A Cúpula de Glasgow chega a uma encruzilhada: ponto de inflexão ou queda no cinismo climático

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09 Novembro 2021

 

A Cúpula do Clima de Glasgow foi, durante sua primeira semana, uma avalanche de promessas e anúncios intermináveis, mas fora das negociações oficiais. Metano, matas, dinheiro... quase não houve assunto que não tenha contado com algum compromisso futuro e, no entanto, o presidente da COP26, Alok Sharma, enviou uma nota às delegações oficiais, na quinta-feira, pedindo mais ritmo: “Peço que acelerem suas negociações”.

 

A reportagem é de Raúl Rejón, publicada por El Diario, 07-11-2021. A tradução é do Cepat.

 

Essa conferência tem uma lista de tarefas delimitada e a ela se referia o comunicado. De fato, entre expressões de apreço de Sharma ao “intenso trabalho” destes dias, o responsável por Glasgow obter resultados substanciais não escondeu que “existe um grande número de questões não resolvidas e assim não é possível progredir na segunda semana”. Com anúncios, mas sem arcar com seus deveres, a conferência se arrisca a cair em uma espécie de cinismo climático.

A cúpula criou grande expectativa. “É uma COP muito esperada, talvez a mais, desde a de Paris que culminou no Acordo”, acredita Tatiana Nuño, responsável pelo tema das mudanças climáticas no Greenpeace. “Há muita mobilização e acompanhamento dos cidadãos, o que é muito bom para que as delegações políticas vejam que estamos atentos e isso sirva de pressão para que se alcance o objetivo do 1,5 grau”.

Com essa expectativa à flor da pele, os anúncios fora da agenda oficial foram diminuindo: cem países afirmaram que diminuirão suas emissões de metano (um gás responsável por 25% do efeito estufa), mas a China não está nesse grupo. Outros tantos estados adiantaram que pretendem parar o desmatamento até 2030, mas neste ano se bateu o recorde de destruição da Amazônia.

Vinte e cinco países se comprometeram a parar de financiar projetos internacionais de combustíveis fósseis, embora os subsídios públicos para tais produtos sejam o triplo em relação aos destinados para as energias renováveis. “Foram realizados alguns anúncios interessantes, mas continuam sendo muito mais palavras e intenções de futuro”, afirma Nuño.

Inclusive, o diretor da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol, anunciou – mais um – que os planos climáticos nacionais dos países (NDC) conteriam o aquecimento do planeta em 1,8 grau. Fez isto justamente no dia em que a ONU realizou uma última revisão desses planos (eram 14 novos), que passou despercebida, e calculou que as emissões conjuntas, caso esses documentos sejam cumpridos, ainda crescerão 13% até 2030, em vez de diminuir em 50% conforme necessário, segundo apontaram os cientistas.

Diante da sucessão de comunicados, o diretor de Energia e Clima do think tank Power Shift Energy, Mohamed Adow, analisava: “A COP de Glasgow está em perigo de se afundar em um bombardeio de anúncios”. A verdade é que o ritmo foi vertiginoso. “Geram muitas manchetes, mas avaliar seu valor real é difícil”.

 

“Já é um fracasso”

 

A ativista sueca Greta Thunberg foi mais taxativa. Na sexta-feira, após uma manifestação de jovens em Glasgow, dizia: “Esta COP já é um fracasso. Os líderes políticos sabem bem o que estão fazendo e estão rejeitando tomar decisões drásticas”. Thunberg não hesitou em afirmar que em Glasgow estão acontecendo “duas semanas de palavras vazias e promessas, quando é preciso um corte drástico de emissões de CO2 a cada ano, como nunca visto pela humanidade”.

Sendo assim, enquanto os anúncios, compromissos e promessas se sucediam sem solução de continuidade, por baixo, as negociações foram se endurecendo, segundo indicam os que já estão na cidade escocesa. Os delegados estão trabalhando há quase uma semana, aguardando o desembarque dos ministros e ministras que irão se inteirar de como as coisas estão. Cada um tem sua lista de prioridades, seus pontos renunciáveis e suas linhas vermelhas.

Quando, a partir de segunda-feira [08/11], os chefes assumirem o comando, a cúpula pode ir para um lado ou para o outro. A comunicação que o presidente Sharma envio aos países refletia que há um entalo. Por isso, o diplomata já estava pedindo efetividade: “Considero de uma importância crítica que os órgãos subsidiários [grupos assessores técnicos] terminem suas sessões na tarde de sábado”, dizia. “Peço às delegações que acelerem suas negociações”, sobretudo nos assuntos “cruciais” para o que “deve ser alcançado, aqui, em Glasgow”.

Para além desses compromissos que foram sendo divulgados desde o início da cúpula, a COP26 tem alguns objetivos e deveres concretos como manter ao alcance o limite de calor extra do planeta em 1,5 grau, conseguir que se alcance o dinheiro comprometido para os países desfavorecidos e concretizar os mercados de emissões de CO2.

“Está tudo muito aberto, com muitas redações alternativas nos rascunhos”, conta o coordenador de mudanças climáticas de Ecologistas em Ação, Javier Andaluz. Ele, que atua como observador dentro da conferência, prevê “uma segunda semana complexa e complicada, sobretudo, nos temas de financiamento [dos países ricos aos empobrecidos] que seguem sem aparecer na cúpula”.

Além disso, o ecologista conta que “está fluindo bem pouca informação” e isso costuma indicar negociações duras. Nesse sentido, outros observadores denunciam como o seu papel foi reduzido na COP de Glasgow em relação a outras reuniões.

Alguns deles explicam como caminham “perdidos” pelas instalações sem poder exercer essa função de observador. “Em Madrid, entrei em espaços onde se negociava, mas aqui, em absoluto, não pude observar. Sinto-me como um enfeite”, denunciou no Twitter a estadunidense Alexandria Villaseñor.

Contudo, Nuño pensa que, “sim, existe certo ambiente propício para avançar e, além disso, não se encerra tudo em Glasgow, depois, é preciso seguir atentos a que os planos se tornem realidade. No entanto, Thunberg, que durante 2019, sim, participou na Assembleia da ONU e a COP25 em Madrid, contrapôs que “é ingênuo pensar que esta crise irá se solucionar sem ir à raiz do problema: a exploração da Terra, mas isso é muito incômodo para os que estão dentro desta COP”.

 

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