27 Junho 2025
"Não basta adorar-te no Pão se não te reconhecemos nos corpos dilacerados de Gaza, de Cartum, de Kiev, nas mães sem filhos, nas crianças sem escolas, na carne desfigurada pela guerra", escreve Fabio Tesser, em poema publicado no seu Facebook, 18-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não é mais tempo
de hóstias guardadas entre o ouro
enquanto os corpos reais
são pisoteados na lama.
Não é mais tempo
de procissões solenes
que evitam as ruas de sangue,
as praças de dor,
os campos de refugiados,
as cidades destruídas por drones
e pelo silêncio culpado.
Não basta adorar-te no Pão
se não te reconhecemos nos corpos dilacerados de Gaza,
de Cartum,
de Kiev,
nas mães sem filhos,
nas crianças sem escolas,
na carne desfigurada pela guerra.
Fizemos da Eucaristia um refúgio seguro,
enquanto tu estás lá fora,
entre os escombros,
à procura de casa.
Tu não estás nos vasos sagrados,
mas nos corpos profanados.
Não te escondes por trás de fórmulas,
mas gritas nos campos minados
e nos silêncios diplomáticos que matam.
“Corpus Domini”: o teu Corpo continua a ser partido
não só no altar,
mas nos crucifixos da história.
Faz de nós pão partilhado,
fragmentos errantes de misericórdia,
estilhaços do teu amor
na carne viva da humanidade ferida.
Sopra, Espírito,
sobre o altar das nossas seguranças,
dispersa-nos como partículas
nas periferias do mundo,
nas trincheiras do coração humano,
onde ainda hoje a Ressurreição é um desafio,
uma ferida que pulsa,
uma esperança que luta.
Não haja paz em nossas igrejas
enquanto houver guerra
em teu Corpo.