22 Agosto 2025
"Os opositores de Netanyahu argumentam que as negociações em andamento (que neste momento não se sabe se continuarão ou serão interrompidas) não estariam destinados a se concluir tão rapidamente, já que o primeiro-ministro israelense está interessado em prolongá-las para manter Israel em estado de alerta pelo maior tempo possível, garantindo assim a longevidade de sua coalizão, o que equivale a prolongar seu mandato", escreve Benny Morris, historiador israelense, em artigo publicado por La Stampa, 21-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na última segunda-feira, 18 de agosto, oficiais da reserva da Décima Brigada Blindada das Forças de Defesa de Israel (IDF) telefonaram para seus homens e comunicaram que seriam convocados em breve para mais uma longa temporada como reservistas. No dia seguinte, porém, esses mesmos oficiais os contataram novamente e disseram que não se apressassem, pois a convocação não era iminente.
No entanto, o ataque à Cidade de Gaza começou esta noite.
É um sinal do caos político e militar que caracteriza a decisão do Gabinete israelense, de 8 de agosto, de conquistar os 25-30% da Faixa de Gaza ainda ocupados pela organização terrorista islâmica Hamas, uma área onde residem atualmente quase todos os 2,2 milhões de habitantes de Gaza.
Em sua reunião de gabinete, ministros liderados pelo primeiro-ministro Netanyahu ignoraram o conselho de Eyal Zamir, comandante-chefe das IDF, que propôs uma estratégia mais comedida para aniquilar o Hamas, consistindo em cercos e ataques ocasionais de blindados.
A decisão do Gabinete foi vaiada por cerca de quatrocentos mil manifestantes que tomaram as ruas do centro de Tel Aviv, os quais, segundo todas as pesquisas de opinião, queriam expressar os sentimentos da maior parte da opinião pública israelense contra uma retomada da guerra. Ao condenar a decisão do Gabinete, as vozes mais altas foram aquelas dos familiares dos cinquenta reféns israelenses mantidos — vinte ainda vivos e trinta mortos —, que argumentam que um novo ataque das IDF significaria a morte certa de seus entes queridos, pelas mãos do Hamas ou das IDF.
Entre os manifestantes, havia muitos reservistas das IDF que já haviam servido na Faixa de Gaza (de 200 a 500 dias) durante os 19 meses anteriores de combate e estão relutantes em abandonar novamente suas famílias e empregos para lutar contra guerrilheiros terroristas em meio aos escombros e nos túneis de Gaza.
De qualquer forma, cedendo à decisão do Gabinete, Zamir organizou a nova ofensiva com o objetivo de conquistar a Cidade de Gaza, o maior centro urbano da Faixa, onde vivem 900.000 habitantes e estão os quartéis gerais do Hamas. Porta-vozes falam de 12 forças-tarefa das IDF e da convocação de cerca de 60.000 reservistas.
De acordo com o plano, a população civil da Cidade de Gaza será forçada pelos homens das IDF a evacuar para as áreas ao sul do Corredor Netzarim, que corta a Faixa de Gaza. Muitos observadores, no entanto, têm dúvidas sobre a eficácia do ataque à Cidade de Gaza e se Netanyahu — que forçou a decisão por meio de seu gabinete — estaria tendo condições de enxergar além da perspectiva do ataque militar.
Netanyahu está profundamente ciente da oposição explícita popular e das IDF ao seu plano e entende que a ofensiva provavelmente resultará na morte dos reféns e em um grande número de baixas entre os soldados, além de um pesado balanço entre a população civil árabe (grande parte da qual, como o Hamas, se recusará a evacuar a Cidade de Gaza). Além disso, a ofensiva apenas agravará o desastre humanitário que já tomou toda a Faixa, desencadeando uma crise aguda entre Israel e as potências europeias.
A Alemanha — a aliada mais firme de Israel na UE — já anunciou um embargo parcial para as armas, enquanto a França e a Grã-Bretanha (junto com o Canadá e a Austrália) ameaçam ou prometem reconhecer o Estado da Palestina em setembro. Por fim, a ofensiva será muito custosa financeiramente para Israel: sua economia já está sob forte estresse devido aos enormes custos dos últimos 19 meses de guerra contra o Hamas, o Irã, os Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iêmen.
Por todas essas razões, muitos israelenses acreditavam que a decisão do Gabinete dos ministros não tinha a intenção de ser concretizada, mas sim estudada para "persuadir" principalmente o Hamas a devolver os reféns e aceitar as condições postas por Netanyahu para o fim da guerra — ou seja, o desarmamento do Hamas e sua renúncia ao controle da população civil de Gaza, permitindo a instalação de um governo israelense interino na Faixa de Gaza, que seria substituído por uma administração internacional de soldados e oficiais egípcios, jordanianos, emiradenses e sauditas.
Ainda ontem, se registravam alguns progressos nas negociações indiretas entre Israel e o Hamas, mediadas pelos Estados Unidos, Egito e Catar, e parecia que o Hamas estava considerando uma antiga proposta estadunidense para um acordo parcial entre as duas partes. Esse acordo teria levado o Hamas a libertar dez dos reféns israelenses vivos (e dezoito corpos) em troca da libertação de várias centenas de prisioneiros palestinos mantidos em prisões israelenses e da entrada em vigor de um cessar-fogo de sessenta dias, acompanhado, de qualquer forma, por uma espécie de garantia estadunidense ao Hamas de que, após essa trégua, Israel não retomaria a guerra.
No entanto, Netanyahu, que anteriormente havia exercido pressões por tal acordo, se empenhou com determinação para propor um acordo alternativo para encerrar a guerra, que incluiria a libertação de todos os reféns pelo Hamas, mortos ou vivos, e um compromisso de desarmar e abandonar efetiva e definitivamente a Faixa de Gaza. Fontes de Jerusalém sugerem que Netanyahu tem o total apoio do presidente dos EUA, Trump, que não vê a hora de encerrar a guerra e ver o Hamas aniquilado ou desarmado e a libertação dos reféns.
Os opositores de Netanyahu argumentam que as negociações em andamento (que neste momento não se sabe se continuarão ou serão interrompidas) não estariam destinados a se concluir tão rapidamente, já que o primeiro-ministro israelense está interessado em prolongá-las para manter Israel em estado de alerta pelo maior tempo possível, garantindo assim a longevidade de sua coalizão, o que equivale a prolongar seu mandato. Esse objetivo também visaria retomar a guerra e lançar uma ofensiva prolongada que incluiria a conquista da Cidade de Gaza e, posteriormente, de outras áreas sob controle do Hamas.
A opinião pública israelense e aquela árabe têm acompanhado as negociações na esperança de uma resolução para o conflito por meio de um acordo negociado que inclua um cessar-fogo de sessenta dias ou o fim definitivo da guerra em Gaza; mas o espaço para negociações agora poderia ser praticamente zerado.