16 Abril 2020
Em atenção à solicitação da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, que pediu informações ao Poder Executivo da União sobre os efeitos da Emenda Constitucional (EC) 95/2016 sobre as necessidades decorrentes da pandemia de Covid-19, as entidades integrantes do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira enviaram carta à magistrada na segunda-feira, 13 de abril.
A reportagem é publicada por Associação Brasileira de Saúde Coletiva - Abrasco, 14-04-2020.
Na missiva, os presidentes da entidades Gulnar Azevedo e Silva, Erika Aragão, Tulio Franco, Lucia Souto e Dirceu Grecco reforçam os argumentos apresentados pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS) em documento encaminhado à Advocacia-Geral da União (OFÍCIO Nº 318/2020/SECNS/MS), acerca dos efeitos da Emenda Constitucional 95, que instituiu o teto dos gastos públicos da União levando a uma política de desfinanciamento do SUS na ordem de R$ 22,5 bilhões nos últimos três anos, devido à mudança nos cálculos do piso federal à área da saúde.
Ao final da carta, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco); a Associação Brasileira de Economia de Saúde (ABrES); a Associação Brasileira Rede Unida (REDE UNIDA); o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (CEBES), e a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) apelam para que Supremo Tribunal Federal se some às vozes da sociedade brasileira garantindo que todas as medidas necessárias para dirimir a crise sanitária impingida pelo novo coronavírus – SARS-CoV2. “Neste momento a prioridade é salvar vidas”, concluem as entidades.
Confira o conteúdo da carta abaixo e acesse aqui o o documento enviado:
Carta à Ministra Rosa Weber
No início de abril deste ano, o Conselho Nacional de Saúde encaminhou à Advocacia-Geral da União informações acerca dos efeitos da Emenda Constitucional 95 sobre o financiamento do SUS na perspectiva de enfrentamento da pandemia pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
Esse documento teve por objetivo atender à solicitação da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, que pediu informações aos Ministérios da Saúde e da Economia, à Secretaria do Tesouro Nacional e ao Conselho Nacional de Saúde.
Nossas entidades, comprometidas com a defesa do direito universal à saúde, reforçam os argumentos apresentados pelo Conselho, que denuncia as perdas de recursos financeiros do SUS, a partir da introdução da EC 95 em 2018, que mudou o cálculo do piso federal em saúde.
Essa política de austeridade fiscal fragiliza a prevenção e o controle da epidemia e será responsável pelo aumento da taxa de mortalidade da população brasileira: em apenas três anos de vigência da nova regra, a EC 95 retirou R$ 22,5 bilhões do SUS.
Apesar da subnotificação, a fase de crescimento rápido da pandemia no Brasil está começando em algumas cidades brasileiras com potencial de espalhamento para o resto do país. Estima-se que o aumento descontrolado de casos deve ocorrer agora entre os meses de abril e maio, o que demandará uma resposta rápida e articulada do sistema de saúde no nível federal, estadual e municipal. Essa situação exige a aplicação imediata de dinheiro novo no SUS, que poderia ser financiado com a venda de títulos públicos, emissão de moeda e/ou utilização de parte do superávit financeiro da Conta Única do Tesouro Nacional.
Nos marcos constitucionais, cabe ao Supremo Tribunal Federal contribuir para combater objetivamente a COVID-19, a um só tempo, revogando o teto de gastos e preservando a estabilidade democrática do país, uma vez que estamos na contramão do que orientam as autoridades governamentais em todo mundo – que buscam estabelecer políticas de fortalecimento dos sistemas de saúde, de um lado, e de suporte à economia, de outro. O atraso de repasse dos recursos, de um lado, para as famílias, e de outro, para os estados e municípios, bem como o discurso irresponsável do Presidente da República contra o isolamento social e a quarentena, que nos colocam diante da possibilidade da anomia política, do abismo econômico e do caos social.
Apelamos para que este Tribunal se some às vozes da sociedade brasileira garantindo que todas as medidas necessárias para dirimir a tão grave crise sanitária sejam seguidas conforme os termos de nossa Constituição de 1988 que assegura o direito universal à saúde. Neste momento a prioridade é salvar vidas.
Rio de Janeiro, 13 de abril de 2020.
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO
Associação Brasileira de Economia e Saúde – ABrES
Associação Brasileira Rede Unida – REDE UNIDA
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde – CEBES
Sociedade Brasileira de Bioética – SBB
Leia mais
- Planos de saúde e o SUS. Uma relação predatória. Revista IHU On-Line, Nº. 541
 - Sistema público e universal de saúde – Aos 30 anos, o desafio de combater o desmonte do SUS. Revista IHU On-Line, Nº. 526
 - SUS por um fio. De sistema público e universal de saúde a simples negócio. Revista IHU On-Line, Nº. 491
 - Sistema Único de Saúde. Uma conquista brasileira. Revista IHU On-Line, Nº. 376
 - Sistema Único de Saúde muito além da assistência
 - Coronavírus: a hora de debater o Teto dos Gastos
 - Emenda do teto de gastos faz SUS perder R$ 13,5 bilhões em 2019
 - Outro modelo para locais de cuidado médico. O sistema de saúde deve ser completamente repensado
 - Sem os cortes recentes na Saúde, enfrentamento da pandemia seria menos dramático. Entrevista especial com Fernando Pigatto
 - Sucateado, SUS vive "caos" em meio à pandemia
 - Necessidades de Infraestrutura do SUS em Preparo a COVID-19: Leitos de UTI, Respiradores e Ocupação Hospitalar
 - SUS: elemento central para enfrentar a pandemia de coronavírus. Entrevista especial com Reinaldo Guimarães
 - “Enfrentar o coronavírus significa fortalecer o SUS e o trabalho dos profissionais de saúde”. Entrevista com Victor Grabois
 - Mudar a política econômica e fortalecer o SUS são medidas corretas para combater coronavírus
 - Pacote econômico de Bolsonaro propõe alterar teto de gastos em saúde e estabilidade de servidores
 - Fim do piso para a saúde é o divórcio definitivo da economia dos problemas sociais. Entrevista especial com Ligia Bahia
 - A desidratação dos recursos para saúde e seus efeitos catastróficos. Entrevista especial com Francisco Funcia
 - O senador Marcio Bittar quer bater o último prego no caixão do SUS
 - O que muda (para pior) no financiamento do SUS
 - Aumento de mortalidade no país está diretamente ligado a corte de verbas no SUS
 - Atenção básica - financiamento incerto
 - Tiro de morte no SUS
 - Por que o fim do DPVAT é mais um golpe no financiamento do SUS
 - Proposta do governo para o SUS desampara ainda mais as cidades
 - A Integralidade no SUS: ameaças no ar
 - “Ainda bem que temos o Sistema Único de Saúde”
 - Subnotificação dificulta combate à covid-19 no Brasil
 - A pandemia de Covid-19 é um grande teste à resiliência de sistemas de saúde no mundo inteiro. Entrevista especial com Beatriz Rache
 - “Brasil toma medidas homicidas ao mudar de rumo na hora que a curva de causos aumenta”. Entrevista com Ligia Bahia
 - A pandemia do coronavírus e um dilema sem precedentes: escolher entre economia e saúde
 - Como Conter a Curva no Brasil? Onde a Epidemiologia e a Economia se Encontram
 - PEC Teto dos Gastos: uma perda bilionária para o SUS em 2019
 - Por que revogar a Emenda Constitucional 95
 - O SUS sobreviverá à era Bolsonaro?
 - Pronunciamento de Bolsonaro repete conteúdo de redes bolsonaristas
 - Insanidade. É agora ou nunca?
 - Pandemia no Brasil sob o desgoverno Bolsonaro
 - Coronavírus começa a dobrar o governo
 - O COVID-19 e a vulnerabilidade social
 - A loucura autoritária do Planalto, em plena crise do coronavírus, ameaça o trabalho no Ministério da Saúde
 - Tuitadas. As reações ao pronunciamento do presidente na noite de ontem