Cristãos em Gaza: "Ficar aqui, nossa missão"

As comunidades da Palestina, Jordânia e Síria entre o medo e os sinais de esperança. Um jovem com deficiência, depois uma mulher, depois um idoso em cadeira de rodas. Todos, um após o outro, recebem a Comunhão. Rachaduras podem ser vistas nas paredes do quarto onde estão, e do lado de fora das janelas, os escombros deixados pelos bombardeios israelenses. São os "tesouros" da comunidade cristã de Gaza, "Jesus e seus irmãos", como escreveu ontem o padre Gabriel Romanelli nas redes sociais, postando as fotos de alguns dos cerca de 750 moradores de Gaza que se abrigam dentro dos muros de sua paróquia latina da Sagrada Família há mais de um ano.

A reportagem é de Agnese Palmucci, publicada por Avvenire, 28-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini. 

Entre eles, há muitas crianças, mais de 30 com deficiência, que as freiras tentam distrair dos estrondos dos ataques com atividades pastorais, desenhos e pinturas, mesmo nesses momentos em que o exército israelense reitera cada vez mais que "a evacuação da Cidade de Gaza é inevitável". Mas, até agora, a pequena população cristã da Faixa de Gaza, embora confinada entre os quatro muros da paróquia, permanece firme em sua terra. "Com simplicidade e humildade, continuamos nossa missão aqui em Gaza", disse o Padre Romanelli ao SIR ontem, após o novo apelo do Papa Leão XIV pela paz na Terra Santa, "permanecendo ao lado dos mais vulneráveis, daqueles que perderam tudo e não têm mais nada. Porque essa é a missão da Igreja".

Em breve, porém, alimentos e remédios podem acabar. Elia, pseudônimo de um jovem de Bolonha que cresceu na Ação Católica, trabalha em um lar adotivo de Belém há anos, junto com algumas freiras. Elia é o único voluntário que ficou com as freiras para cuidar das crianças órfãs e abandonadas com deficiência. "Para os cristãos aqui em Belém, a vida continua", disse Elia ao Avvenire, e, para responder, teve que encontrar um lugar com sinal de Wi-Fi. “O que sinto neles, no entanto, é que não há nenhum vislumbre real de paz para Gaza e a Cisjordânia. É triste, mas sinto que estamos apenas esperando o inevitável, tanto na Faixa, onde as IDF não se deterão diante da paróquia da Sagrada Família, quanto aqui, especialmente agora que a construção do novo assentamento que dividirá a Cisjordânia ao meio foi aprovada”.

A comunidade cristã na cidade está diminuindo lentamente, devido à falta de trabalho, devido à quase ausência das peregrinações, pela escalada das violências israelenses, mas também devido à sensação de que "a anexação da Cisjordânia" a Israel é apenas uma questão de tempo. “Na Cisjordânia, os cristãos estão vivenciando uma emigração em massa; os dados mais recentes indicam que mais de 100 famílias deixaram Belém desde 7 de outubro", enfatizou. "Dito isso, a vida paroquial tem grande participação e há confiança no cardeal Pierbattista Pizzaballa”. A única esperança real dos cristãos da Palestina, no entanto, é a “confiança em Deus e em sua promessa de salvação", concluiu, mas "seria um sinal importante se o Papa viesse aqui".

Antes de encerrar, Elia explica que muitos cristãos israelenses servem no exército israelense. "Eles trabalham em postos de controle ou no abastecimento e, aos domingos, vão à missa usando o uniforme. Gostaria de entender, diante de tanta dor, como isso é possível."

Por muito tempo, entre os deslocados da Sagrada Família em Gaza, esteve a Irmã Nabila Saleh, das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora do Santo Rosário, que antes do início da guerra era diretora da maior escola particular da Faixa de Gaza. Desde maio de 2024, a religiosa egípcia vive em Irbid, na Jordânia, a poucos quilômetros da fronteira com a Cisjordânia. "Estou voltando para Ramallah", disse ela ao Avvenire por telefone antes de partir para a Palestina.

"Estou muito preocupada." A comunidade cristã na Jordânia está preocupada nos últimos meses, observando o que está acontecendo em Gaza e na Cisjordânia e as ações do governo israelense. O medo é palpável nas palavras da freira, acostumada às consequências dos conflitos. "Por enquanto, como cristãos de Irbid, ainda vivemos em segurança, mas estamos todos muito perturbados e esperando", explicou a Irmã Nabila, em seu hábito preto, "olhamos ao redor, porque a Jordânia é um país muito delicado".

Os cristãos ", acrescentou, "estão rezando muito, especialmente por Gaza e por todos os civis que estão sob os bombardeios e cujas vidas estão em risco". A seis horas de carro de Irbid fica a comunidade cristã de Aleppo. "Diante do sofrimento dos irmãos em Gaza", relatou ao Avvenire Davide Chiarot, membro consagrado do Movimento dos Focolares que trabalha na cidade síria para a Caritas Itália há dois anos, "os cristãos sentem tanta dor. É o sentimento dos que sabem o que é a guerra e conhecem suas consequências".

No país, que está se livrando dos escombros do regime de Bashar al-Assad, que caiu em dezembro passado, a comunidade cristã vive com medo e esperança em seus corações. "Por um lado, há o medo da imprevisibilidade do futuro", porque o novo presidente, Ahmad al-Shara', "vem de trajetórias muito radicais". O outro sentimento é a esperança "de reconstruir a comunidade e encontrar um espaço de convivência". O apelo do Papa pela paz "nos fez sentir mais uma vez na linha de frente do nosso testemunho como cristãos da Síria". A boa notícia é que o novo governo ainda não impôs nenhuma restrição às minorias religiosas, embora o ataque à paróquia de Damasco em junho tenha imposto, por precaução, limitar ao mínimo as atividades de verão”.

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