02 Novembro 2017
Os ganhos ambientais do fim do desmatamento no país seriam inegáveis, mas as consequências negativas recairiam sobre o PIB regional de Estados de fronteira e os trabalhadores com menor qualificação, geralmente de famílias mais pobres.
A reportagem é de Everton Lopes Batista e Thaiza Pauluze, publicada por Folha de São Paulo, 31-10-2017.
“É nosso papel compensar os grupos afetados. Não é justo quem está no interior de Mato Grosso pagar a conta de um benefício que é de todos”, disse Marcos Lisboa, presidente do Insper, durante a apresentação dos resultados do estudo “Qual o Impacto do Desmatamento Zero no Brasil?”, patrocinado pela ONG Instituto Escolhas.
No cenário mais radical, no qual o desflorestamento pararia imediatamente, os salários de trabalhadores menos qualificados poderiam sofrer redução acumulada de 2,61% até 2030. Isso porque esse tipo de mão de obra é mais presente na agropecuária do que em outros setores.
No mesmo cenário, o PIB acumulado entre 2016 e 2030 do Acre, outro Estado de fronteira, sofreria uma queda de 4,53%. São Paulo, por exemplo, teria redução de 0,38%.
“É uma perda assimétrica para as regiões onde a expansão da fronteira agrícola é maior”, disse Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, engenheiro agrônomo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP).
Para Lisboa, o emprego que um produtor perdeu no interior do Pará surgirá em Belém, mas com um alto custo de transição, porque as comunidades são distantes. “Quando a atividade econômica vai embora, cria-se um cinturão de pobreza, contaminando o próprio ambiente.”
Nova discussão
Segundo a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-AC), que estava na plateia do evento, para cessar completamente o desmatamento são necessários incentivos e assistência técnica para pequenos produtores. “Precisamos de regras que sejam perenes, que não fiquem mudando ao sabor dos ventos das fragilidades políticas e eleitorais.”
Fernando Sampaio, diretor-executivo do projeto PCI (Produzir, Conservar e Incluir), do governo do Estado de Mato Grosso, que também compareceu ao debate, considera que o estudo precisa ser aprofundado pelos municípios interessados.
“Há cidades que enxergam a abertura de áreas para a agropecuária como a única oportunidade de desenvolvimento e ninguém oferece uma alternativa econômica que gere renda com a floresta de pé.”
Para Sérgio Leitão, diretor-executivo do Instituto Escolhas, o estudo fornece material que pode dar início a essa discussão.
“Ele foi feito para conversar com o produtor rural, com quem toma a decisão de fazer o desmatamento pela necessidade da sua atividade econômica”, declarou.
Leia mais
- Trabalhadores, que atuavam na atividade de desmatamento, são encontrados em condições degradantes no Pantanal
- Dez motivos para não se empolgar demais com a queda da taxa de desmatamento
- Mineração foi responsável por 9% do desmatamento da Amazônia entre 2005 e 2015
- Taxa de desmatamento cai, mas Temer segue vendendo a Amazônia
- Desmatamento na Amazônia: o que comemoramos?
- Desmatamento e poluição das águas coloca em risco as populações ribeirinhas e a sobrevivência do rio São Francisco
- Infográfico: A triste evolução recente do desmatamento da Amazônia
- Rio Araguaia pode secar em 40 anos por causa do desmatamento
- Imazon detecta novo padrão de desmatamento no Acre, Rondônia e Pará
- Estudo da UFMG constata que cadastro ambiental não coíbe desmatamento de áreas rurais na Amazônia
- Governo federal e sociedade civil organizada buscam acordo para conter desmatamento no Cerrado
- Ambientalistas exigem que mercado pare o desmatamento do Cerrado
- Desmatamento e uso de terras para agropecuária são negligenciados como contribuintes para as mudanças climáticas
- Inpe: Desmatamento na Amazônia Legal aumentou 27% em 2016
- A máquina que move o desmatamento da Amazônia
- Dados do Imazon indicam que desmatamento na Amazônia caiu 21%, mas aumentou 22% em unidades de conservação
- Desmatamento na floresta amazônica maranhense é de 75%, denunciam pesquisadores
- Maior índice de desmatamento no Brasil, em dois anos Cerrado perdeu equivalente a mais de três DF
FECHAR
Comunicar erro.
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Região de fronteira e famílias pobres sofrem impacto com desmatamento - Instituto Humanitas Unisinos - IHU