Dupla tempestade sobre o IOR

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Por: André | 04 Julho 2013

Não apenas pelas renúncias de seus dois diretores maiores, mas também pelas revelações sobre o novo “prelado” nomeado por Francisco. Ao tomar conhecimento, o Papa poderia revogar rapidamente a nomeação.

A reportagem é de Sandro Magister e publicada no sítio Chiesa.it, 03-07-2013. A tradução é do Cepat.

Desde o dia 1º de julho, o Instituto para as Obras de Religião, o IOR, está no centro de uma dupla tempestade.

Dupla, porque é constituída não apenas pelas renúncias do diretor-geral e do vice-diretor do controvertido “banco” vaticano, Paolo Cipriani e Massimo Tulli, respectivamente, mas também por outro escândalo a ponto de explodir, que envolve o “prelado” do próprio IOR, mons. Battista Ricca, recentemente nomeado pelo Papa Francisco.

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No que se refere às renúncias dos dois maiores dirigentes operacionais do IOR, no comunicado que deu a notícia na tarde da segunda-feira, 01 de julho, se pode ler que “depois de muitos anos de serviços, ambos decidiram que esta ação seria do interesse do próprio Instituto e da Santa Sé”.

O presidente do IOR, Ernst von Freyberg – que até o final havia expressado confiança nos dois e afirmou que “trabalha com eles de uma forma verdadeira feliz” –, ficou encarregado de “assumir ‘ad interim’ as funções de diretor-geral”.

Freyberg exercerá este papel provisório com a ajuda de duas pessoas escolhidas por ele mesmo: uma é Rolando Marranci, na qualidade de vice-diretor, e a segunda é Antonio Montaresi, como Chief Risk Officer.

Mas houve o anúncio de que está em curso a busca de um novo diretor-geral e de um novo vice-diretor. Embora Freyberg busque agora distanciar-se das gestões de Cipriani e Tulli, seu futuro como presidente também parece incerto.

O golpe final – mas apenas o último de uma série – que induziu os dois a renunciar foi a prisão, no final de junho, de mons. Nunzio Scarano, até o mês de maio contador responsável pela Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA) e exonerado deste cargo depois que começara uma investigação judicial contra ele, por parte da justiça italiana, por tráfico ilícito de dinheiro através de contas do IOR, comportando movimentos de fundos importantes e suspeitos, autorizados pelos máximos dirigentes do Instituto, justamente no momento em que o Vaticano se havia comprometido a se adequar às leis internacionais contra a lavagem de dinheiro.

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Em relação ao escândalo que está a ponto de explodir e que envolve o novo “prelado” do IOR, deve-se dizer que o primeiro a se sentir ferido – já desde agora – é precisamente o Papa Francisco.

Jorge Mario Bergoglio nomeou, no dia 15 de junho passado, mons. Battista Ricca, de 57 anos de idade, “prelado” do IOR exatamente para colocar dentro do Instituto uma pessoa de absoluta confiança em um papel chave. Teria o poder que lhe concedem os estatutos de ter acesso a todas as ações e aos documentos e de participar das reuniões, tanto da Comissão Cardinalícia de Vigilância, como do Conselho de Superintendência, ou seja, da junta do “banco” vaticano.

Ricca presta serviços diplomáticos na Secretaria de Estado. Mas ganhou a confiança do Papa graças sobretudo às relações de familiaridade estabelecidas com ele como diretor da Domuns Sanctae Marthae – onde Francisco decidiu morar – e de outras duas residências para sacerdotes e bispos que passam por Roma, entre elas a da via della Scrofa na qual Bergoglio costumava se hospedar quando era cardeal.

Ao ser anunciada a sua nomeação como “prelado” do IOR, a imprensa de todo o mundo concordou em fazê-la emanar pessoalmente do Papa e em atribuir ao personagem uma fama de “incorruptível”, de homem adequado para “fazer a limpeza”.

Mas, no transcurso de sua carreira diplomática, quando estava em serviço no exterior, Ricca deixou atrás de si rastros que dizem o contrário.

Após ter prestado serviços por cerca de uma década no Congo, na Argélia, na Colômbia e na Suíça, no final de 1999 estava trabalhando no Uruguai com o núncio Janusz Bolenek, polonês, hoje representante pontifício na Bulgária. Mas esteve ao seu lado pouco mais de um ano. Em 2001, Ricca foi transferido para a nunciatura de Trinidad y Tobago, para ser chamado depois ao Vaticano.

O buraco negro, na história pessoal de Ricca, é do ano em que passou em Montevidéu, na margem norte do Rio da Prata, de frente para Buenos Aires.

O que provocou a ruptura com o núncio Bolonek e sua brusca transferência se resume a duas expressões utilizadas por quem indagou confidencialmente, no Uruguai, sobre o caso: “poder rosa” e “conduta escandalosa”.

O Papa Francisco desconhecia completamente estes antecedentes, quando nomeou Ricca prelado do IOR.

Mas, na segunda metade de junho, com todos os núncios reunidos em Roma e que se encontraram com ele pessoalmente – também durante o concerto em sua honra do qual não participou, no dia 22 desse mês – convenceu-se, graças não a uma, mas a muitas fontes conclusivas, de que havia posto sua confiança na pessoa equivocada.

Tristeza, reconhecimento em relação a quem lhe abriu os olhos, e vontade de reparação: estes são os sentimentos expressados de viva voz pelo Papa nas suas conversas.

Ricca, a par de tudo o que se diz sobre ele no Uruguai, pediu – e obteve – um encontro com o Francisco para se defender e acusar.

Mas o Papa parece estar decidido a agir baseado nas informações recebidas. Talvez mais rapidamente do que o previsto, porque no Uruguai o escândalo parece próximo de explodir publicamente.

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