Um desafio ao leitor: pense em cinco países democráticos que vivem sem ameaças autoritárias. Ou então, pense em cinco partidos políticos tradicionais, de qualquer país, que não tenham perdido credibilidade e adeptos nos últimos 10 anos. As crises políticas por todo o mundo não são apenas coincidências, mas sintoma de um sistema que está colapsando: a democracia liberal. Mas seria possível pensar saídas políticas que não recaiam sobre o autoritarismo? Para Rodrigo Savazoni, do Instituto ProComum, já há processos que reorganizam a sociedade em vista do Comum.
Rodrigo Savazoni, do Instituto ProComum. Foto: Medium
A Guerra da Ucrânia reacendeu o debate de transformação da ordem internacional. A ascensão econômica e política das grandes potências do Oriente, acenderam alertas nas nações-mães do liberalismo. A perestroika russa não chegou perto da utopia capitalista pregada pelo Ocidente. A oligarquização do Estado e a frágil relação cultural com os valores e instituições ocidentais deixou sempre em suspeita as pretensões do grande urso. No entanto, a mesma utopia liberal não ocorreu nos EUA e União Europeia, chegando ao ápice, cronologicamente, com a crise financeira de 2008, Brexit e a invasão do Capitólio.
Em ambos casos, as grandes potências não conseguiram sustentar as instituições democráticas, e, hoje, colocam em xeque a máxima liberal que "duas democracias não fazem guerra entre si", pois não há um padrão sustentável do que é e como fazer a democracia. As respostas a esses modelos autoritários, oligárquicos, e não-representativos surgem em diferentes cantos.
Para Savazoni o caminho está na luta dos comuns, na construção de uma democracia comuneira. Citando os grandes teóricos do Comum, os franceses Christian Laval e Pierre Dardot, ele explica que há um caminho radical comunitário para além da racionalidade neoliberal e o estatismo.
O autor ainda cita os diversos movimentos que podem servir de inspiração positiva ou por suas contradições para essa democracia dos comuns: Movimento 15-M e o Procomuns na Espanha, a Assembleia Europeia dos Comuns, as constituições plurinacionais de Equador e Bolívia e a filosofia do bem-viver, assim como o socialismo do século XXI na Venezuela, para citar as organizações maiores. Entre todas estas, a confusão entre governo e movimento social pode significar um perigo, mas constituem a semelhança que Laval e Dardot enfatizam:
O comum nos parece ser o princípio que literalmente emergiu de todos esses movimentos. Portanto, não é algo que nós inventamos; isto surgiu das lutas correntes como seu princípio interno. O termo adquiriu assim um significado completamente novo, aquele da “democracia real”, para o qual a única obrigação política legítima não decorre da adesão a uma determinada comunidade, por mais amplo que isso possa ser, mas da participação nessa mesma atividade ou nas tarefas que a constituem.
Nesta conjuntura crítica, no emergir de um Novo Regime Climático que ascende com uma crise energética, financeira e sanitária será o Comum o possível e o necessário para a paz?
O Rodrigo Savazoni estará no IHU Ideias desta quinta-feira, 09-06-2022, às 17h30min, proferindo a palestra Guerra, reconfiguração global e a (im)possibilidade do comum no século XXI.
O evento é gratuito e será transmitido na página inicial, canal do Youtube e página do Facebook do IHU.
Rodrigo Savazoni é escritor, realizador multimídia e pesquisador. Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero (2001), Mestre em Ciências Humanas na Universidade Federal do ABC (2014) e Doutorando em Ciências Humanas e Sociais pela UFABC (2017).
Autor dos livros CulturaDigital.br (2009), A Onda Rosa-Choque (2013), Os Novos Bárbaros - A Aventura Política do Fora do Eixo e Poemas a uma Mão (2014).
Como realizador multimídia, é um dos autores dos projetos Produção Cultural no Brasil e 5xCulturaDigital, para o qual co-dirigiu o curta-metragem Remixofagia - Alegorias de uma Revolução. Foi membro da Câmara de Conteúdos e Bens Culturais do Comitê Gestor da Internet do Brasil e Chefe de Gabinete da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo (2013)