O reino de Deus não pertence à Igreja. Não pertence à hierarquia. Artigo de José Antonio Pagola

(Foto: David Holifield | Unsplash)

06 Outubro 2023

O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, sobre o 27° Domingo do Tempo Comum – A (Mateus 21:33-43). É publicado por Religión Digital, 02-10-2023.

Eis o artigo.

A parábola dos “vinhateiros assassinos” é, sem dúvida, a mais dura que Jesus pronunciou contra os líderes religiosos do seu povo. Não é fácil voltar à história original, mas provavelmente não foi muito diferente daquela que podemos ler hoje na tradição evangélica.

Os protagonistas mais importantes são, sem dúvida, os agricultores encarregados de trabalhar a vinha. Seu desempenho é sinistro. Não se parecem em nada com o dono que cuida da vinha com carinho e amor para que não lhe falte nada.

Não aceitam o homem a quem pertence a vinha. Eles querem ser os únicos proprietários. Um após o outro, eles eliminam os servos que ele lhes envia com uma paciência incrível. Eles nem respeitam o filho. Quando ele chega, “o expulsam da vinha” e o matam. Sua única obsessão é “manter a herança”.

O que o proprietário pode fazer? Acabe com estes vinhateiros e entregue a sua vinha a outros “que entregarão os frutos”. A conclusão de Jesus é trágica: “Em verdade vos digo: o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produza os seus frutos”.

Desde a destruição de Jerusalém no ano 70, a parábola foi lida como uma confirmação de que a Igreja havia assumido o controle de Israel, mas nunca foi interpretada como se no “novo Israel” a fidelidade ao dono da vinha estivesse garantida.

O reino de Deus não pertence à Igreja. Não pertence à hierarquia. Não é propriedade desses teólogos ou daqueles. Seu único dono é o Pai. Ninguém deve se sentir dono da sua verdade ou do seu espírito. O reino de Deus está “no povo que produz os seus frutos” de justiça, compaixão e defesa dos últimos.

A maior tragédia que pode acontecer ao cristianismo hoje e sempre é que ele mate a voz dos profetas, que os sumos sacerdotes se sintam donos da “vinha do Senhor” e que, juntos, “expulsemos” o Filho, afogando-o em seu espírito. Se a Igreja não responder às esperanças que o seu Senhor depositou nela, Deus abrirá novos caminhos de salvação nos povos que produzem frutos.

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