26 Mai 2025
"É bem possível" que sanções sejam aplicadas contra o juiz Moraes, disse o ministro das Relações Exteriores, apoiado por Trump, Marco Rubio. O juiz está presidindo o julgamento de Bolsonaro por tentativa de derrubar o líder do PT em 2023.
A reportagem é de Darío Pignotti, publicada por Página|12, 26-05-2025.
Entre anúncios diplomáticos e pressão militar, Donald Trump continua a intensificar sua hostilidade em relação a Lula. O chefe de operações de combate do presidente dos EUA é o capitão aposentado Jair Bolsonaro, que está sendo processado, juntamente com outros 20 suspeitos, por orquestrar um golpe de estado.
Nesse plano, o líder da Casa Branca e seu colega brasileiro estão empregando técnicas ensinadas em manuais de guerra híbrida para prejudicar o governo Lula, que está prestes a completar dois anos e meio. O objetivo final: abrir caminho para que a extrema direita retome o poder nas eleições do ano que vem, resumiu o líder do grupo, Lindbergh Farias. Junto com sua condenação, o deputado defendeu que o filho de Bolsonaro fosse processado por uma série de crimes, incluindo "traição à pátria".
Aparentemente, o caminho insurrecional não é a primeira opção de Trump, mas essa opção nunca foi completamente descartada entre os bolsonaristas mais ferrenhos. Que há alguns (não se sabe em que proporção) nas Forças Armadas, nas polícias estaduais e, claro, em grupos paramilitares que operam em vários estados.
Ao retornar de uma viagem à Turquia e ao Oriente Médio, onde foram discutidas as guerras na Ucrânia e em Gaza, conflitos cruciais para Washington e a segurança global, o secretário de Estado Marco Rubio se referiu à situação no Brasil.
Na situação atual, as armas diplomáticas estão apontadas para o Supremo Tribunal Federal em meio ao julgamento dos acusados de se rebelarem contra Lula em 8 de janeiro de 2023, quando ele estava no Palácio do Planalto há apenas sete dias. Naquele dia, milhares de bolsonaristas, liderados por comandos do exército, os "garotos pretos" disfarçados de civis, devastaram os palácios da presidência, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal em questão de horas.
A outra parte dessa conspiração contemplava matar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o juiz Alexandre de Moraes, para estabelecer uma ditadura militar.
Bolsonaro autorizou o prosseguimento do plano de assassinato, segundo investigação da Polícia Federal endossada pela Procuradoria-Geral da República.
Enquanto era chefe do tribunal eleitoral, Moraes condenou Bolsonaro por crimes cometidos durante a campanha que antecedeu as eleições de 2022 e, dois anos depois, assumiu a investigação sobre os golpistas de 2023.
A designação naquele julgamento histórico — o primeiro a levar um ex-presidente e vários generais a julgamento — transformou Moraes em um alvo principal para os odiadores da direita. Sejam eles brasileiros ou estrangeiros.
"É muito possível" que sanções sejam aplicadas contra Moraes, disse o secretário de Estado Rubio na semana passada perante a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados. Indiferente às quase 900 páginas de provas, depoimentos e documentos contra Bolsonaro invocados pelo Supremo Tribunal Federal, o chanceler apoiado por Trump demonstrou sua intenção de aplicar a Lei Magnitsky contra Moraes. A lei prevê sanções contra estrangeiros envolvidos em crimes de direitos humanos.
Com a mesma predisposição hostil ao governo Lula, poucos dias antes de discursar no Capitólio, Rubio enviou o chefe do departamento de sanções do Departamento de Estado a Brasília para pressionar o Itamaraty a se alinhar às prioridades estratégicas do governo republicano. E se não, ele deve ser avisado das punições previstas.
Marco Rubio deixou em aberto a possibilidade de aplicação da draconiana Lei Magnitsky ao responder a uma pergunta do deputado Cory Mills, que na mesma audiência falou da "iminente prisão" de Bolsonaro por motivos "políticos".
Na visão de Mills, o que acontece no Supremo Tribunal Federal se deve à "degradação" institucional em que o Brasil afundou após o retorno da esquerda ao poder.
De seu gabinete no Palácio do Planalto, ao lado do gabinete do presidente Lula, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, "repudiou" as declarações de Rubio nesta sexta-feira, atribuindo-as a uma "conspiração" envolvendo a "extrema direita" dos dois países.
A ministra se manifestou em defesa da soberania do seu país e do direito de tomar decisões sem ceder à interferência estrangeira. Palavras que merecem ser consideradas primeiro como reação a um gesto do Departamento de Estado e depois no contexto de movimentações recentes da diplomacia presidencial brasileira: depois das recentes visitas de Lula à China e à Rússia, os gostos são contrários ao paladar de Trump.
Eleito senador pela Flórida em 2010, Marco Rubio recebeu Jair Bolsonaro quando o então presidente viajou frequentemente ao estado americano entre 2019 e 2022. Bolsonaro retornou ao estado em janeiro de 2023, onde ele e seu assessor, um membro dos notórios "Kid Pretos", teriam emitido diretrizes para a rebelião que tentou derrubar o recém-eleito Lula.
Foi na Flórida que o vínculo de Rubio com o deputado Eduardo Bolsonaro se fortaleceu. Seu pai o encarregou de representá-lo em novos fóruns de direita, como a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), frequentada por outros líderes desse grupo ideológico, como o presidente argentino Javier Milei e o novo candidato presidencial do Chile para as eleições de novembro do ano que vem, José Antonio Kast.
As palavras usadas por Marco Rubio e pelo deputado Mills para se referir ao Brasil foram quase idênticas às declarações que Eduardo Bolsonaro tem feito rotineiramente desde que se mudou para os Estados Unidos para fazer lobby contra o governo do Partido dos Trabalhadores.
Amigo de Steve Bannon, talvez o mais importante divulgador do extremismo global, Eduardo Bolsonaro comemorou a possível retaliação contra o juiz Moraes. E, gabando-se de ter informações privilegiadas do Departamento de Estado, insinuou que outros ministros do Supremo Tribunal Federal e autoridades brasileiras em geral poderiam ser afetados pelas punições previstas na Lei Magnitsky.
O filho de Jair, enfurecido, prometeu "Nós venceremos" durante uma entrevista à CNN. As declarações ecoaram o tom ameaçador dos discursos que seu pai e o pastor evangélico fizeram recentemente no centro de Brasília, a poucas quadras do fórum. O protesto defendeu anistia aos golpistas e foi pródigo em ataques ao governo e à Suprema Corte, além de ameaças veladas de uma futura revolta.
A reportagem de Eduardo Bolsonaro em Washington foi ao ar na última quarta-feira. A chegada do chefe do Comando Sul, almirante Alvin Holey, estava prevista para o mesmo dia no estado do Acre, na região amazônica, informou a embaixada dos EUA, sem fornecer mais detalhes.
Segundo relatos, a pauta do militar incluía uma exigência para que o Brasil autorizasse a presença de armas e tropas americanas na Base Aérea de Natal, cidade da região Nordeste onde uma unidade da Força Aérea dos EUA operou durante a Segunda Guerra Mundial.
O governo Trump está defendendo o argumento do "direito histórico de retorno operacional" para investimentos feitos na década de 1940, exigindo que o governo Lula ceda sua soberania sobre esse enclave estratégico devido à sua influência no continente africano.
Na última sexta-feira, a presidência da bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados denunciou as escaramuças da "guerra híbrida" orquestradas entre o bolsonarismo e o trumpismo.
"A sórdida campanha de Eduardo Bolsonaro junto a políticos americanos revela a estratégia de um golpe sustentado, associado ao complexo de inferioridade de Bolsonaro em relação ao governo americano".