01 Julho 2020
Alerta de cientistas chineses sobre nova gripe suína não precisa, por ora, provocar temor. Mas ajuda a compreender como a pecuária industrial favorece as pandemias. E mais: as corporações farmacêuticas especulam (muito!) com a covid-19.
A reportagem é de Maíra Mathias e Raquel Torres, publicada por Outras Palavras, 30-06-2020.
Um estudo publicado ontem no periódico Proceedings dof the National Academy of Sciences deixou muita gente de cabelo em pé. Não é para menos. Nele, cientistas chineses descrevem a descoberta de uma variante do vírus da gripe em porcos, com potencial para gerar uma pandemia. E o que poderia ser pior do que uma nova pandemia dentro da pandemia?
A identificação de patógenos em animais com potencial de infectar humanos não é nada rara. Centenas ou milhares de animais de criação são sacrificados cada vez que isso ocorre. Este ano mesmo, já durante a pandemia de covid-19, aconteceu na Alemanha e nas Filipinas, quando dois subtipos diferentes de gripe aviária foram encontrados em criações de frango e codorna, respectivamente.
Criações de porco são consideradas especialmente dignas de atenção porque os vírus podem saltar com relativa facilidade desses bichos para seres humanos – embora, depois disso, a transmissão entre humanos seja incomum. No estudo em questão, os cientistas analisaram porcos em matadouros de dez províncias chinesas entre 2011 e 2018 e encontraram 179 vírus da gripe suína; a partir disso, viram que a variação G4 EA H1N1 (um nome provisório) era cada vez mais comum, tornando-se dominante desde 2016. Trata-se de um rearranjo de três linhagens: uma semelhante às linhagens encontradas em aves europeias e asiáticas; o H1N1 que causou a pandemia de 2009 e matou pelo menos 18 mil pessoas; e um H1N1 norte-americano que tem genes de vírus influenza aviário, humano e suíno.
O que deixou os cientistas mais preocupados dessa vez é que o G4 já parece ter uma alta capacidade de infectar seres humanos. Sua estrutura molecular é parecida com a da variedade que causou a pandemia de 2009, e ele também foi capaz de infectar células humanas em laboratórios. Além disso, infectou bem furões, que têm padrão de vulnerabilidade similar ao de humanos. Mas a pior evidencia vem de que testes em 338 trabalhadores da indústria de carne suína: mostraram que 10% desses trabalhadores apresentaram anticorpos, já tendo sido portanto infectados. Além disso, a reportagem da Science reforça que o núcleo do G4 é um vírus da gripe aviária – para a qual qual os humanos não têm imunidade – com pedaços de cepas de mamíferos misturados.
Agora, vamos às boas notícias. Em sua conta to Twitter, a virologista Angela Rasmussen, da Universidade de Columbia, explica que para se tornar um patógeno humano (bem antes de gerar uma pandemia) um vírus precisa entrar nas células humanas, se reproduzir, se multiplicar, transmitir para outro hospedeiro e causar uma doença. O estudo chinês indica que o G4 pode entrar nas células, pode se reproduzir e se multiplicar. Mas ainda não há evidências de que passe de uma pessoa para outra, mesmo que esteja circulando desde 2016. E, pelo menos até agora, entre as pessoas infectadas não houve nenhum registro de alguém que tenha adoecido.
“A probabilidade de que essa variante em particular cause uma pandemia é baixa”, diz à Science Martha Nelson, bióloga que estuda os vírus da gripe suína nos Estados Unidos. Isso não significa que se deva baixar a guarda em relação a esse ou qualquer outro novo vírus ou variante. Ela observa que, no caso do H1N1, ninguém sabia de nada até os primeiros casos humanos aparecerem. “A gripe pode nos surpreender. E há o risco de negligenciarmos a gripe e outras ameaças no momento”, diz ela. Talvez o mais importante no estudo seja que ele dá tempo aos pesquisadores e autoridades para monitorar a situação de perto – uma necessidade apontada pelos próprios autores.
Angela Rasmussen também se posiciona nesse sentido. “Precisamos ficar de olho nisso, mas não devemos nos concentrar exclusivamente em nenhum vírus. Devemos nos preparar para qualquer tipo de pandemia de gripe emergente”, escreve a professora, completando: “Podemos intensificar os esforços de vigilância para ver se esse vírus parece estar se adaptando cada vez mais a hospedeiros humanos ou se relacionando com algum caso de doença grave. Podemos estudá-lo para ver o que pode aumentar sua capacidade de infectar, transmitir e causar doenças nas pessoas. O que não devemos fazer é ‘surtar’ e esperar que outra pandemia de gripe seja iminente. Devemos nos preparar para a pandemia de gripe que virá.”
Ontem, a Organização Mundial da Saúde anunciou que na semana que vem desembarca na China uma equipe de especialistas cuja missão será determinar a origem do novo coronavírus. “Poderemos combater melhor o vírus quando soubermos tudo sobre ele, incluindo como ele começou”, disse o diretor-geral, Tedros Adhanom Ghebreyesus. A investigação é resultado da pressão de vários países sobre a OMS, e foi decidida na resolução aprovada na última assembleia do organismo da ONU, realizada mês passado. Importante frisar que não tem a ver com teorias da conspiração que circulam nas redes sociais desde o início da pandemia sobre o vírus ter sido criado em laboratório.
Se a origem animal do vírus é um mistério, o futuro da pandemia é cada vez mais sombrio: “O pior está por vir”, declarou Tedros, lamentando: “Todos nós queremos que isso acabe. Todos queremos continuar com nossas vidas. Mas a dura realidade é que isso não está nem perto de terminar. Embora muitos países tenham feito algum progresso globalmente, a pandemia está realmente acelerando”.
Especialmente nas Américas, que nas palavras do diretor do programa de emergências, Michael Ryan, demandam “muita atenção e enfrentam desafios”. Ele voltou a comentar a situação do Brasil, dizendo que o país precisa focar nos locais densamente povoados, como favelas, e também nas áreas rurais, devido à interiorização do vírus. Além disso, faltam esforços no nível federal. “Em momentos como esses, em que temos que agir juntos, às vezes, em um nível de escolha individual, as pessoas não seriam governadas por quem não gostaríamos. Mas não vamos combater o vírus com ideologias”, criticou, em uma evidente indireta ao presidente Jair Bolsonaro.
O Peru encerra hoje sua quarentena. Depois de 107 dias, não se pode dizer que não houve algum esforço federal em prol do isolamento. Mas as evidências apontam para falta de sincronia entre ação e momento epidêmico. Trata-se do sexto país em número de casos confirmados (depois de ultrapassar a Espanha no último dia 19), e enfrenta um problema grande de abastecimento de cilindros de oxigênio, como já dissemos. A posição do governo não poderia ser mais avestruz: “Agora não estamos mais em um platô, estamos em franco declínio”, afirmou o ministro da Saúde Víctor Zamora ontem.
Encerramos com o resumo feito por Tedros ontem na coletiva da OMS: “Muitos países implementaram medidas nunca antes vistas para suprimir a transmissão e salvar vidas. Essas medidas tiveram sucesso, mas não interromperam completamente a doença. O vírus ainda tem muito espaço para se disseminar.”
“Vai ser tratado como uma gripe, como isso deveria ter sido tratado desde o início.” A frase é de Ibaneis Rocha (MDB), faz referência ao novo coronavírus e foi dita ontem, no mesmo dia em que o governador decretou estado de calamidade pública pela pandemia no Distrito Federal. Em entrevista ao Estadão, ele afirmou que “restrição não serve mais para nada”, pois se esgotou o “limite do isolamento” para a população. Ontem mesmo, clubes recreativos e times de futebol retomaram as atividades por lá.
Como o próprio governo admite, o decreto de calamidade não passa de uma formalidade para captar recursos federais, remanejar o orçamento e atrasar o pagamento de parcelas da dívida sem ser enquadrado pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
De domingo para ontem, a secretaria de Saúde confirmou 2.166 novos casos, num total de 47.071. Como 30.957 estão “recuperados”, conclui-se que existem 16,1 mil pessoas doentes no momento. O G1 descobriu que a pasta vem divulgando dados discrepantes em relação à ocupação de leitos de UTI na capital. Durante a manhã, os dados apontavam que 62,8% das vagas na rede pública estavam ocupadas. As informações internas, no entanto, indicavam que a taxa era de 94%. Desde o fim de semana, circula um áudio de WhatsApp gravado pelo gerente geral de assistência do Hospital de Base do Distrito Federal, Lucas Seixas Doca Júnior, em que ele afirma que a unidade havia atingido seu limite de uso dos ventiladores pulmonares. Após a divulgação do áudio pela imprensa, ele voltou atrás e disse que o governo do DF tem “o maior e mais bem estruturado plano de mitigação das mortes causadas pela covid-19″. Diante de tanta confusão, o Ministério Público do Distrito Federal apresentou um requerimento à Justiça pedindo mais transparência.
O caso do DF ilustra muito bem o caráter contraditório e descompassado da resposta brasileira à pandemia. O governo foi o primeiro do país a suspender as aulas e restringir aglomerações, em 11 de março. A quarentena durou 72 dias. Agora, quando a situação se agrava, Ibaneis Rocha afirma: “chegou minha hora de reabrir”. O governador aposta tudo na criação de mais leitos de tratamento intensivo (no domingo, tinha prometido cem para a próxima semana; número que ontem já passou a ser “mais de 200”). Ele anuncia que está estudando a reabertura total até o começo de agosto, mas ao mesmo tempo declara que a “pandemia é guerra”. Fica explicada a comparação quando ele emenda que “guerra se trata com general”, não medindo elogios ao titular interino da Saúde, Eduardo Pazuello: “Ele vai ser o maior ministro da história do Brasil”.
Enquanto isso, no mundo real, a Rede de Pesquisa Solidária, formada por mais de 50 pesquisadores que monitoram os dados da pandemia, constata: nenhum estado brasileiro poderia flexibilizar medidas de isolamento social se dependesse dos resultados dos (poucos) testes feitos na população. De acordo com a OMS, as autoridades de saúde podem pensar em flexibilização quando apenas 5% dos testes derem resultado positivo – e esse número precisa se manter estável durante duas semanas. Por aqui, a média de positividade foi de 36% em junho.
E duas a cada três pessoas acreditam que a situação da pandemia está piorando no país, segundo o Datafolha. O medo da doença está crescendo: passou de 36% em março para 47% em junho. E 52% dos brasileiros acreditam que governadores e prefeitos agem mal ao reabrir comércio e serviços.
Ontem de noite, tínhamos chegado aos 1.370.488 de casos conhecidos. No total, já são 58.385 óbitos oficiais. O país registrou mais de 25,2 mil casos e 700 mortes em menos de 24 horas.
Quem olha para esses números é a União Europeia, que reabre amanhã suas fronteiras – mas deixou de fora da lista o Brasil pela situação de controle da epidemia ser considerada “muito preocupante”. Também a China, que suspendeu a importação de três produtores de carne brasileiros e vem questionando o Ministério da Agricultura sobre a situação do contágio em frigoríficos por aqui.
Ontem, o Ministério da Saúde finalmente abriu os processos administrativos para a compra de medicamentos necessários ao atendimento nas UTIs, que faltam há semanas em quase todo o país. Conforme prometido, foi lançado um processo de compras internacional em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e aberto um pregão eletrônico nacional.
Contudo, a ação que deu o resultado mais rápido – e talvez possa ser considerada a mais ousada já tomada pela atual gestão da pasta – tenha sido a requisição administrativa desses remédios. Mas o secretário-executivo do Ministério, Élcio Franco, ressaltou que o governo federal só requisitou o que era considerado “excedente de produção” pelas farmacêuticas. Mesmo assim, é incrível como esse tipo de medida tem o condão de fazer aparecer remédios antes não encontrados pelos secretários estaduais. De acordo com Franco, 186 mil unidades de anestésicos e relaxantes musculares necessários à entubação de doentes já foram distribuídos para dez estados: Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo.
Mas notícia boa nesse governo é interlúdio: também ontem o Ministério apresentou um balanço de distribuição da cloroquina. Foram enviadas quase 4,4 milhões de comprimidos aos estados que solicitaram – o que não foi o caso de nenhum das regiões Sul e Sudeste do país. “A cloroquina é uma possibilidade que já se mostrou efetiva conforme as referências, inclusive na Índia tem sido bastante positivo o uso… Há evidências bastante consistentes de que tem sido efetivo o uso deste medicamento em associação com outros medicamentos”, insistiu Élcio Franco na coletiva de imprensa.
Além disso, ele resolveu dar asas à imaginação e afirmou aos jornalistas que o Albert Einstein havia soltado um “desmentido” sobre a orientação para que seus médicos não prescrevam cloroquina ou hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Horas depois, o hospital realmente soltou um desmentido, mas para rebater o próprio Franco e reafirmar seu protocolo contrário às substâncias, divulgado na última sexta-feira.
E o Tribunal de Contas da União foi provocado a investigar duas frentes envolvendo o Ministério da Saúde. Ontem, as bancadas do PT na Câmara e no Senado encaminharam um requerimento pedindo que o TCU audite a baixa execução de recursos previstos para o combate à covid-19. Semana passada, o general Pazuello admitiu ter gasto apenas 27% dos recursos.
Já o Ministério Público que atua dentro do próprio TCU pediu que os ministros acompanhem a parceria firmada entre o Ministério, a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford para o desenvolvimento da vacina da covid-19. A iniciativa partiu de Lucas Rocha Furtado, mesmo subprocurador-geral que pediu investigação sobre a insistência do governo federal na cloroquina.
Já falamos muito aqui sobre o remdesivir – medicamento que, segundo as pesquisas, é capaz de reduzir o tempo de internação por covid-19 – e sobre as especulações em torno do preço que a fabricante Gilead iria cobrar pelo remédio. Ontem, ela anunciou o valor. Salgado, como esperávamos: nos EUA, vai custar US$ 2.340 por cinco dias de tratamento; as seguradoras privadas, o Medicare e o Medicaid vão pagar 33% a mais, ou US$ 3.120.
“Esse preço está significativamente abaixo do valor que traz para os pacientes e para a sociedade. Não há dúvida disso em minha mente”, disse o CEO da Gilead, Daniel O’Day, ao STAT. Em carta aberta, ele escreveu que a economia com a alta hospitalar antecipada é de aproximadamente US$ 12 mil por pessoa, e que a empresa havia decidido praticar um preço mais baixo “para garantir acesso amplo e equitativo em um momento de necessidade global urgente”… Analistas de Wall Street também acharam barato. Esperavam que o tratamento custasse US$ 5 mil. Isso porque o remédio não cura a doença…
Por ora, o Brasil nem precisa se preocupar em como pagar pelo remédio, que até setembro só vai ser vendido para os EUA. Isso quer dizer que “os pacientes americanos receberão quase toda a produção da Gilead, mais de 500 mil tratamentos”, diz o New York Times. “O presidente Trump fez um acordo incrível para garantir que os americanos tenham acesso à primeira terapêutica autorizada para a covid-19″, disse Alex Azar, secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (e ex-lobista da indústria farmacêutica). Ontem mesmo, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, sublinhou que o medicamento “salva vidas”.
A Gilead já havia liberado que fabricantes de genéricos produzissem o remdesivir em 127 países de renda baixa ou média – lembramos que a empresa não incluiu o Brasil e quase nenhum vizinho da América do Sul nesse grupo. Dois países já começaram a produção e, segundo o UOL, estão vendendo cada tratamento por cerca de US$ 600. O site não especificou quais são.
Ontem o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que aguarda apenas o aval da Anvisa para iniciar “imediatamente” os ensaios clínicos com a vacina da empresa chinesa Sinovac, que serão feitos pelo Instituto Butantan. “São nove mil voluntários já cadastrados e nós estamos apenas aguardando a autorização da Anvisa. E volto a repetir: tenho certeza de que a Anvisa o fará esta semana”, garantiu.
Mas a matéria do Estadão explica que as coisas não funcionam bem assim. Depois que a Agência liberar o começo do estudo, o programa da testagem ainda precisa passar por um conselho ético, que vai validar a metodologia. Em seguida, o Butantan vai definir quais dos seus centros parceiros farão os testes. Segundo o Instituto, os voluntários ainda não estão determinados, só os critérios para recrutamento. Além disso, as doses da possível vacina chinesa ainda não chegaram ao estado.
A propósito: o Exército chinês autorizou o uso militar de uma vacina experimental contra o novo coronavírus criada por um instituto de pesquisa militar e uma empresa farmacêutica. Não é a mesma vacina que será testada em São Paulo. E se trata de uma liberação apenas para uso das Forças Armadas, durante um ano.
Entre dois terços e três quartos dos pacientes com coronavírus nas UTIs apresentam delirium, segundo relatórios de hospitais e pesquisadores. Esse é um fenômeno observado com relativa frequência em pacientes idosos (alguns já com sinais prévios de demência) desde muito antes da pandemia, mas agora parece estar afetando pacientes de todas as idades, com ou sem comprometimento cognitivo anterior. Podem acontecer alucinações e agitações paranoicas, visões confusas que deixam os doentes retraídos e incomunicativos, ou então tudo isso junto. Mas o pior é que, depois que saem do hospital, essas pessoas podem enfrentar consequências por muito tempo, inclusive depressão e estresse pós-traumático.
A condição não é exatamente uma consequência da ação do vírus no organismo. A infecção pode, sim ser um fator, devido aos efeitos neurológicos que o coronavírus pode provocar; além disso, a baixa oxigenação pode afetar outros órgãos, como rins e fígado, levando ao acúmulo de substâncias que induzem o delirium. Mas há outros ingredientes que aumentam as chances de as alucinações aparecerem, como longos períodos em ventiladores, sedativos pesados, sono ruim e o isolamento, sem interações sociais. A reportagem do New York Times traz relatos de vários pacientes que passaram por isso e suas falas impressionam.
“Vi pessoas deitadas no chão como se estivessem mortas na UTI”, diz Anatolio José Rios, que passou quatro dias entubado. Ele achava que as pessoas no corredor do lado de fora estavam armadas, ameaçando-o. “’Doutor, você vê isso? Eles querem me matar”, dizia aos médicos. Kim Victory se sentiu queimada viva, depois transformada em escultura de gelo, depois sendo alvo de experimentos de laboratório… As alucinações eram tão pesadas que ela chegou a puxar o tubo do respirador que a mantinha viva, embora não se lembre disso. Em outra ocasião, caiu no chão da UTI. Dois meses depois de voltar para casa, ainda tem depressão e insônia, faz terapia e tratamento com remédios psiquiátricos.
Desde ontem, os planos e seguros de saúde são obrigados a cobrir testes sorológicos para o novo coronavírus. O procedimento entrou para o rol dos obrigatórios não por obra da própria Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), mas pela via da judicialização. A Associação de Defesa dos Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde conseguiu uma decisão liminar – para cumpri-la, a ANS publicou a regra. A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) ressalta justamente o caráter provisório da determinação, que pode ser derrubada na Justiça. Ao Globo, a ANS não respondeu se pretende recorrer.
Ontem, o Ministério da Economia divulgou novos números sobre o desemprego: foram fechadas 1,4 milhão de vagas no mercado formal desde o início da pandemia – 331,9 mil postos apenas em maio. O governo também anunciou que, no mês passado, foi registrado um déficit de R$ 126,6 bilhões no Tesouro Nacional – o pior da série histórica iniciada em 1997.
Mas, ao contrário da narrativa da equipe econômica que joga toda a culpa na pandemia, um comitê da Fundação Getúlio Vargas afirma que o país entrou 2020 em desaceleração econômica. “Em janeiro, o panorama já não era favorável”, identificou João Victor Issler, professor da FGV, ao Globo. É claro que o novo coronavírus deu o empurrão: segundo o estudo, bastaram 15 dias de quarentena em março para o Brasil entrar em recessão. A queda foi de 1,5% no primeiro trimestre.
Enquanto o governo não envia a sua proposta de prorrogação do auxílio emergencial ao Congresso, surgem mais dados sobre gente que nem chegou a receber ainda. Um levantamento do Instituto Data Favela aponta que 41% das famílias que moram nessas comunidades não conseguiram receber nenhuma parcela, apesar de terem solicitado o benefício. A pesquisa realizou 3.321 entrevistas em 239 favelas de todos os estados brasileiros entre os dias 19 e 22 de junho.
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Outro vírus pode saltar para os humanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU