Inteligência Artificial será um dos focos de debates ao longo do ano no IHU

Foto: PxHere

23 Janeiro 2023

As semanas finais de 2022 foram marcadas, entre outras efemérides, pela socialização da ferramenta de inteligência artificial ChatGPT para o grande público. Ela pode ser utilizada por qualquer pessoa com acesso à internet através do site da Open AI, instituição desenvolvedora de diversos dispositivos de inteligência artificial que tem como objetivo principal tornar esta tecnologia – a inteligência artificial – acessível e “amigável” para a população, além de promover a arquitetura de novas pontes de interação entre distintas instituições, públicas e privadas.

O texto é de Guilherme Tenher Rodrigues, graduado no Curso de Economia da da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos e mestrando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Trabalha no Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

O ChatGPT possibilita que o usuário interaja de forma conversacional com o software que responde praticamente todos os questionamentos levantados e elabora de forma satisfatória – e inédita – textos com surpreendente coerência em torno de basicamente qualquer assunto, sistematizando e conectando diferentes fontes, temas e áreas do conhecimento. Esta ferramenta é, por assim dizer, uma enciclopédia digitalmente interativa e, para os mais afeitos à imaginação, uma premissa da Psico-história, ciência idealizada nas ficções especulativas de Isaac Asimov. É inevitável mencionar que entusiasmo e o receio em torno deste dispositivo voltaram a preencher o imaginário das populações com relação ao presente e ao futuro da tecnologia, sobretudo da inteligência artificial.

A inteligência artificial (IA), desde o seu surgimento na literatura ficcional, sempre provocou profundos debates transversais sobre a nossa condição como humanos. O que ela é; quais são seus usos; o que ela pode se tornar; o futuro será moldado por ela ou não; como as sociedades se organizarão em torno dela; o desenvolvimento tecnológico inexoravelmente desembocará neste tipo de ferramenta; qual o papel das companhias de tecnologia e do Estado frente aos avanços da IA; como ela transformará o mercado, a geopolítica, as políticas públicas e ambientais, etc.; são alguns exemplos de indagações que ganham força dialógica quando ferramentas como a ChatGPT surgem como uma alternativa mediadora das relações culturais, políticas e socioeconômicas contemporâneas.

Afinal, a IA tal como presenciada no nosso cotidiano – através de algoritmos, Big Data, aplicativos, plataformas digitais de trabalho, redes sociais e de entretenimento, por exemplo – não pode ser compreendida como uma presença a-histórica. Ela surgiu de/em um determinado contexto espaço-temporal caracterizado por processos de modernização, globalização e organização mercadológica da tecnologia, ou melhor, da técnica, caso desejarmos dilatar o foco da análise.

Neste enquadramento, a artificialização, segundo o filósofo Hilan Bensusan, é uma característica fundamental para entendermos o pensamento ocidental com relação à técnica. E esta qualificação nos “brindou” com determinadas heranças, uma delas é a nossa capacidade de organização material e institucional com vistas à perpetuação das nossas crias maquínicas.

Destarte, a artificialização da inteligência, isto é, este esforço mental e físico que alcança, com seus sucessos e óbices, o transplante ou simulacro de algumas características humanas em máquinas, pode ser interpretado como uma das manifestações da nossa capacidade técnica forjada em um determinado desenvolvimento material(ista): o ocidental, em especial, o moderno.

Bensusan alerta que “quando criamos o mundo das máquinas – como parece que estamos fazendo –, a relação dessas máquinas com a Terra é muito diferente. Ou seja, a Terra vai se tornar um habitat para essas máquinas. É mais ou menos o que fazemos com as crias [tecnológicas]: produzimos um mundo cada vez mais satisfatório e adequado para elas. Criamos nichos para elas, criamos facilidades para seu conforto e segurança. Parece que é isso que temos feito para as nossas máquinas. Isso significa, talvez, deixar de lado a Terra como lugar da nossa ancestralidade, que é, estranhamente, também a ancestralidade dessas máquinas, afinal, elas foram geradas por nós e para a nossa ascendência. Nós somos os mediadores entre a Terra e as máquinas”.

Atento às céleres mudanças societárias do início do século XXI e com vistas a dar conta das demandas que estas transformações causam, o Instituto Humanitas Unisinos – IHU convida a todos, a todas e a todes a participar do Ciclo de Estudos Inteligência Artificial, fronteiras tecnológicas e devires humanos, cujo principal objetivo é debater, de forma transdisciplinar, os limites e possibilidades práticos e teóricos envolvendo a Inteligência Artificial a partir dos mais recentes desdobramentos tecnológicos, éticos, sociais, climáticos e geopolíticos globais.

Para tanto, o evento contará com conferencistas que abordarão a IA por diferentes ângulos, como é o caso dos estudos sobre a transferência de inteligência, consciência e senciência para sistemas autônomos, ou mesmo a utilização de tecnologia para fins militares, demais estratégias de guerra ou para fenômenos socioambientais da mutação climática, bem como a nova fronteira da existência humana e criação de mundos por meio das tecnologias imersivas, a exemplo do metaverso. São exposições com o objetivo de expandir e aprofundar o debate sobre as difusas margens entre a máquina e o humano.

Dentre os conferencistas, destacamos aqui nossos primeiros confirmados:

Prof. Dr. João Cortese

Doutor em Epistemologia e História da Ciência pela Université de Paris 7 e doutor em Filosofia pela USP (cotutela). Possui graduação em Ciências Moleculares pela USP e mestrado em História e Filosofia da Ciência pela Université de Paris 7. Pesquisador associado ao Laboratório SPHERE (Université Paris Cité e CNRS) e pesquisador do Núcleo de Bioética do Instituto PENSI / FJLES.

Imagem: João Cortese | YouTube

Leciona no Instituto de Biociências da USP, no Ibmec-SP e na Faculdade Paulo VI. Membro do Gnómon - Grupo de Ciências e Matemáticas gregas da Areté (Centro de Estudos Helênicos), do Núcleo de Estratégias em Planejamento Experimental e Reprodutibilidade (NEPER), da Association for the Philosophy of Mathematical Practice e da Sociedade Brasileira de História da Matemática. Membro do comitê científico do Courrier du Centre International Blaise Pascal. Trabalha nas áreas de história e filosofia da matemática; ética da inteligência artificial; história e filosofia da biologia; bioética.

Cortese proferirá uma conferência sobre Inteligência Artificial e as noções de interação, indistinguibilidade e alteridade. Ele questiona: “como devemos agir diante de inteligências artificiais ou de robôs que viriam a ser indistinguíveis de um ser humano?

Segundo ele, “o problema se insere no domínio de uma ética da tecnologia em relação ao homem, e algumas questões básicas devem ser levantadas. Pode-se pleitear que a IA sirva para investigar a inteligência humana. Mas, neste caso, deve-se precisar se o que se pretende investigar são os efeitos dessa inteligência ou sua ontologia. A questão é: afinal, o que está sendo comparado entre a inteligência humana e a IA? Não tratarei aqui da questão de fato de se um computador pode hoje se passar por um humano. Minha questão é sobre o estatuto ético de uma máquina caso isso ocorra: podemos tomar como equivalentes a indiscernibilidade pela interação e a constituição de um agente autônomo que teria, enquanto tal, um estatuto ético intrínseco? Trata-se, portanto, de colocar uma questão sobre a ontologia dos agentes éticos”.

Prof. Dr. Sergio Marconi

Possui pós-douturado em Recursos Florestais e Conservação. Seu interesse científico se concentra em entender a relação entre diferentes atributos de plantas e a biogeografia dos táxons, e como essas relações se propagam na função do ecossistema e na biogeoquímica. Para fazer isso, ele usa visão computacional, técnicas de modelagem estatística determinística e multinível, para integrar informações ecológicas de sensoriamento remoto e levantamentos de campo em várias escalas.

Imagem: Sergio Marconi | Universidade da Flórida

A pesquisa atual de Marconi concentra-se em: 1º - derivar grandes conjuntos de dados de espécies, folhas e traços estruturais para árvores individuais em grande escala; 2º - abordar o efeito do ambiente na diversidade funcional e de espécies em escalas; 3º - entender melhor a ligação entre função da floresta e montagem da comunidade, e como essa ligação impacta o ciclo de carbono das florestas.

Marconi proferirá uma webconferência sobre Usos da Inteligência Artificial no Novo Regime Climático. Desafios, limites e possibilidades.

Prof. Dr. Sylvain Lavelle

Doutor em filosofia (Paris-Sorbonne). Atua como professor de filosofia no ICAM Paris-Sénart e diretor do Centro de Ética, Técnica e Sociedade do ICAM. Também é investigador associado a um laboratório da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (GSPR) e membro da comissão científica da revista Philosophy and Technology. Além disso, é membro da comissão editorial da a revista Participações e do conselho científico do GIS "Participação, decisão democracia participativa".

Imagem: Sylvain Lavelle | Centre Sèvres Paris 

Lavelle proferirá a conferência intitulada A humanidade das máquinas. Da inteligência artificial à senciência artificial.

A programação completa e a inscrição do Ciclo de Estudos Inteligência Artificial, fronteiras tecnológicas e devires humanos pode ser acessada aqui.

Será fornecido certificado a todos(as) que fizerem a inscrição e no dia do evento assinarem a presença, por meio do formulário (forms) disponibilizado no chat durante o evento. Os certificados estarão disponíveis até 30 dias após o término do evento, no portal Minha Unisinos.

O evento é aberto ao público para assistir na Página inicial IHU, YouTube, Facebook e Twitter. Não é necessária inscrição para acompanhar a transmissão.

 

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