15 Abril 2023
Embora a inflação de alimentos tenha aumentado em todo o mundo, a FAO garante que a magnitude do fenômeno na América Latina e no Caribe é muito maior do que em outras regiões.
A reportagem é de Isabella Cota, publicada por El País, 13-04-2023.
A América Latina vive um paradoxo. É uma região líder na produção de frutas, legumes, peixe e carne em escala global e exporta centenas de bilhões de dólares em alimentos a cada ano. Mas é também a região onde os alimentos ficaram mais caros, razão pela qual quase 57 milhões de pessoas passam fome. O problema se agravou desde a pandemia de covid-19, quando ficaram expostas as vulnerabilidades da região, inclusive o subinvestimento no desenvolvimento de fertilizantes próprios.
Ainda que a inflação, tanto geral quanto alimentar em particular, tenha aumentado em todo o mundo, a magnitude do aumento na América Latina e no Caribe é muito maior do que em outras regiões, segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). A taxa média de inflação de alimentos da região atingiu 43,9% em setembro de 2022, bem acima, por exemplo, dos 30% registrados na Ásia, região com a segunda maior inflação de alimentos do mundo.
O fenômeno está relacionado a vários fatores. A desvalorização das moedas dos respectivos países impacta o preço desses alimentos importados. O aumento do preço dos combustíveis, também à escala mundial, afeta o transporte e a distribuição. Além disso, a guerra na Ucrânia também teve um efeito importante, já que a Rússia é um dos principais fornecedores de fertilizantes para a América Latina e a guerra complicou tanto a produção quanto a compra desses produtos desde fevereiro do ano passado.
A região é exportadora líquida de alimentos. A América Latina acumula 14% da produção mundial de produtos agrícolas e pesqueiros. Brasil e Argentina optaram por tecnologias transgênicas para multiplicar suas lavouras, enquanto no México empresários de setores como o abacateiro investiram em fortes campanhas publicitárias no exterior para comercializar seu produto. Um relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) garante que a região exporta anualmente produtos no valor de 160 bilhões de dólares. 87% desse valor é destinado a outras regiões do mundo; apenas os 13% restantes ficam nos países produtores.
Esta é uma das razões pelas quais é paradoxal que 49,4 milhões de pessoas na América Latina e 7,2 milhões no Caribe passem fome, segundo dados da CEPAL. Em 5 de abril, o México liderou uma videochamada com seis chefes de estado e dois ministros da região para chegar a um acordo sobre a redução de tarifas que pode resultar em preços mais baixos de produtos básicos. A ideia era buscar “soluções conjuntas para as pressões e escassez de preços presentes na região”, bem como “fortalecer a integração regional e o comércio”, segundo o comunicado da aliança.
'Para enfrentar uma potencial crise de fome e segurança alimentar, os países podem implementar uma série de respostas políticas integradas', recomendou o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em um relatório publicado na terça-feira. “Programas de apoio agrícola, como fornecer sementes, fertilizantes e ferramentas aos agricultores, bem como treinamento e infraestrutura, como sistemas de irrigação, podem ajudar a melhorar a produção de alimentos.”
As políticas de proteção social, começando com programas de alimentação escolar ou vales ou transferências monetárias, podem ajudar a população de baixa renda a ter acesso a alimentos nutritivos, disse o multilateral. 'As políticas de regulação de preços podem garantir que os alimentos estejam disponíveis e acessíveis a preços acessíveis', disse a agência.
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O paradoxo da América Latina: região líder na produção de alimentos e onde a comida é mais cara - Instituto Humanitas Unisinos - IHU