Manifesto: Frente a uma economia de morte, construamos uma economia samaritana

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04 Novembro 2021

 

"No 1000º dia do crime de Brumadinho em Minas Gerais, Brasil, denunciamos o espírito de morte deste modelo neoliberal baseado na ganância, violência e crueldade que gera dor e exclusão. Em comunhão com as comunidades e territórios afetados pela mineração na América e compadecidos com o grito da devastada e maltratada Mãe Terra que geme e sofre dores de parto (LS, 2), chamamos a nos comprometer com uma Economia Samaritana, que se distancia da lógica extrativista", escrevem em manifesto mais de 150 organizações eclesiais e movimentos populares em sintonia com o pronunciamento do papa Francisco junto aos Movimentos Populares.

 

 

Eis o manifesto. 

 

Desde as organizações eclesiais, movimentos sociais, grupos da sociedade civil, congregações religiosas, povos e comunidades, unimo-nos ao apelo feito pelo Papa Francisco no IV Encontro com Movimentos Populares: é tempo de parar a locomotiva que nos leva ao abismo. Juntamo-nos ao Papa Francisco para exortar a uma transição pós-extractivista, para que o paradigma desenvolvimentista não se baseie mais na depredação dos nossos povos, comunidades e da Casa Comum.

No 1000º dia do crime de Brumadinho em Minas Gerais, Brasil, denunciamos o espírito de morte deste modelo neoliberal baseado na ganância, violência e crueldade que gera dor e exclusão. Em comunhão com as comunidades e territórios afetados pela mineração na América e compadecidos com o grito da devastada e maltratada Mãe Terra que geme e sofre dores de parto (LS, 2), chamamos a nos comprometer com uma Economia Samaritana, que se distancia da lógica extrativista.

O Papa Francisco em sua mensagem aos Movimentos Sociais exclama: "Em nome de Deus, quero pedir às grandes corporações extrativistas - mineradoras, petrolíferas, florestais, imobiliárias, agroindustriais - que deixem de destruir florestas, pântanos e montanhas, que deixem de poluir rios e mares, que deixem de envenenar pessoas e alimentos". Em conformidade com este apelo, assumimos o compromisso de promover uma economia samaritana que actue como instrumento da ação missionária da Igreja e seja capaz de transformar o modelo econômico caracterizado pela voracidade cega de um tipo de exploração extrativista que não para de crescer e expandir-se; que quanto mais extrai e quanto mais deprime, mais necessita de continuar a destruir a natureza.

A grande mineração transnacional que hoje se expande sobre a vasta geografia e sociobiodiversidade da Nossa América é uma expressão contemporânea do colonialismo inerente ao desenvolvimento do capitalismo como um projeto civilizador. É devido à centralidade da valorização financeira – financeirização da natureza - que bens vitais como fontes de água, biodiversidade e ar puro continuam a ser destruídos para extrair minerais cujo valor é fixado e medido não tanto pela utilidade dos seus usos sociais, mas pelo seu valor de mercado. Por isso, assumimos um compromisso profético para ajudar a transformar o modelo econômico de desigualdade. Compreendemos que é urgente reabilitar uma política e uma ação saudável com o mercado financeiro que tem a dignidade humana no seu centro e que sobre este pilar se constroem estruturas sociais que promovam "a preocupação pela natureza, a justiça para os pobres, o compromisso com a sociedade e a paz interior" (cf. LS 10).

Imagem: Brumadinho. Foto de Felipe Werneck, Ibama. 

 



"Não estamos condenados a repetir ou construir um futuro baseado na exclusão e na desigualdade, descartando ou indiferenciando; onde a cultura do privilégio é um poder invisível e insuprimível e a exploração e o abuso é um método habitual de sobrevivência". O Bispo de Roma – papa Francisco - convida-nos a participar e a reconhecer as alternativas quotidianas de fazer economia, que favorecem "ser comunidade para viver com justiça e dignidade".

Em "Querida Amazônia", o Sumo Pontífice denuncia os projetos de extração econômica e outras indústrias que destroem e poluem (cf. QA 49). No documento final do Sínodo para a Amazônia, também é levantada a questão da conversão ecológica do ponto de vista econômico. Por esta razão, o Desinvestimento em Mineração surge como uma ação de conversão depois de escutar a vida e as reivindicações dos povos e da natureza. O desinvestimento na mineração é um ato de coerência ética dentro das Igreja e suas instituições. Ajuda-nos a não sermos cúmplices na destruição da Casa Comum e a estar ao lado de muitas comunidades que sofrem os impactos do extrativismo.

Por este motivo, assumimos e aderimos à Campanha de Desinvestimento Mineiro, promovida pelas Igrejas e Rede Mineira, conscientes de que é uma resposta eficaz para enfrentar o sistema extrativista. Apelamos às organizações, instituições, movimentos sociais e pessoas de bom coração para que coordenem ações conjuntas para acelerar a conversão ecológica e a transformação social:

Procuremos caminhos para uma Economia Samaritana, propomos "pensar na participação social, política e econômica de tal forma "que ela inclua os movimentos populares e anime as estruturas de governança local, nacional e internacional com aquela torrente de energia moral que surge da incorporação dos excluídos na construção do bem comum" (cf. FT 169).

Socializamos e denunciamos a realidade da exploração e da injustiça sofrida por milhares de pessoas devido ao extrativismo e conscientizamos sobre os impactos da mineração e de outros projetos predatórios.

Reflitamos sobre decisões coerentes em nossas práticas financeiras e de consumo, políticas econômicas e de investimento dentro de nossa organização, para que promovam os direitos humanos, a justiça social, climática e ambiental, a equidade de gênero e o bem comum, de acordo com o mandato divino de proteger a criação (Gn 2.15). Continuemos a aprofundar e promover reflexões que nos conduzam a decisões proféticas sobre os nossos investimentos.

Promovamos o desinvestimento na mineração como uma atividade orientada para uma urgente mudança de paradigma que rejeita as muitas formas de injustiça "alimentada por um modelo econômico baseado no lucro, que não hesita em explorar, descartar e até matar" (cf. FT 22). Por isso nos comprometemos a gerar uma economia integrada num projeto político, social, cultural e popular que busca o bem comum (cf. FT 168 e 169).

Apoiemos as comunidades, territórios e povos que defendem o seu direito à existência, queremos acompanhar e denunciar a sua dor. Queremos construir pontes "de amor para que a voz da periferia com seus gritos, mas também com seu canto e também com sua alegria, não provoque medo, mas empatia no resto da sociedade", como nos convida o Papa Francisco.

E, juntamente com o grito das comunidades afetadas pela mineração, levantemos a nossa voz no mundo, dando testemunho de esperança e coerência, construindo unidade e ligando possibilidades para uma conversão ecológica e economia samaritana.

 

 


Assinam

 

Red Latinoamericana Iglesias y Minería (IyM)

Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (RENSER), Arquidiocese de Belo Horizonte

Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM Brasil

VIVAT International

GreenFaith

Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade (AFES)

Serviço Interfranciscano de Justiça, Paz e Integridade da Criação (SINFRAJUPE)

Franciscans JPIC Office, General Curia

Comissão de Ecologia Integral e Mineração - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Missionários Combonianos - Brasil

Movimento Laudato Si (MSL)

Movimiento Laudato Si' Capítulo Argentina

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara (ABEFC)

Grupo de Reflexão e Trabalho da Economia de Francisco e Clara da PUC-Minas

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

Comissão Pastoral da Terra (CPT)

Conselho Indigenista Missionário (Cimi)

Justiça nos Trilhos (JnT)

Centro Promoción Conversión Ecológica

Cáritas Brasileira - Regional Minas Gerais

Red Argentina de Ambiente y Desarrollo (RAAD)

Red de Solidaridad y Misión de los Misioneros Claretianos de América – SOMICLA

Orden Franciscana Seglar de Argentina

Carmelitas Misioneras - Argentina

Africa Europe Faith Justice Network (AEFJN)

REDES España

Instituto das Irmãs da Santa Cruz, Brasil

Pastoral Carcelaria de Gral Roca, Río Negro, Argentina

Comisión General Justicia y Paz de España

Equipo de Animación Laudato Si Bariloche, Argentina

Articulação das Pastoral de Ecologia Integral do Brasil

Conferência dos Religiosos do Brasil - CRB Nacional

Fraternidad Carlos de Foucauld - El Salvador

Comunidades Eclesiales de Base - Argentina

Procura Misioneras Claretianas (CMF) - Perú e Bolivia

Congregación Pasionista - Chile

Misioner@s Laic@s del Niño Jesús de Praga

Religiosas de María Inmaculada Misioneras Claretianas - Bolivia

CIMA ONG Ambiental - Brasil

Orden Inmaculada Concepción

Asociación Radio Amistad - Peru

Grupo de Estudos Interdisciplinares Fronteiras da Universidade Federal de Roraima - GEIFRON

Cabildo Indígena del Resguardo Ticuna Huitoto - Leticia, Amazonas, Colombia

Misioneros Claretianos Provincia de Centroamérica

Comisión Justicia, Paz e Integridad de la Creación (JPIC) Guatemala Claret

Comisión Justicia, Paz e Integridad de la Creación (JPIC) Conferencia de Religiosas y Religiosos de Guatemala (Confregua)

Asociación de Trabajadores del Campo - Nicaragua

 

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