15 Março 2024
O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo e padre espanhol, publicado por Religión Digital, 12-02-2024.
Poucas frases são tão provocativas como as que ouvimos hoje no evangelho: "Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto". O pensamento de Jesus é claro. Não se pode gerar vida sem dar a própria. Não se pode fazer os outros viverem se não estivermos dispostos a nos "doar" por eles. A vida é fruto do amor e brota na medida em que sabemos nos entregar.
No cristianismo, nem sempre se distinguiram com clareza o sofrimento que está em nossas mãos suprimir e o sofrimento que não podemos eliminar. Há um sofrimento inevitável, reflexo de nossa condição criatural, que revela a distância que ainda existe entre o que somos e o que somos chamados a ser. Mas há também um sofrimento que é fruto de nosso egoísmo e injustiça. Um sofrimento com o qual nos ferimos mutuamente.
É natural que nos afastemos da dor, que busquemos evitá-la sempre que possível, que lutemos para eliminá-la de nós mesmos. Mas é precisamente por isso que há um sofrimento que é necessário assumir na vida: o sofrimento aceito como preço de nosso esforço para fazê-lo desaparecer entre os homens. "A dor só é boa se leva adiante o processo de sua supressão" (Dorothee Sölle).
É claro que na vida poderíamos nos poupar de muitos sofrimentos, amarguras e dissabores. Bastaria fechar os olhos para os sofrimentos alheios e nos fecharmos na busca egoísta de nossa felicidade. Mas sempre seria a um preço muito alto: simplesmente deixando de amar.
Quando amamos e vivemos intensamente a vida, não podemos viver indiferentes ao sofrimento grande ou pequeno das pessoas. Quem ama se torna vulnerável. Amar os outros inclui sofrimento, "compaixão", solidariedade na dor. "Não existe nenhum sofrimento que nos possa ser alheio" (K. Simonow). Essa solidariedade dolorosa traz salvação e libertação para o ser humano. É o que descobrimos no Crucificado: salva quem compartilha a dor e se solidariza com o que sofre.