15 Novembro 2025
"Será que este resultado do Caminho Sinodal será capaz de iniciar um processo de verdadeira renovação?", pergunta Roberto Mauri, membro do Centro de Estudos da Missão Emmaus, em artigo publicado por Settimana News, 14-11-2025.
Eis o artigo.
Nos últimos dias – tendo em vista a terceira assembleia nacional (veja aqui no SettimanaNews) – foi divulgado o documento de síntese do Caminho Sinodal Italiano “Fermento da Paz e da Esperança”, fruto de uma jornada conturbada e não isenta de surpresas sensacionais.
De fato, sabemos bem que a verdadeira inovação introduzida pelo Caminho Sinodal reside precisamente na sua crença e adoção de um método sinodal: uma experiência participativa que procurou envolver plenamente todo o território e todos os componentes do Povo de Deus; uma jornada compartilhada que nos permitiu traçar um retrato rico, matizado e profundamente realista da Igreja italiana de hoje.
O documento de síntese representa e oferece um panorama abrangente da Igreja italiana, uma Igreja que se move (com muita satisfação). Um sistema eclesial complexo, consciente dos desafios do presente e ansioso por enfrentá-los tendo o Evangelho como bússola.
A sinodalidade altera a entropia do sistema eclesial
Para tentar captar não só os pontos principais do artigo, mas sobretudo o seu potencial impacto, gostaria de usar uma analogia com o que acontece nos sistemas físicos. Imagine fazer uma pequena experiência divertida: pegue num copo alto, meio cheio de café, e verta delicadamente um pouco de creme por cima. Depois, misture os dois com uma colher de chá.
Inicialmente, o sistema apresenta baixa entropia. A entropia é uma medida do grau de desordem ou aleatoriedade de um sistema e tende a aumentar com o tempo. Ela indica a tendência natural de um sistema de transitar de um estado ordenado para um estado desordenado. Na primeira situação, como se pode observar, o café e o creme, apesar de estarem em contato, coexistem sobrepostos, distinguindo-se claramente: em outras palavras, existem relativamente poucas maneiras de rearranjar os átomos no creme e no café sem alterar sua aparência macroscópica.
Um sistema com muitos modos de rearranjo sem mudanças macroscópicas aparentes possui alta entropia; um com poucos modos, baixa entropia.
Nesse caso, o sistema tem, portanto, baixa entropia, o que significa que está ordenado e tem pouca oportunidade para aumento da "desordem". Mas se, enquanto mexemos a mistura com uma colher de chá, começarmos a trocar o creme pelo café, nosso copo adquire uma aparência diferente (segunda situação). Eventualmente, tudo se mistura e a entropia é relativamente alta: poderíamos trocar qualquer ponto da mistura por qualquer outro, e o sistema permaneceria essencialmente inalterado. A entropia aumentou durante o processo, exatamente como esperaríamos com base na segunda lei da termodinâmica.
O aumento da entropia não é necessariamente contraproducente para o aumento da complexidade: inicialmente, quando o creme flutua sobre o café, o sistema é simples, com baixa entropia e baixa complexidade. Após a mistura, na terceira situação, tudo parece uniforme e simples novamente, mas com alta entropia. É no estágio intermediário, quando o creme e o café se entrelaçam em filamentos intrincados, que o sistema se torna complexo. Assim, a complexidade aumenta entre baixa e alta entropia, e depois diminui.
A colher gira
A analogia com o sistema eclesial e sua organização pastoral parece, esperamos, bastante clara: partimos de uma situação em que o "mundo eclesial" era concebido e apresentado de maneira simples, claramente distinto de suas partes e do "mundo", um sistema eclesial de baixa entropia que se esforçava para permanecer assim. Hoje, encontramo-nos em uma fase intermediária, caracterizada pela complexidade e transformação, e seria inútil tentar manter as coisas como eram antes, quando as realidades eram distintas e separadas.
Mas com que "colher" essa reorganização foi desencadeada e alimentada?
A primeira intervenção decisiva foi o Concílio Vaticano II, há sessenta anos. A "colher conciliar", reconhecendo os sinais dos tempos, iniciou uma reinterpretação da relação entre a Igreja e o mundo e das relações internas entre os componentes do Povo de Deus. O processo desencadeado por esse evento é um ponto sem retorno: a entropia do sistema eclesial começou a aumentar, assim como a sua complexidade: basta pensar nos desafios da evangelização e nas tensões que permeiam as nossas comunidades cristãs.
Como aponta Diotallevi, um sociólogo especialista em religião, "mesmo que o caminho iniciado pelo Concílio Vaticano II sofresse uma derrota, não voltaríamos simplesmente à Igreja pré-conciliar. Ela já está acabada, e faltam todas as condições internas e externas para reconstruí-la" (A Igreja Está Quebrada. Fragmentos e Brilhos em Tempo de Crise e Oportunidade, Rubbettino, 2025).
A segunda e decisiva reestruturação foi provocada pelo recente processo sinodal, iniciado em 2023, cujo documento sintetizador "Fermento da Paz e da Esperança" é o resultado mais recente: não um sínodo qualquer, mas um "Sínodo sobre a Sinodalidade", que conduz decisivamente à terceira situação, ou seja, uma mudança no sistema eclesial caracterizada tanto por alta entropia quanto por uma complexidade relativamente baixa.
Curando as feridas
Não nos interessa analisar o documento aqui. Em vez disso, gostaríamos de destacar como ele se encaixa e expressa um novo ponto de não retorno na reformulação do sistema eclesiástico italiano.
A terceira parte do texto é, sob essa perspectiva, talvez a mais interessante: ela se concentra na organização da vida eclesial e na corresponsabilidade na liderança comunitária, sugerindo repensar a face e a forma das paróquias para torná-las mais missionárias e acolhedoras. Também defende a valorização dos órgãos participativos e a promoção de estilos de liderança mais colegiados e menos clericalistas.
As questões levantadas pelo Documento são estrategicamente abertas e decisivas: não se trata apenas de avaliar o trabalho realizado, mas de questionar o futuro da Igreja italiana e sua capacidade de atender às expectativas do nosso tempo. As respostas dependerão de como as comunidades continuarão a viver um estilo sinodal, composto por escolhas pastorais proféticas, decisões compartilhadas e caminhos de renovação. Uma resposta indireta, mas clara, talvez, à pergunta "para quem e — ainda mais — de quem é a caminhada sinodal? É uma preocupação do aparato eclesiástico (repleto de 'operadores pastorais') ou é uma preocupação de todo o Povo de Deus que caminha neste tempo e nesta história?" (Diotallevi, ibid.).
Em suas recomendações, o documento aponta as principais "feridas" que afligem o corpo eclesial e a ação pastoral, entre as quais se destacam as seguintes:
- Reflexão sobre as estruturas diocesanas e sua necessária renovação, revisão da organização das cúrias diocesanas com vistas a um cuidado pastoral mais unitário e integrado, essencialização e racionalização dos serviços e ofícios pastorais.
- O apelo para que os serviços e escritórios pastorais e administrativos assegurem a dimensão espiritual do trabalho comum e desenvolvam um horizonte compartilhado com momentos de conversa e discernimento no Espírito.
- A reorganização de paróquias ou unidades pastorais em "comunidades de comunidades", pequenas comunidades próximas da vida das pessoas, coordenadas entre si, que fomentam experiências evangélicas de comunhão e serviço.
- Uma presença mais significativa de mulheres nos processos de tomada de decisão e nos ministérios.
- Atenção especial à formação de ministros ordenados, dada a sua contribuição constitutiva para a vida sinodal e missionária das comunidades, que deve ser expressa já desde o acolhimento de um jovem no seminário.
- A oferta de cursos de formação contínua em corresponsabilidade ministerial, concebidos por equipas de formação competentes, incluindo leigos e leigas, para desenvolver competências em trabalho de equipa, exercício da autoridade e do poder num espírito de serviço, gestão de conflitos e construção de relações.
- Uma animação sinodal mais intensa das comunidades, estabelecendo "grupos ou equipes ministeriais" (diáconos, leigos e leigas, cônjuges, consagrados e consagradas) ou "animadores comunitários" que, em colaboração com o pároco, cuidam da animação pastoral e litúrgica de comunidades menores, uma gestão transparente e solidária dos bens eclesiásticos como elementos fundamentais da credibilidade eclesiástica.
- A urgência de renovar as propostas para a iniciação cristã de crianças e jovens, superando o que hoje se apresenta marcado por linguagens e métodos obsoletos.
Em todos os aspectos – permitam-nos aprofundar – o Centro de Estudos Missionários de Emaús, apesar de seu tamanho diminuto, esteve à frente de seu tempo, acompanhando inúmeros interlocutores eclesiais (cúrias diocesanas e clero, congregações e institutos religiosos, assembleias sinodais, Caritas, conselhos e escritórios pastorais) com um número crescente de solicitações, confirmando a necessidade premente de novas abordagens pastorais.
Os desafios do caminho futuro
O futuro da sinodalidade, como se pode imaginar, é um empreendimento complexo, dispendioso e arriscado. Requer o enfrentamento das imprecisões, contradições e dificuldades típicas de um aumento da "desordem livre e criativa" dentro do sistema eclesial. Esse processo exige atenção, liderança e métodos de gestão compartilhada. Nesse sentido, é necessário discernimento apropriado nos diversos níveis operacionais do processo de participação comunitária:
- Burocrático: a atividade é realizada por obrigação, sem introduzir elementos de inovação ou demonstrar envolvimento particular, limitando-se à coleta de dados e prevendo a participação da comunidade exclusivamente por meio de figuras institucionais e em situações consultivas.
- Utilitarista: De acordo com essa perspectiva mais proativa, a colaboração com a comunidade é considerada principalmente uma ferramenta para otimizar a eficiência dos serviços, sem, no entanto, atribuir importância à escuta ativa ou ao envolvimento genuíno.
- Idealização: aqui, a participação é reconhecida como um valor teórico, sem, no entanto, abordar concretamente quaisquer questões e complexidades críticas: metodologias participativas inovadoras são adotadas, confiantes de que sua aplicação por si só será suficiente para alcançar os resultados desejados, mas encontrando dificuldades em traduzir as propostas em ações efetivas.
- Apoio inovador: esta é a abordagem mais avançada, que valoriza as tensões dos sujeitos envolvidos e promove a gestão construtiva das diferenças e conflitos, a fim de gerar resultados concretos e progressos significativos no contexto de referência.
É importante ressaltar que essas quatro lógicas representam tipologias abstratas: na realidade concreta, elas frequentemente aparecem de forma combinada e com nuances. No entanto, manter-se atento a esses gradientes ajuda a orientar os processos de participação e renovação da comunidade.
A coragem de pensar, a vontade de agir
Será que este resultado do Caminho Sinodal será capaz de iniciar um processo de verdadeira renovação?
Em sua meditação introdutória à Assembleia (Atos 15:22-31), Sabino Chialà, Prior de Bose, recordou como a coragem de pensar é fundamental na Igreja e para a Igreja. Os anciãos de Jerusalém e os irmãos, diante do novo, não se deixaram paralisar pelo medo, mas reuniram-se, refletiram e pensaram juntos. Hoje, a Igreja italiana também precisa urgentemente não temer o pensamento crítico e a reflexão comunitária.
O sucesso do Caminho Sinodal e sua capacidade de iniciar um genuíno processo de renovação da fé dependerão em grande medida das palavras proferidas. Mas ainda mais dos gestos e sinais que as acompanham: se as sementes contidas no documento forem sustentadas e nutridas pelas vozes corajosas dos fiéis, a renovação poderá tornar-se realidade e não permanecer letra morta.
Será que aqueles que participaram do Sínodo estarão verdadeiramente dispostos e aptos a pôr em prática o que foi proposto e decidido? Serão capazes de enfrentar os desafios da vida concreta do dia a dia, traduzindo em ação o que o Espírito Santo os inspirou?
Sem esquecer que a responsabilidade de iniciar esses processos permanece nas mãos dos bispos, que continuam a deter o poder de decisão: uma grande responsabilidade, na qual o risco de perder a credibilidade é alto, considerando que "quem põe a mão no arado e depois a abandona não é apto para o reino de Deus".
A entropia do sistema eclesial mudou definitivamente.
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