A única arma inteligente? O perdão. Artigo de Enzo Bianchi

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27 Agosto 2025

"Justiça e perdão combinados abrem um futuro de reconciliação e de paz: não há outro caminho!"

O artigo é de Enzo Bianchi, prior e fundador da Comunidade de Bose, publicado por Il Blog di Enzo Bianchi, 23-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

A justiça é necessária para que possa haver paz: quando a justiça é violada, ferida, deve, sem dúvida, ser restabelecida. A mão do carrasco deve ser desarmada, o agente da violência mortal deve ser detido, e também deve ser providenciada uma defesa para as vítimas ou aqueles que possam vir a ser vítimas: há um direito-dever à legítima defesa, há um direito-dever a deter o agressor! Mas ai de quem pensa que a justiça possa ser restabelecida por meio de atos de retaliação, atos obedientes a um conceito primitivo de justiça, muito mais similar à vingança, e que transcendem os princípios da legítima defesa e do desarmamento da mão do violento.

Quando se pensa em restabelecer a justiça por meio da vingança, respondendo à violência com a violência, vinculando a justiça quebrada às guerras necessárias para restaurá-la, então está simplesmente se trilhando um caminho mortífero, que desencadeia uma espiral sem fim de violência e retaliação. Responder ao terrorismo com uma guerra significa ir além do direito-dever de defesa, tanto porque ao lado dos culpados (e às vezes até em seu lugar!) são envolvidos povos inteiros — homens, mulheres e crianças inocentes —, quanto porque a guerra é uma "aventura sem retorno", uma fonte de ódio que também envolve as novas gerações. É claro que não basta dizer não à guerra: é preciso viabilizar alternativas concretas que levem à reparação e à defesa dos direitos violados, caminhos que trilham o desafiador caminho da negociação, da diplomacia e do compromisso justo.

Tudo isso se torna possível se conseguirmos combinar justiça e perdão. A ordem destruída não pode ser plenamente restabelecida a menos que se crie espaço para uma justiça que também abranja aquela forma particular de amor que é o perdão. Essa é uma questão difícil, especialmente quando nos sentimos do lado das vítimas; no entanto, se realmente se deseja tender à paz — e a uma paz "duradoura" — não se pode pensar na justiça em termos antitéticos ao perdão.

E é aqui que a mensagem de João Paulo II de 2003 para o Dia Mundial da Paz se torna eloquente e convincente. É uma mensagem que nasce de um compromisso com a Revelação — como o próprio Papa afirma — e que João Paulo II difundiu com força e autoridade devido ao dever que sentia ao exercer seu ministério a serviço do Evangelho. Sim, é o Evangelho que exige que o princípio do "perdão" seja imanente ao princípio da "justiça"! É a própria Escritura, já no Antigo Testamento, que proclama a unidade de justiça e misericórdia, portanto de justiça e perdão, até mesmo no próprio Nome de Deus revelado a Moisés (cf. Ex 34,6): é uma unidade presente na própria criação, porque a misericórdia precedeu a criação.

Deus é justo, mas ao mesmo tempo misericordioso e compassivo, portanto capaz de perdoar, como Jesus de Nazaré narrou definitivamente dele: o perdão é a narração suprema feita por Jesus sobre Deus. Por isso, Ele nos ensinou a orar a Ele: "Pai, perdoa-nos os nossos pecados, assim como nós perdoamos aos nossos devedores" (Lc 11,4), enquanto Ele mesmo na cruz orou: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34). Os discípulos de Jesus devem ser sempre homens e mulheres de misericórdia e perdão, chamados a amar os inimigos, a rezar pelos perseguidores, a abençoar e nunca a amaldiçoar (cf. Mt 5,44).

Mas esse perdão que a Igreja sempre pregou e sempre apontou como inerente à vida cristã, deve se tornar – essa é a mensagem do Papa – não apenas prática pessoal no caminho da santidade, mas também ética e cultural, a ponto de se conformar como uma "política do perdão expressa em atitudes sociais e instituições jurídicas" nas quais a justiça é exercida e reproposta. Tal prática do perdão deve, portanto, dizer respeito a todos os cristãos e à sua participação na vida da pólis: sim. O perdão torna-se necessário em nível social e político, nas relações entre nações, etnias, grupos...

Não pode haver projeto para uma sociedade futura marcada pela paz, pela qualidade da convivência social e pela solidariedade para uma verdadeira communitas, sem infundir o perdão no conceito e na prática da justiça. "Não há paz sem justiça, mas não há justiça sem perdão!"

Eis a mensagem que o próprio Papa afirma ser anunciada aos crentes e aos não crentes, a todos que se preocupam com o bem da família humana e da sociedade. Certamente, a prática do perdão comporta uma aparente perda a curto prazo, talvez até uma derrota, mas, na realidade, garante um ganho a longo prazo. A violência é exatamente o oposto: opta por um ganho a curto prazo, mas prepara, a longo prazo, uma perda real e permanente. O perdão não é uma fraqueza, também porque quem o concede e o pratica deve estar equipado com uma grande força espiritual, com uma intensa vigilância sobre suas paixões, com uma grande disciplina sobre sua agressividade.

Conceder e aceitar o perdão sempre foi obra para poucos, mas hoje pode se tornar a prática dos cristãos e de outros que buscam caminhos de sentido e desejam paz para a Terra! Para o cristão, o princípio do "perdão" é justo em si mesmo, porque se recusa a identificar o mal com a pessoa que o comete e, portanto, a reificar o homem, reduzindo-o às suas más ações.

Este mesmo princípio de "perdão" deve ajudar a repensar o conceito de justiça restaurativa: muitas situações de conflito endêmico, como no Oriente Médio, situações repletas de ódio e violência, com ações e reações mortíferas, só podem encontrar solução e uma abertura para um radical restabelecimento da justiça por meio de um ato de perdão dos crimes cometidos.

Justiça e perdão combinados abrem um futuro de reconciliação e de paz: não há outro caminho!

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