25 Junho 2025
"A entrada de Trump na guerra contra o Irã não é apenas um erro político; representa um fracasso moral. Ignora a história, desconsidera os ensinamentos da Igreja, ignora os conselhos de instituições internacionais e aproxima o mundo de um conflito aberto em uma região que já carrega feridas profundas."
A seguir, reproduzimos o editorial do National Catholic Reporter, 23-06-2025.
"Meu legado do qual mais me orgulho será como pacificador e unificador", proclamou o presidente Donald Trump em seu discurso de posse em janeiro.
Seis meses depois, na madrugada de domingo, horário do Irã, os militares americanos, sob a direção entusiasmada de Trump e sem a aprovação do Congresso, entraram na guerra israelense contra o Irã, lançando uma série de ataques aéreos contra o país. Em estreita coordenação com Israel, bombas causaram danos significativos às instalações nucleares em Isfahan, Natanz e Fordo, informou o Pentágono. Utilizando bombardeiros furtivos B-2 baseados no Missouri, mísseis lançados por submarinos e munições para destruir bunkers, a Casa Branca enquadrou a operação como um ataque ousado para neutralizar a ameaça nuclear iraniana.
O ataque representa um passo em falso perigoso e moralmente imprudente — uma traição tanto à doutrina católica quanto à consciência global. Tornou os americanos menos seguros. De fato, o Irã respondeu na segunda-feira, disparando mísseis contra militares americanos na Base Aérea de Al Udeid, no Catar, a maior instalação militar americana no Oriente Médio e sede avançada do Comando Central dos EUA. As defesas aéreas do Catar interceptaram o ataque.
O senador democrata Tim Kaine, da Virgínia, estava entre pelo menos uma dúzia de membros do Congresso que condenaram a ação, dizendo que Trump não consultou o Congresso, conforme exigido pela Constituição dos EUA, antes de se juntar à guerra de Israel contra o Irã.
"O Congresso precisa autorizar uma guerra contra o Irã", disse Kaine no programa "Face the Nation". "Essa guerra de Trump contra o Irã, nós não fizemos. O Congresso deveria ser consultado sobre isso. Não fomos, e o Congresso precisa ser notificado, não após o fato, mas com antecedência. Não fomos".
Para ser claro, o regime iraniano é profundamente repressivo e perigoso. Há muito tempo enriquece urânio em excesso para uso civil e em desacordo com as normas internacionais. Apoiou milícias em todo o Oriente Médio e bancou grupos terroristas que semearam o caos do Líbano ao Iêmen. Sua liderança se envolve rotineiramente em repressão brutal em casa e em retórica antiocidental no exterior.
Mas, por mais de três décadas, cinco governos americanos — Clinton, Bush, Obama, Trump (em seu primeiro mandato) e Biden — enfrentaram provocações semelhantes e ainda assim escolheram a diplomacia, a contenção e a pressão multilateral em vez de lançar um ataque militar direto.
Se o passado for um prólogo, os EUA podem ter um longo caminho pela frente. Esta não é a primeira vez que os Estados Unidos iniciam uma ação militar no Oriente Médio sob a bandeira da segurança nacional. A invasão do Iraque em 2003, baseada na alegação imprecisa de armas de destruição em massa, levou à morte de milhares de militares americanos, centenas de milhares de civis iraquianos, à desestabilização regional prolongada e à erosão da credibilidade moral dos EUA.
Essa história não é distante nem esquecida. Suas consequências ainda estão se desenrolando. Essa experiência justifica um escrutínio intenso para esta última decisão.
A doutrina católica fornece uma estrutura moral clara. A tradição da guerra justa, longe de conceder autorização irrestrita à violência, impõe um ônus significativo: o uso da força deve ser o último recurso; a ameaça deve ser grave e iminente; a resposta precisa ser proporcional; e o objetivo deve ser alcançável.
Em todos os aspectos, os ataques de Trump ao Irã foram insuficientes. Os esforços diplomáticos ainda estavam em andamento. Havia evidências obscuras de uma ameaça iminente — nenhuma prova de que o Irã estivesse prestes a lançar um ataque nuclear ou cruzar o limiar de armamento.
Até o vice-presidente JD Vance admitiu no programa "This Week", da ABC, que a inteligência americana não consegue dizer onde está o estoque nuclear do Irã, se foi destruído ou mesmo danificado. Isso coloca o mundo em risco se o Irã tiver retirado o urânio das instalações bombardeadas antes dos ataques, levando-o para novos locais onde o enriquecimento poderia prosseguir sem interrupção e ogivas poderiam ser construídas para serem colocadas em mísseis. Não sabemos o que vem a seguir.
Lançar bombas é um passo fácil demais, mas perigoso. A diplomacia é extremamente difícil, mas essencial para garantir a paz mundial.
Segundo a doutrina católica da guerra justa, mesmo evidências de capacidade nuclear não justificam uma ação militar preventiva. A ameaça não deve ser apenas grave, mas também iminente. O medo do que pode acontecer um dia descumpre esse padrão moral.
Agir sem essa clareza transforma especulação em justificativa — e corre o risco de provocar guerras sem fim, exatamente o que Trump prometeu repetidamente acabar durante a campanha eleitoral.
Horas após o atentado, na festa de Corpus Christi, o Papa Leão XIV expressou consternação em sua mensagem do Angelus, chamando a escalada de "alarmante" e pedindo aos líderes mundiais que "interrompam a tragédia da guerra antes que ela se torne um abismo irreparável".
Ele disse claramente: "A guerra não resolve problemas; ela os amplifica e produz feridas profundas... que levam gerações para cicatrizar". Ele nos lembrou que "nenhuma vitória armada pode compensar a dor das mães, o medo das crianças, o futuro roubado".
Nessas palavras, ouvimos não apenas a voz de um papa, mas de uma igreja que está cada vez mais rejeitando a guerra como meio de alcançar a paz.
O governo disse que os Estados Unidos estavam em guerra com o programa nuclear do Irã, não com o Irã. Essa é uma distinção sem diferença. "É a mesma coisa", disse o senador democrata Mark Kelly, do Arizona. E Trump contradisse a máquina de propaganda de seu próprio governo, trabalhando horas extras após postar nas redes sociais no domingo, essencialmente pedindo uma "mudança de regime".
Outra evidência de que os EUA estavam entrando na guerra de Israel com o Irã foi a coordenação dos ataques com a Força Aérea Israelense; o Axios relatou que Israel, a pedido de Trump, eliminou vários sistemas de defesa aérea iranianos nas 48 horas que antecederam o ataque dos EUA à instalação nuclear iraniana de Fordo.
Vale a pena perguntar — neste momento, mais do que nunca — se a estrutura da guerra justa continua moralmente adequada na era nuclear.
Papas, de João XXIII a Francisco, têm alertado para a necessidade urgente de cautela. Em Pacem in Terris, o Papa João XXIII apelou à abolição total das armas nucleares. O Papa João Paulo II declarou em 1982 que, na era nuclear, a guerra já não é um meio adequado para resolver conflitos. O Papa Francisco declarou imoral não só o uso de armas nucleares, mas até mesmo a sua posse.
Estas não são reflexões teológicas abstratas; são lembretes urgentes de que a guerra moderna mudou a escala e a velocidade da devastação. Quando a guerra ameaça envenenar a terra, a água e as gerações futuras, ainda podemos falar de proporcionalidade? Quando a diplomacia é interrompida em favor de ataques preventivos a instalações nucleares, falhamos no teste do "último recurso".
A Igreja Católica, liderada por papas e informada por séculos de experiência vivida, está indo além da teoria da guerra justa em direção a uma ética mais profunda da não violência evangélica. Jesus nunca sancionou a violência em defesa da justiça. Ele curou inimigos, nos chamou para amar aqueles que nos perseguem e alertou que aqueles que vivem pela espada perecerão por ela.
A Igreja está redescobrindo esse ensinamento radical, não como passividade, mas como clareza moral. A não violência evangélica não é fraqueza; representa a resistência mais firme e fiel à lógica da dominação.
A entrada de Trump na guerra com o Irã não é apenas um erro político; representa um fracasso moral. Ignora a história, desconsidera os ensinamentos da Igreja, ignora os conselhos de instituições internacionais e aproxima o mundo de um conflito aberto em uma região que já carrega feridas profundas.
Apelamos aos católicos — especialmente aos que ocupam cargos de liderança — para que falem com clareza e urgência. Apelamos a Leão para que envie diplomatas qualificados da Santa Sé à Casa Branca. Instamos os bispos a levantarem a voz. Convidamos teólogos e pastores a ensinarem o custo total da violência. E apelamos a todas as pessoas de consciência para que resistam à falácia da paz pela força, de que a paz pode ser construída sobre as cinzas da guerra.
Existe outro caminho. É mais difícil e mais lento, mas ainda assim mais resiliente. E é o único caminho consistente com o Evangelho de Jesus Cristo. Esse é o caminho que somos chamados a trilhar — e a exigir de nossos líderes.
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