Equidade de gênero: a religiosidade como caminho para igualdade. Debate com Antje Jackelén, arcebispa primaz da Igreja Luterana da Suécia

Steam Face | Arte: Alan/Flickr CC

Por: João Vitor Santos | 13 Outubro 2019

Como avivar narrativas possibilitadoras e dispostas à construção de um espaço de diálogo pautado no lugar social, partindo da existência da liberdade de pensamento? É possível pensar possíveis ações provenientes da articulação entre comunidades religiosas e grupos étnicos e nacionais, de acordo com as prerrogativas constitucionais? Esses questionamentos emergem há séculos no âmbito das religiões. No entanto, diferentes experiências culturais desenvolvem múltiplas respostas.

Com o objetivo de promover o debate de equidade de gênero, desde a perspectiva da religiosidade, o Programa em Pós-Graduação em Direito da Unisinos, em parceria com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU, promove o evento Diálogos e diversidade: o papel da religiosidade na equidade de gênero e proteção cultural dos povos tradicionais no próximo dia 15 de outubro, às 8h, no Teatro Unisinos, no campus da universidade em Porto Alegre.

Antje Jackelén: "Minha experiência teria sido diferente se me chamasse Anthony. A igualdade avançou, mas ainda há trabalho a fazer”

(Foto: WikimediaCommuns)

A conferência central será com Antje Jackelén, arcebispa primaz da Igreja Luterana da Suécia, líder de uma Igreja com cerca de seis milhões fiéis na Suécia e reconhecida como defensora dos direitos das mulheres na busca pela equidade de gênero. “O primeiro de tudo é que sou teóloga, líder da Igreja. Fui durante toda a minha vida uma mulher e ocupei postos em áreas tradicionalmente dominadas pelos homens”, observou, em entrevista publicada pelo jornal El País em dezembro do ano passado. Para ela, no campo religioso, como em qualquer outro aspecto da vida, já se avançou muito em termos de igualdade de gênero, mas o que não significa que já se tenha chegado no ideal. “Minha experiência teria sido diferente se me chamasse Anthony. A igualdade avançou, mas ainda há trabalho a fazer”, destacou, na mesma entrevista.

O evento na Unisinos Porto Alegre é gratuito e haverá tradução simultânea. A conferência será transmitida ao vivo pelo canal do YouTube do IHU. Interessados podem fazer uma pré-inscrição através do e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. O credenciamento para o evento inicia às 8 horas, no dia 15 de outubro. A conferência de Jackelén será às 9h.

Multiplicidade cultural na busca por igualdades

Nascida na Alemanha, país em que começou seus estudos de Teologia, Jackelén foi ordenada na Suécia, em 1980, e desde 2007 atuava como bispa de Lund, posição que manteve até assumir seu novo cargo em junho de 2014. Em 2016, ela esteve com o papa Francisco, num encontro em que arestas históricas foram aparadas. “O encontro de Lund foi um encontro global entre católicos e luteranos. Como luteranos, temos motivo para refletir de maneira autocrítica sobre como podemos contar a história da Reforma, com respeito recíproco, espírito de responsabilidade ecumênica, consciência global e vontade constante de fazer com que a reforma ocorra”, escreveu, em artigo publicado no jornal L'Osservatore Romano e reproduzido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, em outubro de 2016.

E não é por acaso que essas arestas históricas são aparadas, pois católicos, luteranos, ortodoxos, além de crentes e religiosos de outras vertentes têm unido esforços para um mundo mais igual. Por isso passam as discussões de causas comuns, como os direitos das mulheres e também a preservação do planeta. “Devemos escolher a vida. Dar à Terra a oportunidade de se curar, para que possa continuar provendo a nós e para que as pessoas possam viver em um mundo caracterizado pela equidade, justiça e liberdade”, escreveu Jackelén, juntamente com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, no início desse mês, quando ele recebeu a Placa de St Erik pelo seu compromisso com a liberdade religiosa, os direitos humanos e o cuidado com a criação. A distinção é concedida pela Igreja da Suécia.

 

Na atividade “Diálogos de Diversidade”, o objetivo também é promover essa abertura com um debate multicultural. A primeira mesa de discussões inicia às 8h30min, com Prof. Dr. Marcelo Fernandes de Aquino, reitor da Unisinos, Peter Johansson, cônsul da Suécia em São Paulo, Mariana Ferreira dos Santos, representante da ONG Mulheres do Brasil e a Profa. Dra. Fernanda Frizzo Bragato, coordenadora do PPG em Direito da Unisinos.

Mais tarde, depois da fala da arcebispa, às 9h30min uma nova mesa de debates se organiza, com o tema “Diálogo inter-religioso e diversidade” e participação da ialorixá Sandrali Bueno, a indígena Kambeba Márcia Wayna Kambeba, a pastora luterana e secretária executiva da Fundação Luterana de Diaconia Cibele Kuss e Cleusa Maria Andreatta, teóloga, professora da Unisinos e integrante do programa Teologia Pública do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

As atividades se encerram às 11h15min com o lançamento e assinatura do Pacto do Sistema de Justiça pela Proteção Ambiental e Cultural dos Povos e Comunidades Tradicionais.

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