregando a hipócrita tranquilidade do "não se envolver". Mas testemunhando a paz evangélica que denuncia a injustiça, mas recusa odiar o opressor. Uma escolha arriscada. Que custou ao arcebispo a hostilidade dos setores ultraconservadores e dos militares ao poder.

"O bispo vermelho", chamavam-no. Pouco importa que Dom Câmara se limitasse a seguir a linha indicada pelo Concílio Vaticano II – do qual tinha participado ativamente – e pelas conferências dos bispos latino-americanos de Medellín e de Puebla. A opção pelos pobres e a defesa dos direitos humanos eram sinônimo de subversão.

"A santidade consiste em saber enfrentar os desafios com fé. Dom Hélder fez isso maravilhosamente. Em particular, quando desenvolveu a teoria da não violência evangélica, que desarmou tantos ânimos", sublinhou José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, durante a missa de Olinda.

Como amigo pessoal de Câmara, Dom Pires foi a primeira testemunha a ser ouvida pelo tribunal de cinco membros, constituído formalmente no domingo. A este último caberá, agora, um longo processo de coleta e de análise das inúmeras testemunhas. Só no Estado de Pernambuco, onde se encontram Olinda e Recife – lembrou o arcebispo Saburido – serão ao menos 50. A estas, soma-se a vasta produção escrita pelo pequeno – mas apenas em estatura – Dom Hélder.

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