06 Março 2020
À medida que o Covid-19 se espalha pelo mundo, a doença está dominando tudo – até mesmo os assuntos da Igreja.
O comentário é de Robert Mickens, publicado por La Croix International, 05-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quando o Papa Francisco apareceu em público na Quarta-Feira de Cinzas com aquilo que parecia ser pelo menos um resfriado muito forte, muitas pessoas se perguntaram: “Ele pegou o vírus?”.
“Coronavírus? Existem vírus muito piores para se preocupar no Vaticano”, teria afirmado o papa de 83 anos a alguns assistentes nervosos.
Se ele realmente disse isso ou se é apenas uma lenda urbana, o ponto é claro: Francisco não está excessivamente preocupado com a sua saúde ou com a sua própria mortalidade. De fato, ele nunca esteve.
Mas muitas outras pessoas com certeza estão.
E quando o viram em uma tumultuada Praça de São Pedro para a sua Audiência geral semanal no primeiro dia da Quaresma, elas ficaram pensativas.
O atual coronavírus, conhecido como Covid-19, havia chegado à Itália – na verdade, em Roma – no fim de janeiro por meio de dois turistas chineses. E, na Quarta-Feira de Cinzas (26 de fevereiro), ele estava eclodindo em várias partes do norte da Itália.
As pessoas se perguntaram se era possível que o papa também estivesse infectado. Afinal, ele vê muitos visitantes de todo o mundo e aperta a mão de muitos deles.
E recentemente ele não ficou muito irritado com uma chinesa que puxou seu braço e só o soltou quando ele bateu na mão dela? (Não importa que o incidente não aconteceu recentemente, mas sim na véspera de Ano Novo...)
Mas, mais tarde, na Quarta-Feira de Cinzas, Francisco mostrou sinais ainda mais pronunciados de doença, incluindo tosse seca e coriza.
Não ajudou o fato de ele parecer estar extremamente cansado enquanto fazia os 500 metros de peregrinação penitencial da Igreja de Santo Anselmo à Basílica de Santa Sabina, no Monte Aventino.
Durante toda a missa na basílica do século V, a sua voz estava ainda mais rouca do que na Audiência geral. Ele não parecia bem.
No dia seguinte, ele cancelou uma série de compromissos importantes e realizou apenas reuniões menores em suas dependências na residência de Santa Marta.
Mas o Dicastério para as Comunicações do Vaticano não disse, então, se o papa estava infectado ou não com o coronavírus.
E não disse nada no domingo seguinte, mesmo depois de Francisco anunciar que um resfriado o estava forçando a não participar do retiro anual de Quaresma da Cúria Romana, de uma semana, ao sul da cidade.
As pessoas não estavam totalmente convencidas de que era apenas um resfriado. Muitas estavam desconfiadas e preocupadas.
“Ele pegou o vírus?”
Essa pergunta continuava surgindo em toda a Roma. As pessoas perguntavam isso nos cafés, nos restaurantes, nos ônibus e nas agências dos correios, enquanto esperavam para pagar suas contas e receber suas pensões.
Mais dois dias se passaram.
Então, na terça-feira, 3 de março, a Sala de Imprensa da Santa Sé finalmente esclareceu as coisas, anunciando que o papa estava com um resfriado e “sem sintomas relacionados a outras patologias”.
Enquanto isso, ao que parece, o mundo inteiro está subitamente sendo virado de cabeça para baixo pelos temores do Covid-19. O vírus se espalhou rapidamente nos últimos dias para todos os continentes do mundo.
Neste dia 5 de março, a Itália era o país mais afetado da Europa.
Foram relatados 3.089 casos de infecção e 107 mortes, a grande maioria delas em três regiões do norte do país.
Mas Roma é a porta de entrada para o sul e, até agora, registrou apenas alguns casos.
Os moradores locais tendem a encarar a epidemia como algo que não é uma ameaça séria. Muitos romanos acham que a mídia e o governo italiano exageraram os perigos para quem mora na Cidade Eterna.
Os turistas estrangeiros, no entanto, acataram os avisos e estão se mantendo longe. Aqueles que estiveram aqui antes já saíram da cidade, deixando as ruas e as lojas em grande parte desertas.
Se você caminhar por muitas áreas do centro histórico agora, terá a estranha sensação de que é um dia frio de agosto – o mês em que uma grande parte da população urbana desaparece, e o turismo diminui para quase nada.
O primeiro-ministro italiano assinou um decreto na noite do dia 4 de março, forçando todas as escolas e universidades a permanecerem fechadas até o dia 15 de março. As pessoas em Roma e em outros lugares onde os casos de infecção são relativamente poucos não estão felizes.
Os pais que trabalham estão se perguntando quem cuidará de seus filhos em casa. Alguns estão exigindo uma compensação do governo, somando-se a donos de lojas e àqueles que dependem dos turistas para ganhar a vida na demanda por assistência econômica.
A maior indignação veio dos torcedores de futebol, que provavelmente constituem mais da metade da nação, quando todos os jogos da liga principal foram adiados para meses depois.
O alvoroço forçou as autoridades a recuar e a permitir que os jogos em locais mais afetados pelo vírus sejam disputados em estádios vazios.
Enquanto isso, o governo obrigou as igrejas na maior parte do norte da Itália, incluindo santuários e paróquias católicas, a cancelarem qualquer liturgia ou rito durante a semana.
Até agora, não está claro se isso permitirá que os cristãos participem da Eucaristia dominical.
Como alguns outros já observaram, é comovente que o Covid-19 e todas as medidas excessivas que estamos sendo solicitados a adotar para impedir a sua propagação tenham nos visitado no início da Quaresma.
Este período de cinco semanas é marcado pela oração, pelo jejum e pela esmola. É uma temporada penitencial que geralmente implica fazer sacrifícios pessoais.
E é possível que, neste ano, teremos que gastar toda a Quaresma fazendo também sacrifícios comunitários que são necessários para conter – e, para alguns de nós, se recuperar – do coronavírus.
Felizmente, ele não é tão letal quanto a praga ou mesmo algumas outras epidemias do passado. Mas é bastante grave para as pessoas idosas e para aquelas que já estão com a saúde precária ou com certas condições médicas pré-existentes.
Então, realmente não se trata de uma brincadeira.
No entanto, diz-se que rir é o melhor remédio. E certamente todos ficaremos loucos se não tentarmos manter pelo menos algum senso de humor em meio a tudo isso.
Portanto, permitam-me dar alguns conselhos (que alguém me enviou) de alguns santos ilustres e até de alguns pecadores notórios.
- “Fique calmo e não perca a cabeça” (São João Batista).
- “Ainda não é o Apocalipse” (São João Evangelista).
- “Lave as mãos com frequência” (Pôncio Pilatos).
- “Evite abraços e beijos” (Judas).
- “Não toque em seus olhos, nariz, boca ou feridas” (São Tomé Apóstolo).
- “Animais de estimação não podem espalhar essa doença” (São Francisco de Assis).
- E, finalmente: “Evite ir à China” (Matteo Ricci).
Ah, e não se esqueça: se alguém da China tentar apertar a sua mão à força, chame o Papa Francisco!
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