Trump, o tarifaço e o ataque à soberania brasileira. Destaques da Semana no IHU Cast

Extrema-direita tenta pressionar o Estado brasileiro em um misto de viralatismo e subserviência ao que pode ser o começo do declínio definitivo dos EUA

Arte: Mateus Dias | IHU

Por: Cristina Guerini e Lucas Schardong | 12 Julho 2025

A semana começou movimentada no Brasil com a reunião dos BRICS. Mas ninguém esperava o que estava por acontecer na sequência. A tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros importados foi um ataque à soberania, à política e ao judiciário do país. O crime de lesa-pátria foi articulado pelo clã Bolsonaro, mas, ao que tudo indica, foi mais um tiro no pé. Voltamos também a olhar para a Palestina e o plano israelense de limpeza étnica. No final, palavras proféticas são um convite para nos inspirar. Esses e outros assuntos nos Destaques da Semana

Arreganhos Trumpistas

Trump taxou o Brasil para defender Bolsonaro. Em resposta, aguardamos uma contundente e recíproca do governo brasileiro diante da "Maligna e megalomaníaca”, segundo Paul Krugman, taxação trumpista. Até o Estadão conclamou a defendermos nossa soberania. “Que o Brasil não se vergue diante dos arreganhos de Trump, de Bolsonaro e de seus associados liberticidas. E que aqueles que são verdadeiramente brasileiros, seja qual for o partido em que militam, não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha os ideais da democracia”.

Pressão

Mas a jogada não é apenas política, atende também aos interesses das Big Techs, como revelou a Agência Pública, que aponta que “um grande grupo de lobby financiado pelas Big Techs dos Estados Unidos, que tem como membros Google, Meta, Microsoft, Amazon, Uber, Apple, Pinterest e E-Bay, está ligado à ameaça de Donald Trump de investigar práticas comerciais do Brasil. A investigação foi anunciada junto à decisão de aumentar as tarifas de importação de produtos brasileiros. Apenas alguns minutos depois de Trump anunciar na rede Truth Social o seu tarifaço contra o Brasil, o grupo publicou uma nota aplaudindo a iniciativa".

Clã bolsonaro

O vice-presidente Geraldo Alckmin avaliou que: “Agora a gente vê que esse clã, mesmo fora do governo, continua trabalhando contra o interesse brasileiro e contra o povo brasileiro. Antes era atentado à democracia, agora é um atentado à economia, prejudicando as empresas e prejudicando os empregos”.

BRICS e a reorganização geopolítica

Trump ameaça o Brasil também por causa do grupo dos BRICS, que se reuniu essa semana no Rio de Janeiro. “Poucas horas após os representantes dos países dos BRICS, reunidos no Rio de Janeiro, emitirem nova declaração conjunta, criticando medidas de protecionismo comercial e exortando soluções multilaterais e pacíficas para os grandes dilemas globais. O presidente Trump reagiu e ameaçando impor tarifas adicionais de 10% sobre produtos dos países que “se alinhem com as políticas antiamericanas do BRICS”. A afirmação é de Tiago Nogara.

Limpeza étnica e desumanização

Agora vamos ao Oriente Médio. Não podemos silenciar diante ao drama da Palestina. Na mesma semana em que os BRICS apelaram pela solução do conflito com dois estados, Israel reafirmava, junto a presidente dos Estados Unidos, seu plano de limpeza étnica, que tem, entre as medidas, a pretensão trancar 600 mil palestinos em um campo nas ruínas de Rafah, no sul de Gaza. Enquanto isso, os horrores do genocídio israelense em Gaza não cessam.

Cerco colonial

Mas precisamos olhar além de Gaza e ver que o cerco Israelense e seu projeto colonial também avançam sobre a Cisjordânia, onde fica a capital da Palestina e os colonos agem com extrema violência. Embora os assentamentos na Cisjordânia sejam ilegais, no momento existem 144 assentamentos oficiais e 224 postos avançados. Isto é, 60% da área está sob controle israelense.

Dinâmica brasileira

Voltamos ao Brasil com uma análise de José de Souza Martins. Em entrevista, o sociólogo recuperou os problemas incrustados na sociedade escravista que forma o Brasil. “A dinâmica do Brasil é uma dinâmica oculta. Não é o que sai no jornal. Não é o que sai nas análises políticas. Nós estamos de cabeça para baixo. Tudo funciona do avesso. Nessa dinâmica, existe um protagonismo histórico das populações simples, dos desvalidos, dos marginaliza dos, dos excluídos. Eles fazem história indiretamente”, assinalou.

Sobrou para o Curupira

Em ano de COP30, até o Curupira, nosso mascote para a COP e no folclore guardião das florestas e dos animais, entrou na discussão. “Com os pés virados ao contrário, o menino ardiloso deixa pegadas simulando que anda para a frente quando caminha para trás”, alertou Marcelo Leite, fazendo uma relação com a irrelevância que a conferência deve ter no cenário global. Em artigo, o jornalista advertiu: “se no longo prazo estaremos todos mortos, no médio prazo, estaremos todos fritos”.

Segundo o autor, “bastam dois exemplos para indicar que o fundo do poço de petróleo, carvão e gás natural tem alçapão: inteligência artificial (IA) e aparelhos de ar-condicionado. Dois devoradores de eletricidade, cuja geração ainda é 60% de origem fóssil no mundo.

Resistência

Resistência, palavra que é definida como uma forma de defesa da totalidade vivenciada. Assim, há 48 anos, as Avós da Praça de Maio, na Argentina, continuam ressignificando a resistência. Ao encontrar o neto de número 140, Estela de Carlotto afirmou que este ato “era um bálsamo para continuar, apesar das circunstâncias impostas por um governo que busca destruir as políticas de Memória, Verdade e Justiça. Mais uma vez, a verdade devastadora prevalece sobre o esquecimento, e a identidade floresce. Ainda faltam 300 netos apropriados durante o terrorismo de Estado para serem encontrados. Continuemos sendo aquele país que iluminou o mundo no caminho da memória. Lutemos para que a verdade não se apague", instou Estela.

Construtores da vida ou cúmplices do mal?

Hoje, somos convocados por uma mensagem profética escrita pelo cardeal Mimmo Battaglia, arcebispo de Napóles. Ele nos interroga: seremos construtores da vida ou cúmplices do mal? Seu texto, traça palavras que devem não somente ser lidas, mas sentidas pela alma.

Battaglia conclama o mundo: “Desarmem os canhões. Silenciem os títulos da bolsa que sobram às custas da dor. Restituam ao silêncio a aurora de um dia que não manche as ruas de sangue. A aurora não pertence a quem tem canhões, mas a quem guarda um abraço. Silencie as sirenes, dobre as bandeiras inchadas de barulho e devolva-nos um silêncio capaz de fazer florescer o futuro”.

Clique na imagem abaixo e ouça o podcast na íntegra para ficar por dentro dos principais acontecimentos da semana.

Os programas do IHU estão disponíveis nas plataformas Anchor e Spotify e podem ser ouvidos on-line ou baixados para o seu celular. Ouça outros episódios clicando aqui

 Leia mais