21 Junho 2025
A memória do Concílio de Niceia, que há 1.700 anos condenou Ário como negador da divindade do Verbo, reapresenta hoje um dilema decisivo para aqueles que se professam cristãos: é possível aceitar o mistério de Deus expresso então com categorias gregas, ou dever-se-ia abandonar um teísmo incompatível com a modernidade? Ário, um sacerdote, viveu em Alexandria do Egito, no início do século IV.
O comentário é de Luigi Sandri, jornalista italiano, pulicado por L'Adige, 16-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ário falava que o Verbo ("E o Verbo se fez carne", escreve o Evangelho de João) era "semelhante", mas não "igual" ao Pai. Como a questão agitava a Igreja, Constantino, mesmo não sendo cristão, a fim de promover a paz no império, convocou em Niceia (hoje Iznik, Turquia) um Concílio "ecumênico", isto é, com cerca de trezentos bispos, vindos de todas as partes do Império Romano, e com a presença dos legados papais.
A solene Assembleia, a primeira do gênero, condenou Ário e proclamou: "Cremos em Deus Pai todo-poderoso e em um só Senhor, Jesus Cristo, consubstancial ao Pai, Deus de Deus, luz da luz". Esse "Credo", enriquecido em alguns pontos pelo Concílio de Constantinopla em 381, ainda é recitado hoje nas liturgias dominicais. Será que os fiéis se dão conta de que proclamam Jesus como verdadeiro Deus e verdadeiro homem? Isso é oficialmente afirmado ainda hoje pelos cristãos (católicos, ortodoxos, anglicanos, luteranos, valdenses...). Uma fé que expressa um mistério insondável pela razão humana.
Justamente há uma semana, ao receber um grupo de católicos e ortodoxos que comemoravam os 1.700 anos de Niceia, Leão XIV disse: "Aquele Concílio não é apenas um evento do passado, mas uma bússola que deve continuar a nos guiar".
Não pensam assim, no entanto, aqueles grupos de "Oltre la religioni” (Para além das religiões), que sustentam que Niceia, e na prática toda a teologia cristã há séculos, se alicerça em um "teísmo" que, segundo eles, é inadmissível. Deus é "Outro", "Além" e, portanto, afirmam, não pode ser descrito por palavras humanas.
Ao que os "teístas" respondem: o próprio Jesus nos ensinou a rezar dizendo "Pai Nosso que estás nos céus...". Em suma, a fé cristã é necessariamente "teísta", mesmo que nunca se deveria esquecer a insondável, inefável e inacessível alteridade do Deus Trino e o mistério que envolve Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Afinal, ao se afirmar a existência de Deus, dever-se-ia admitir, em princípio, que a mente humana jamais será capaz de compreendê-lo plenamente. Se, por exemplo, como fazem alguns antiteístas, for descrito como "Energia Suprema", não estariam sendo usados conceitos humanos para descrever o indescritível? Afinal, tanto nos séculos passados quanto em nossos dias, milhares e milhares de pessoas enfrentaram até o martírio proclamando Jesus como Deus-Homem, ou seja, um mistério profundo, mas considerado verdadeiro.
Aquele sangue derramado foi, portanto, uma insensatez, ou antes, um testemunho de fé? E, em todo caso, se questionarão os fiéis ao serem informados pela TV que o Papa falou de Nicéia, sem saber nada sobre aquele Concílio? É urgentemente necessária pelo menos uma modesta atualização histórica.