História da Igreja: notas introdutórias

Foto: Pixnio

14 Mai 2022

 

"A clareza e a capacidade de síntese do autor tornam agradável a leitura e permitem ao leitor uma visão do percurso da Igreja nos diferentes momentos históricos", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul e mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), ao comentar o livro História da Igreja: notas introdutórias (Petrópolis: Vozes, 2020, 456 p.), de autoria de Ney de Souza.

 

Eis o artigo.

 

Ney de Souza é professor na PUC-SP e um reconhecido historiador do cristianismo. Sua atuação acadêmica busca, constantemente, dialogar com as realidades eclesiais de modo a possibilitar construções que podemos chamar de identitárias. É o autor de História da Igreja: notas introdutórias.

 

Esta obra pertence à Coleção Iniciação à Teologia. Na Apresentação à segunda edição desta coleção (p. 09-12) os organizadores/coordenadores Francisco Morás e Welder Lancieri Marchini destacam que em, 2004, o Instituto Teológico Franciscano, administrado pelos franciscanos da Província da Imaculada organizaram esta coleção. O contexto era a “efervescência dos cursos de teologia para leigos e a coleção tinha o objetivo de oferecer a esse perfil de leitor uma série de manuais que exploravam o que havia de basilar em cada área de teologia” (p. 11). Em, 2019, a coleção passa por uma reformulação: “além de visar um diálogo com os alunos de graduação em teologia, queremos que a coleção seja um espaço para a produção teológica nacional. Teólogos renomados, que têm seus nomes marcados na história da teologia brasileira, dividem o espaço com a geração de teólogos, que também já mostram sua capacidade intelectual e acadêmica” (p. 11). Assim, no Prefácio (p. 13-14), notam os coordenadores: “na obra que aqui apresentamos Ney não busca fazer uma simples síntese da história do cristianismo, mas traz ferramentas e conceitos que auxiliam na empreitada que é o estudo da história a partir do método histórico crítico, comumente utilizado na leitura bíblica, mas que aqui vemos aplicado à história da Igreja” (p. 14).

 

Capa do livro História da Igreja: notas introdutórias (Petrópolis: Vozes, 2020, 456 p.), de autoria de Ney de Souza (Foto: Divulgação | Editora Vozes)

 

O autor confirma o que se disse acima na Introdução Geral (p. 17-19), “o livro está organizado em cinco partes, uma primeira sobre as fontes da história e seguindo uma forma didática de apresentar as temáticas da história do cristianismo: a cronológica, outras quatro partes. O método utilizado é o histórico-crítico da história, processo de continuidade e descontinuidade” (p. 17).

 

Na primeira parte Fontes e metodologia para o estudo do cristianismo (p. 21 -31) – tem o propósito de “apresentar as fases da construção de um texto histórico” (p. 23), por isso, apresenta-se “sinteticamente as fontes e a metodologia para a história do cristianismo”. Para o autor as fontes orais e escritas são “essenciais para compor um determinado contexto e, em seguida, a escolha de um referencial teórico para analisar o material coletado e elaborar o produto científico: o texto” (p. 23).

 

Na segunda parte estuda-se o cristianismo no mundo antigo (p. 33-78): as origens e expansão do cristianismo (p. 35-39), cristianismo e sociedade greco-romana (p. 40-42), perseguição aos cristãos e martírio (p. 43-51), a aliança entre a Igreja e o Império Romano (p. 52-58), os concílios do primeiro milênio (p. 59-65), a vida cotidiana dos cristãos do século II, III, IV (p. 66-78).

 

A terceira parte trata da organização da Cristandade e os seus desdobramentos no período medieval (p. 79-178): a formação da Europa e a construção da Cristandade (p. 81-90), a Igreja e o Sacro Império Romano Germânico (p. 91-100), Vida Religiosa na Idade Média (p. 101-105); ruptura do Ocidente com o Oriente (1054) - (p. 106-114), As Cruzadas (p. 115-121), aspectos da Inquisição medieval (p. 122-127), as heresias (p. 128-134), a Igreja e o Estado em relação às heresias (p. 135-148), a evolução geográfica da Inquisição (p. 149-157), os Concílios medievais (séc. XII-XIII) - (p. 158-166), a crise da autoridade pontifícia (p. 167-171), Cisma do Ocidente e seus desdobramentos (p. 172-178).

 

A quarta parte adentra para a Idade Moderna: cristianismo e mundo moderno (p. 179- 264): tempo de transição, tempo de divisões (p.181-190), causas e clamores da reforma Protestante (p. 191-203), a Reforma Protestante (p. 204-223), a Reforma Católica (p. 224-246), guerras religiosas (p. 247-250), movimentos teológicos e espirituais (p. 252-260), século das Luzes (p. 261-264).

 

A quinta parte aborda o período contemporâneo: Catolicismo e sociedade contemporânea (p. 265-442): Revolução Francesa (1789-1799) e a Igreja Católica (p.267-272), Catolicismo e o processo de restauração (1814-1846) – (p. 273-276), Catolicismo e o combate ao liberalismo (1846-1878) – (p. 277-285), Concílio Vaticano I (1869-1870) – (p. 286-296), o desenvolvimento do Concílio Vaticano I (p. 297-304), as constituições do Vaticano I (p. 305-319), questão social e o catolicismo (p. 320-332), condenação do modernismo e reformas intraeclesiais (p. 333-340), movimentos de renovação (p. 341-345), catolicismo e a explosão da violência: guerras e totalitarismos (p. 346-358), João XXIII (1958-1963). Transição e renovação, o papa cristão (p. 359-362), Vaticano II (1962-1965). A preparação (p. 363-371), Concílio Vaticano II- primeiro período (p. 372-383), Paulo VI, reformador e incompreendido (1963-1978) – (p. 384-392), Concílio Vaticano II – segundo período (p. 393-404), Concílio Vaticano II – terceiro período (p. 405-413), Concílio Vaticano II – quarto e último período (p. 414-428), João Paulo II (1978-2005) e Bento XVI (2005-2013). O santo criticador e seu continuador (p. 429-435), Francisco de Assis, Francisco de Buenos Aires (p. 436-442).

 

A reformulação desta coleção que já ajudou no passado um grande número de pessoas interessadas pelos estudos teológicos a adentrar em cada uma das áreas da teologia seguirá sua finalidade. Novas e futuras gerações poderão continuar servindo-se destes substanciosos manuais escritos por autores nacionais. Neste sentido a reedição dos volumes da primeira edição bem como novos títulos ordenados por áreas: Escrituras, Teologia Sistemática, Teologia Histórica e Teologia Pastoral serão bem-vindas.

 

A obra escrita por Ney de Souza é uma novidade em relação aos volumes da primeira edição. Bem elaborado pedagogicamente, cumpre a função de um excelente manual de História da Igreja. A clareza e a capacidade de síntese do autor tornam agradável a leitura e permitem ao leitor uma visão do percurso da Igreja nos diferentes momentos históricos.

 

No contexto atual, caracterizado pela crise da memória históricaNey de Souza oferece uma abordagem consistente, crítica e autocritica da história da Igreja – dando uma adequada atenção as passagens e protagonistas que marcaram a trajetória histórica da Igreja. A leitura de cada um dos capítulos deste livro ajudará o leitor/estudante a perceber que em cada época, a Igreja se deparou com desafios concretos a responder e o fez dentro dos parâmetros históricos de cada época – por isso, a Igreja enquanto instituição divina e humana é também fator histórico - estampando em cada época um rosto imperfeito, modificável e reformável.

 

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