07 Julho 2025
Após tentativas de reverter decisão da Justiça, Exército acelera alistamento de grupo antes beneficiado por isenção histórica. Medida abala coalizão de Benjamin Netanyahu.
A reportagem é publicada por DW, 06-07-2025.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram neste domingo (06/07) que começarão a convocar 54 mil homens judeus ultraortodoxos que antes estavam isentos do serviço militar. A medida ameaça desestabilizar a coalizão governista do premiê Benjamin Netanyahu.
"O Exército começará nesta semana a emitir convocações para completar o processo de alistamento de homens ultraortodoxos cuja condição de estudantes de yeshivá (seminário religioso) não é mais válida após a expiração do antigo arranjo legal", disseram os militares em nota.
"Os avisos de alistamento serão enviados em ondas ao longo do mês de julho, totalizando 54 mil convocações", completou. O chamado atende a uma decisão da Suprema Corte, de junho de 2024, que determinou o alistamento obrigatório desse grupo devido ao término de uma regra temporária que permitia a dispensa do serviço militar.
Desde então, as Forças de Defesa de Israel vinham chamando pequenos grupos de judeus ultraortodoxos enquanto o governo buscava uma alternativa para reverter a regra no Parlamento por meio de um projeto de lei. No entanto, a crescente pressão do Judiciário para o cumprimento da decisão acabou acelerando o recrutamento.
O serviço militar é obrigatório para a maioria dos judeus israelenses a partir dos 18 anos, com duração de 24 a 32 meses. No entanto, os ultraortodoxos possuem o direito de não servir desde a fundação do Estado de Israel, em 1948, desde que se dediquem exclusivamente aos estudos religiosos.
Esse status especial tem sido questionado pela Suprema Corte do país desde o início dos anos 2000, forçando sucessivos governos a criar soluções jurídicas temporárias para manter a dispensa.
Mas o privilégio vem se tornando cada vez mais impopular entre outras partes da sociedade israelense. A controvérsia também ganha força à medida que as FDI enfrentam crescentes desafios operacionais, com confrontos simultâneos contra o Hamas em Gaza, o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen e o Irã.
Com o vencimento das últimas normas legais que garantiam a isenção, e sem acordo no Parlamento para uma nova lei, as FDI se viram obrigadas a cumprir a decisão.
O alistamento dos judeus ultraortodoxos é um dos temas mais polêmicos para o governo de Benjamin Netanyahu.
Formada em dezembro de 2022, a coalizão de governo depende da aliança entre o partido de direita Likud, de Netanyahu, e legendas ultraconservadoras e ultraortodoxas. Elas têm pressionado o primeiro-ministro a manter o benefício para os chamados Haredim ("tementes a Deus", em hebraico).
No mês passado, os partidos ultraortodoxos quase votaram contra o governo em uma moção de desconfiança contra Netanyahu, mas um acordo de última hora sobre o tema evitou o colapso da coalizão. O premiê se manteve no poder por uma margem de 61 votos a 53.
As duas bancadas compostas por ultraortodoxos que integram o governo ameaçaram retirar apoio devido à lentidão na aprovação do projeto de lei que dispensaria os religiosos que estudam em tempo integral. Os líderes dizem que judeus ultraortodoxos terão sua identidade religiosa comprometida se servirem ao lado de israelenses seculares.
"O Exército continuará seus esforços para aumentar o alistamento entre os ultraortodoxos, ao mesmo tempo em que busca garantir as melhores condições possíveis que respeitem seu modo de vida único", disseram as FDI, em nota.
Os judeus ultraortodoxos representam cerca de 14% da população judaica de Israel, aproximadamente 1,3 milhão de pessoas. Cerca de 66 mil homens em idade militar ainda usufruem da isenção.