23 Julho 2025
Analista vê pedidos de impeachment como estratégia da extrema-direita para influenciar eleições e Senado em 2026
A reportagem é de Adele Robichez, publicada por Brasil de Fato, 22-07-2025.
A iminente prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acirrou ainda mais o clima entre Judiciário e Legislativo. Em movimentação mais recente, os parlamentares de oposição apresentaram pedidos de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, a cientista política Graziele Albuquerque avalia que os pedidos, embora sem perspectiva concreta de avançar, cumprem uma função política. “O objetivo é muito mais pautar o assunto pra relembrar que, sim, o impeachment de ministro pode acontecer”, aponta.
Para Albuquerque, a movimentação da oposição mira as eleições de 2026. “Eu não tenho dúvida de que os partidos de extrema-direita vão tentar capitanear votos pra candidatos pro Senado, especialmente falando de partidos de extrema-direita e não propriamente de uma direita democrática”, complementa.
Ela lembra que a tensão entre os poderes não é nova, mas ganhou contornos mais graves nos últimos anos. “Temos um Congresso que passou a ter muito poder, sobretudo o poder orçamentário, que é característico do Executivo, sem ter o ônus disso”, critica.
Nesse cenário, “o Judiciário tem sido uma baliza extremamente importante pra uma crise democrática. O 8 de janeiro me parece muito inequívoco em relação a isso”, indica a cientista política.
No entanto, a especialista acredita que provocações bolsonaristas não surtirão o efeito esperado. “Não acho que ‘morder a isca’ seja o caso de um tribunal que está muito consciente dos passos que tem dado e tem sido muito cauteloso para evitar furos no processo judicial”, observa.
Na leitura de Graziele, a Corte tem demonstrado “aprendeu muito depois da Lava Jato”, criticada por abusos e parcialidade. “O Supremo vem dando passos firmes, porém muito conscienciosos para evitar que o tribunal seja acusado de açodamento ou medidas autoritárias”, compara.
Ainda assim, ela reconhece o contexto de pressão, uma vez que “temos um Judiciário que é árbitro, mas que também é alvo em determinados aspectos”.
“A pressão existe, inclusive questionamentos sobre as decisões judiciais em redes sociais, mas, na medida do possível, o Judiciário tem tentado não abrir tanto o flanco para que essas críticas o atinjam. Nesse momento histórico, há mais coesão do que propriamente discordância”, avalia.
Ela acredita que o avanço ou não das tensões dependerá do cenário político na volta do recesso parlamentar.
“A pauta da anistia, a pauta de impeachment e de limitação de poder dos ministros estão aquecidas e desaquecidas a depender do momento político. A popularidade do governo, os níveis de economia e, sobretudo, a disputa de 2026 vão dar o tom de grande parte dessas discussões”, conclui.