19 Abril 2024
Pela terceira vez consecutiva, o Papa convidou algumas mulheres a participar na reunião do Conselho dos Cardeais (C9). E elas aceitaram o convite: esta segunda-feira, 15 de abril, marcaram presença na Casa Santa Marta não apenas os nove cardeais que regularmente aconselham o Pontífice no governo da Igreja, mas também a socióloga e teóloga italiana Stella Morra, a irmã Regina da Costa Pedro, diretora das Pontifícias Obras Missionárias (POM) do Brasil, e a irmã Linda Pocher, professora de Cristologia e Mariologia na Pontifícia Faculdade de Ciências da Educação Auxilium de Roma, que já havia estado presente nas últimas reuniões.
A reportagem é de Clara Raimundo publicada por 7Margens, 16-04-2024.
Escutar as mulheres “é fundamental porque nós somos a maioria, nós somos pessoas ativas na Igreja, o Espírito tem muito a dizer à Igreja e ao mundo através das mulheres. Então, a escuta das mulheres é algo que enriquece a Igreja e a ajuda a caminhar mais segundo aquilo que é o projeto de Deus”, enfatizou a irmã Regina da Costa Pedro, em declarações ao Vatican News, após ter participado na reunião.
A diretora das POM Brasil considera muito positiva a “atitude da Igreja de querer superar essa dívida de escuta que tem para com tantos sujeitos eclesiais, entre eles as mulheres” e encara-a como “uma porta aberta deste processo sinodal para ouvir tantas outras pessoas”, nomeadamente os leigos, os jovens e outras minorias marginalizadas.
De resto, sentada ao redor da mesma mesa que o Papa e os cardeais de diferentes proveniências, nesta segunda-feira, Regina da Costa Pedro diz ter-se sentido numa “minissalão sinodal”.
E durante a reunião uma das mensagens que a religiosa procurou passar foi, precisamente, a da “importância de sentar-se à mesma mesa, e não que alguns estejam sentados à mesa e que outros estejam sentados debaixo da mesa”. Uma situação que continua a acontecer, alertou: “muitas vezes, as mulheres são colocadas à margem da Igreja, mesmo estando ao centro. Como se fosse normal que se alimentassem das migalhas que caem da mesa”, tal como acontece com “os cachorrinhos”.
Referindo a passagem bíblica do encontro de Jesus com a mulher Cananeia, Regina Pedro partilhou com os cardeais a sua interpretação: “é como se Jesus saísse da mesa e se colocasse debaixo da mesa junto com a mulher, vendo a perspectiva dela, e a partir daí descobrindo como é grande a fé dessa mulher”. Nesse momento, destacou a religiosa, aquela mulher passou a ser “protagonista”.
Insistindo que são precisos “passos de superação” para vencer o “machismo que existe na Igreja”, a diretora das POM Brasil concluiu: “quando a Igreja realmente acordar para tudo aquilo que o espírito tem a dizer também a partir de nós, acreditamos que essas indicações são importantes para que haja uma mudança”.