11 Abril 2024
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 10-04-2024.
A fortaleza, a mais “combatente” das virtudes, nas palavras do Papa, foi o objeto da catequese que Francisco leu com voz clara e poderosa na audiência geral desta quarta-feira, 10 de abril, onde afirmou que “as próprias paixões não são necessariamente resíduos de um pecado; mas devem ser educados, dirigidos, purificados com a água do Batismo, ou melhor, com o fogo do Espírito Santo”.
Na verdade, ele destacou no seu catecismo que “um cristão inútil, que não dedica as próprias forças ao bem, que não incomoda ninguém, é um cristão inútil”, destacando também que “Jesus não é um Deus claro e asséptico, quem não conhece as emoções humanas. Pelo contrário, quando confrontado com a morte de seu amigo Lázaro, ele cai em prantos; e em algumas de suas expressões seu espírito apaixonado brilha".
Aprofundando-se nas características específicas desta virtude, o Papa reconheceu nela “um duplo desenvolvimento, um passivo e outro ativo”. O primeiro é direcionado para o interior de nós mesmos. Existem inimigos internos que temos que derrotar, que respondem ao nome de ansiedade, angústia, medo, culpa: todas as forças que se agitam na parte mais íntima de nós mesmos e que em "algumas situações nos paralisam", por isso podemos contar, insistiu, “que a Providência de Deus será o nosso escudo e a nossa armadura”.
Sobre o desenvolvimento ativo da fortaleza, Francisco deu como exemplo “os inimigos externos, que são as provas da vida, as perseguições, as dificuldades que não esperávamos e que nos surpreendem”.
“No nosso confortável Ocidente”, continuou, “que ‘diluiu’ tudo um pouco, que transformou o caminho da perfeição num simples desenvolvimento orgânico, que não precisa de lutar porque tudo parece igual, às vezes sentimos uma nostalgia saudável dos profetas. Mas pessoas incomodadas e visionárias são muito raras. Precisamos de alguém que nos levante do 'lugar macio' em que estamos e nos faça repetir com decisão o nosso 'não' ao mal e a tudo o que leva à indiferença".
No momento de saudar os peregrinos, referiu-se inicialmente às enormes inundações em muitas regiões do Cazaquistão devido ao rápido degelo, provocando a evacuação de milhares de pessoas, às quais mostrou a sua proximidade e pediu por todos aqueles que sofrem os efeitos destes desastres naturais.
Finalmente, Francisco pediu “a Ucrânia, a Palestina e Israel martirizados, para que o Senhor nos dê a paz. A guerra está em toda parte … Não esqueçamos Myanmar, nem estes irmãos e irmãs que sofrem tanto nestes lugares de guerra. Rezemos juntos e sempre pela paz”.
Caríssimos irmãos e irmãs, bom dia!
A catequese de hoje é dedicada à terceira das virtudes cardeais, ou seja, a fortaleza. Comecemos pela descrição dada pelo Catecismo da Igreja Católica: "A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem. Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral. A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, até da morte, e enfrentar a provação e as perseguições" (n. 1808). Assim diz o Catecismo da Igreja Católica sobre a virtude da fortaleza.
Eis, pois, a mais “combativa” das virtudes. Enquanto a primeira das virtudes cardeais, isto é, a prudência, estava principalmente associada à razão do homem; e enquanto a justiça encontrava a sua morada na vontade, esta terceira virtude, a fortaleza, é frequentemente ligada pelos autores escolásticos àquilo a que os antigos chamavam o “apetite irascível”. O pensamento antigo não imaginava um homem desprovido de paixões: seria uma pedra. E as paixões não são necessariamente o resíduo de um pecado; mas devem ser educadas, devem ser orientadas, devem ser purificadas com a água do Batismo, ou melhor, com o fogo do Espírito Santo. O cristão sem coragem, que não inclina as próprias forças para o bem, que não incomoda ninguém, é um cristão inútil. Pensemos nisto! Jesus não é um Deus diáfano e assético, que desconhece as emoções humanas. Pelo contrário. Perante a morte do amigo Lázaro, desata em lágrimas; e em algumas das suas expressões transparece o seu espírito apaixonado, como quando diz: «Vim lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já se tivesse ateado!» (Lc 12, 49); e diante do comércio no templo, reage vigorosamente (cf. Mt 21, 12-13). Jesus tinha paixão!
Mas vejamos agora uma descrição existencial desta virtude tão importante que nos ajuda a dar frutos na vida. Os antigos - tanto os filósofos gregos como os teólogos cristãos - reconheciam na virtude da fortaleza um duplo desenvolvimento, um passivo, outro ativo.
O primeiro ocorre dentro de nós mesmos. Há inimigos internos que devemos derrotar, e o seu nome é ansiedade, angústia, medo, culpa: todas estas forças que se agitam no nosso íntimo e que, em certas situações, nos paralisam. Quantos combatentes sucumbem até antes de começar o desafio! Porque desconhecem estes inimigos interiores. A fortaleza é, antes de tudo, uma vitória contra nós próprios. A maior parte dos medos que surgem dentro de nós são irrealistas e não se concretizam de forma alguma. É melhor então invocar o Espírito Santo e enfrentar tudo com fortaleza paciente: um problema de cada vez, como formos capazes, mas não sozinhos! O Senhor está ao nosso lado, se confiarmos nele e procurarmos sinceramente o bem. Então, em todas as situações, podemos contar com a Providência de Deus para nos amparar e blindar.
E depois o segundo movimento da virtude da fortaleza, desta vez de natureza mais ativa. Além das provações internas, existem os inimigos externos, que são as provações da vida, as perseguições, as dificuldades que não esperávamos e que nos surpreendem. Com efeito, podemos procurar prever o que nos vai acontecer, mas a realidade é, em grande medida, feita de acontecimentos imponderáveis e, neste mar, às vezes, o nosso barco é arrastado pelas ondas. Assim, a fortaleza faz de nós marinheiros resistentes, que não se amedrontam nem desanimam.
A fortaleza é uma virtude fundamental porque leva a sério o desafio do mal no mundo. Alguns fingem que ele não existe, que tudo está bem, que a vontade humana não é por vezes cega, que as forças obscuras que trazem a morte não se debatem na história. Mas é suficiente folhear um livro de história, ou infelizmente até os jornais, para descobrir os atos nefastos de que somos em parte vítimas e em parte protagonistas: guerras, violências, escravatura, opressão dos pobres, feridas que nunca cicatrizaram e continuam a sangrar. A virtude da fortaleza faz-nos reagir e gritar “não”, um “não” categórico a tudo isto. No nosso Ocidente confortável, que diluiu um pouco tudo, transformando o caminho da perfeição num simples desenvolvimento orgânico, que não tem necessidade de lutar porque tudo lhe parece igual, às vezes sentimos uma saudável nostalgia dos profetas. Mas as pessoas importunas e visionárias são deveras raras. É preciso que alguém nos faça sair do lugar macio onde nos estabelecemos e nos obrigue a repetir resolutamente o nosso “não” ao mal e a tudo aquilo que conduz à indiferença. “Não” ao mal, “não” à indiferença; “sim” ao caminho, ao caminho que nos leva a progredir, e pelo qual devemos lutar.
Então, voltemos a descobrir no Evangelho a fortaleza de Jesus, aprendendo-a com o testemunho dos santos e santas. Obrigado!
Saúdo os peregrinos de língua portuguesa presentes na audiência de hoje, especialmente os que vieram de Portugal e do Brasil. Encorajo-vos a anunciar Jesus ressuscitado, porque Ele, que é a nossa Paz, não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza. Em seu nome vos abençoo, a vós e aos vossos entes queridos!
Dirijo o meu pensamento à martirizada Ucrânia, à Palestina e a Israel. Que o Senhor nos conceda a paz! A guerra está em todos os lugares - não esqueçamos Myanmar - mas peçamos ao Senhor a paz e não esqueçamos estes nossos irmãos e irmãs que tanto sofrem nestes lugares de guerra. Oremos juntos e sempre pela paz. Obrigado!
De entre as virtudes, a fortaleza é a que mais combate. É ela que emprega todas as nossas forças na busca do bem e domina, no interior de cada um, a ânsia, a angústia, o medo e a culpa, que são nossos inimigos domésticos. Eles tentam paralisar-nos, mas ela vence-os com a luz do Espírito Santo. E face aos inimigos externos, ou seja, às provas da vida, que por vezes chegam como perseguições ou dificuldades inesperadas, é também a fortaleza que nos permite resistir-lhes, sem medo, porque o Senhor está conosco. Trata-se duma virtude fundamental pois, ao tomar a sério o mal que existe no mundo, diz-lhe resolutamente «não». Possamos nós redescobri-la no Evangelho e na vida dos santos.