Os bispos católicos dos EUA e a mudança climática: silêncio e negacionismo

Mais Lidos

  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS
  • Povos Indígenas em debate no IHU. Do extermínio à resistência!

    LER MAIS
  • “Quanto sangue palestino deve fluir para lavar a sua culpa pelo Holocausto?”, questiona Varoufakis

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

03 Novembro 2021

 

Os bispos católicos conservadores dos EUA ignoram em grande parte a preocupação do Papa sobre a mudança climática.

A reportagem é publicada por Greenreport.it, 02-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

De acordo com o estudo "U.S. Catholic bishops’ silence and denialism on climate change", recentemente publicado em Environmental Research Letters por uma equipe de pesquisadores do Departamento de Estudos Culturais e Sociais da Creighton University, “A grande maioria dos bispos católicos estadunidenses calou-se sobre as mudanças climáticas em relação à encíclica ecológica Laudato Si' do Papa Francisco de 2015”.

O estudo também descobriu que os bispos dos Estados Unidos são negacionistas e tendenciosos sobre as mudanças climáticas de maneiras que estão relacionadas à sua identidade/ideologia política conservadora.

Os autores examinaram mais de 12.000 artigos publicados por bispos estadunidenses de junho de 2014 a junho de 2019 nas publicações oficiais de 171 das 178 dioceses católicas dos EUA (que representam 96% de todas as dioceses do país) e entre os resultados do estudo emerge que: menos de 1% dos artigos examinados pelo estudo (0,8%, ou 93 de 12.077 artigos) mencionava as palavras "mudança climática", "aquecimento global" ou suas variantes; menos de 1% dos artigos do estudo (0,46%, ou 56 de 12.077 artigos) descrevia a mudança climática como algo real ou em curso; menos de 1% dos artigos do estudo (0,24%, ou 29 de 12.077 artigos) apresentavam as mudanças climáticas como algo urgente; 74% dos 201 bispos dos EUA não mencionou nenhuma vez a mudança climática; 69% das 171 dioceses estudadas não haviam publicado colunas de bispo que mencionassem as mudanças climáticas.

O estudo foi conduzido pela socióloga Sabrina Danielsen, Daniel DiLeo, teólogo católico, professor associado e diretor do Programa de Estudos de Justiça e Paz; e Emily Burke, estudante de graduação na Creighton e atual doutoranda no joint Sociology and Community & Environmental Sociology Program da Universidade do Wisconsin-Madison. Danielsen resume: “A pesquisa mostra que as comunicações diocesanas dos bispos católicos estadunidenses ignoraram amplamente os ensinamentos católicos sobre a mudança climática. Isso é surpreendente, dada a crise climática em que nos encontramos e indica que os principais líderes católicos estadunidenses não capitalizaram a centelha da Laudato Si'”.

Aliás, nas raras vezes em que os bispos dos EUA trataram de mudança climática, frequentemente minimizaram as partes da Laudato Si' que estão em conflito com uma identidade/ideologia política conservadora. Na Creighton University, lembram que “A encíclica pede repetidamente que as políticas públicas enfrentem a mudança climática, enquanto os conservadores políticos estadunidenses muitas vezes se opõem às políticas climáticas". Dos 93 artigos escritos diretamente pelos bispos estadunidenses que mencionam as mudanças climáticas, apenas 14 (15%) fazem referência à política de mudanças climáticas.

DiLeo ressalta que “Nossos dados sugerem que, como indivíduos, os bispos estadunidenses falharam em seu dever de ensinar a plenitude da fé católica, que inclui o ensinamento da Igreja sobre as mudanças climáticas. Nossos resultados também levantam dúvidas de que os bispos católicos estadunidenses irão apoiar a defesa do Vaticano na Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática de 2021 em novembro. A Igreja Católica nos Estados Unidos tem um enorme potencial para moldar a política climática, mas isso requer o compromisso dos bispos com a justiça como essencial para a missão da Igreja”.

E, como vimos por ocasião do G20 com o encontro no Vaticano entre o presidente democrata Joe Biden e o Papa Francisco, o Pontífice teve que rejeitar os pedidos de excluir da comunhão o segundo presidente católico da história dos Estados Unidos por ser, segundo os bispos dos EUA, culpado de defender a lei sobre o aborto.

Além disso o estudo mostra que “Os bispos também deram prioridade desproporcional às questões sociais que correspondem à identidade/ideologia política conservadora. A Laudato Si' menciona a mudança climática 24 vezes e o aborto uma vez, mas os artigos dos bispos falavam disso com igual frequência ao discutir a encíclica. Entre os 211 artigos que fazem referência à Laudato Si', 59 mencionam mudanças climáticas e 59 mencionam aborto ou pró-vida”. Depois, os mesmos bispos que dizem que é preciso ter mais filhos não se opuseram às cruéis políticas de seu ídolo político - o protestante multi-divorciado Donald Trump - contra os imigrantes e seus filhos.

Burke conclui: “As mudanças climáticas são uma preocupação profunda para muitos jovens porque ameaçam todos os aspectos do nosso futuro. Como jovem católica, quero líderes que entendam essas esperanças e ansiedades e estejam dispostos a abraçar fielmente o ensinamento da Igreja sobre as mudanças climáticas".

 

Leia mais

 

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Os bispos católicos dos EUA e a mudança climática: silêncio e negacionismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU