Francisco e Pio V, "inquisidor modelo"

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22 Setembro 2022

 

"Bergoglio disse: 'Em apenas seis anos de pontificado enfrentou muitos desafios pastorais e de governo. Ele foi um reformador da Igreja que fez escolhas corajosas. Desde então, o estilo de governo da Igreja mudou e seria um erro anacrônico avaliar certas obras de São Pio V com a mentalidade de hoje. Precisamos apreender seu ensinamento e testemunho. Com esse olhar, podemos ver que o eixo de toda a sua vida foi a fé'", escreve Luigi Sandri, jornalista, em artigo publicado por L'Adige, 19-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

É possível indicar hoje aos fiéis, como modelo, um papa que em seu tempo, séculos atrás, enviou para a fogueira pessoas consideradas heréticas, ou teologicamente intoleráveis à autoridade eclesiástica? A complexa questão surge novamente depois que Francisco exaltou, no sábado, Antonio Ghislieri aos fiéis de Alexandria.

 

Alexandria é a diocese onde nasceu em 1504 aquele que se tornaria Pio V em 1566. Foi beatificado em 1672 e canonizado em 1712.

 

Bergoglio disse: “Em apenas seis anos de pontificado enfrentou muitos desafios pastorais e de governo. Ele foi um reformador da Igreja que fez escolhas corajosas. Desde então, o estilo de governo da Igreja mudou e seria um erro anacrônico avaliar certas obras de São Pio V com a mentalidade de hoje. Precisamos apreender seu ensinamento e testemunho. Com esse olhar, podemos ver que o eixo de toda a sua vida foi a fé”.

 

Intérprete muito rigoroso do Concílio de Trento, que terminou três anos antes de se tornar papa, tomou decisões importantes para pôr em prática as indicações daquela grande Assembleia; ele era muito devoto de Nosso Senhora; ele foi implacável contra os "hereges" e, portanto, em Roma mandou justiçar Pietro Carnesecchi e Aonio Paleario, duas pessoas julgadas "hereges" pela Inquisição: o primeiro foi decapitado e queimado, o segundo enforcado e queimado.

 

O Papa também se preocupou muito com a vida moral; para combater a sodomia em 1568 com a bula "Horendum illud Scelus" efetivamente condenou à morte aqueles que praticavam a homossexualidade.

 

Muitos, naquela época, consideravam tal severidade justa e necessária para manter firme a vida e a fé dos católicos, exposta a tantos perigos; mas houve também quem começou a considerar essa prática muito errada, como havia entendido um seguidor de João Calvino, que na Genebra protestante havia permitido que o espanhol Miguel Servet, acusado de heresia, fosse queimado na fogueira em 1553.

 

No entanto, o francês Sébastien Castellion, que também era seguidor do grande reformador, ousou contestá-lo, e numa obra corajosa afirmou: “Matar um homem não é defender uma doutrina, é matar um homem. Não se defende a própria fé queimando um homem, mas se deixando queimar por ela”.

 

Ideias como essas também passavam despercebidas também no mundo intelectual católico italiano do século XVI; mas Ghislieri as contrastava com tenacidade. Ora não é tarefa dos historiadores julgar a consciência daquele papa: pode-se imaginar que ele fizesse isso em total boa-fé.

 

Mas – é bom lembrar - finalmente o Concílio Vaticano II em 1965 reconheceu o princípio da liberdade religiosa. O reconhecimento desse direito para todas as pessoas veio depois de um debate dramático, porque era necessário desmentir papas como Gregório XVI e Pio IX que no século XIX haviam definido como uma "loucura" admitir tal liberdade. Sem, portanto, querer julgar o passado (nós também o seremos um dia!) deixemos em seu claro-escuro quem se arrogou a autoridade de matar uma pessoa, segundo ele, "herege".

 

 

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