30 Setembro 2025
"Foi um discurso alucinante, mas um discurso inútil. Ele comparou Israel aos nazistas, parabéns". Gideon Levy, um dos editorialista mais conhecidos do Haaretz, desembarcou na Itália (onde recebeu ontem o Prêmio Kapuscinski do Instituto Polonês de Roma) poucas horas depois de assistir ao discurso de Benjamin Netanyahu na ONU pela televisão. "A única coisa relevante no discurso foi a plateia vazia, um sinal do isolamento de Israel".
A entrevista é de Riccardo Antonucci, publicada por il Fatto Quotidiano, 28-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Ontem, voltaram a circular especulações sobre uma trégua em Gaza. Netanyahu parece pronto?
Ele terá que fazê-lo, se Trump o obrigar. Sobraram apenas os Estados Unidos como único aliado de Israel, depois de Netanyahu ter conseguido perder o apoio dos europeus. Sem os EUA, Israel não seria a potência militar que é. É por isso que o único verdadeiro evento que importa é o encontro de segunda-feira com Trump em Washington.
O que restará de Gaza após o fim da guerra?
Nenhum de nós consegue sequer imaginar a escala da destruição. Os planos de reconstrução que circulam me fazem rir: um ou dois anos nunca serão suficientes para reerguer a Faixa. E, além disso, querem colocar Tony Blair no comando de tudo. Ou seja, voltar às colônias britânicas? A verdade é que a única alternativa real é retornar para 6 de outubro. O Hamas não vai sair, não conseguiremos expulsá-los assim, ninguém, nem os sauditas nem os estadunidenses, quer financiar a reconstrução de um lugar que se sabe que Israel destruirá novamente daqui a cinco anos.
Seu último livro (Mimesis) se chama "Killing Gaza", não "Killing Hamas"...
Há meses entendi que não podemos chamar essa ofensiva de outra forma senão genocídio. A Faixa está sendo sistematicamente destruída, dezenas de palestinos morrem todos os dias, não passa um dia sem que crianças morram. Há provas irrefutáveis de fome. E o que vemos é uma mínima fração do que está acontecendo. Uma resposta militar após 7 de outubro era esperada e legítima, mas imediatamente após 7 de outubro tornou-se uma desculpa para levar adiante o antigo plano de limpeza étnica da extrema direita do governo.
Na ONU, o primeiro-ministro disse que as IDF evitam vítimas civis, permitem ajuda humanitária e pedem à população que deixe as zonas de guerra...
Ele disse que os nazistas não transferiram os judeus, o que é falso: eles o fizeram, e isso fazia parte da estratégia do Holocausto. É o que estamos fazendo em Gaza: limpeza étnica. Os únicos a acreditar nas mentiras de Netanyahu agora são apenas os israelenses.
Não há críticos suficientes de Netanyahu em Israel?
Infelizmente, a maioria dos israelenses não quer saber, não quer ver. Tentam evitar o dilema moral de saber que são seus filhos que, nas IDF, estão massacrando os palestinos. Os protestos são pelos reféns; a maioria pede: "devolvam os reféns e depois recomeçaremos a guerra". E o mais grave é que a mídia israelense os acompanha e não mostra imagens de Gaza nos noticiários e jornais. Há dois anos, parece que apenas 20 pessoas vivem em Gaza: os reféns. Qualquer italiano do interior viu mais imagens da Faixa do que nós. E não há censura; é tudo autocensura. A culpa não é do governo, mas dos meus colegas, que traíram sua profissão. Somos piores que a Rússia; pelo menos lá, a censura existe, e jornalistas que se calam sobre a verdade são justificáveis.
Como explica essa falta de crítica da opinião pública israelense?
Com décadas de lavagem cerebral. E, além disso, houve o dia 7 de outubro. Quando mostro aos meus amigos os vídeos de Gaza, sua primeira reação é dizer que são fake.
A Flotilha zarpou para Gaza, e as autoridades israelenses estão ameaçando prendê-los ou pior. Os europeus podem intermediar corredores humanitários?
Escrevemos um editorial no Haaretz intitulado "Deixem-nos entrar". Deixem-nos ir a Gaza para nos contar a realidade sobre aquela tragédia! Mas isso não vai acontecer, e quanto aos Estados europeus, eu diria que, antes de tratar com a Flotilha, eles deveriam deter Israel, militarmente ou de outra forma.
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