03 Julho 2025
A direita israelense se opõe ao plano americano aceito por Netanyahu. Enquanto isso, o número de mortos na Faixa de Gaza ultrapassou ontem 57 mil.
A reportagem é de Paolo Brera, publicada por La Repubblica, 03-07-2025.
O Hamas anuncia aos mediadores do Catar e do Egito que está avaliando a proposta de cessar-fogo de 60 dias, formulada por Donald Trump e aceita por Israel, e a bolsa de valores israelense imediatamente atinge seu pico: as finanças apostam que este é o momento certo, e o índice TA35 ultrapassa a marca inédita de 3 mil pontos. O "Ministro da Saúde" da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, atualiza o número de palestinos mortos pelo exército israelense: sobe para 57 mil, com as últimas 142 mortes nas últimas 24 horas, e "os corpos de várias vítimas permanecem sob os escombros e nas ruas, com ambulâncias e equipes de defesa civil impossibilitadas de alcançá-los devido aos bombardeios".
É nessa situação dramática para todos os presos em Gaza — civis palestinos e reféns israelenses — que a diplomacia caminha na corda bamba entre interesses aparentemente irreconciliáveis. Enquanto o Hamas reitera aos mediadores que deve considerar um cessar-fogo apenas no âmbito de um acordo que ponha fim à guerra em Gaza e garanta a retirada das forças israelenses, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu recebe aplausos ao garantir que "não haverá mais Hamas, não haverá mais 'Hamastão'. Não voltaremos a isso. Acabou. Libertaremos todos os nossos reféns. Dizer: 'Bem, como você pode dizer isso? São dois objetivos opostos' é absurdo: alcançaremos ambos. Vamos eliminá-los completamente. Não perderemos esta oportunidade de derrotar nossos inimigos".
In a single day this week, Israeli ministers pushed to gut public broadcasting, a mayor vowed to ban Haaretz from his city, and an Israeli strike in Gaza killed another journalist | Haaretz Today @etannechin https://t.co/geopliu0sM
— Haaretz.com (@haaretzcom) July 2, 2025
Mas "pela primeira vez há um otimismo real de que o Hamas dirá 'sim'", disseram duas fontes "próximas às negociações" ao Jerusalem Post. O aviso de Trump à liderança palestina é peremptório: "Espero, para o bem do Oriente Médio, que o Hamas aceite o acordo, porque, caso contrário, para eles, a situação só pode piorar". E a aprovação israelense ao rascunho, que seria uma versão revisada com ajustes do "rascunho de Witkoff", juntamente com a abertura do Hamas para "estudar a proposta", pode marcar um ponto de virada. A proposta prevê a libertação de dez reféns, oito no primeiro dia e dois no quinquagésimo, e a devolução de 18 corpos. Durante os 60 dias, e "mesmo depois", de acordo com as garantias oferecidas pelos Estados Unidos ao Hamas, o fim definitivo das hostilidades seria discutido.
Mas precisamos lidar não apenas com as ambições do Hamas, que aposta no fim das hostilidades para sobreviver, mas também com as tensões políticas internas em Israel, onde a direita está furiosa com a ideia de interromper as operações militares. O Ministro da Defesa, Israel Katz, visita as tropas em Rafah e incita os reservistas: "Matar o inimigo, trazer os reféns para casa e vencer: esta é a nossa missão. Não há possibilidade de nos rendermos ou de nos comprometermos".
Enquanto isso, o massacre de palestinos continua. Um ataque aéreo israelense teve como alvo uma tenda de deslocados perto da escola Al-Dahyan em Sheikh Radwan, a oeste da Cidade de Gaza, matando três pessoas, segundo o diário palestino al Quds, que relatou mais 11 mortos na fila por ajuda e dezenas de mortos em várias áreas da Faixa de Gaza. E o diário israelense Haaretz denuncia, em uma longa investigação baseada nos relatos de soldados israelenses em Gaza, que "no último mês, o exército israelense atirou deliberadamente contra palestinos perto de locais de distribuição de ajuda. A partir de conversas com oficiais e soldados, constata-se que os comandantes ordenaram que as tropas atirassem contra a multidão para afastá-la ou dispersá-la, embora estivesse claro que ela não representava qualquer ameaça".