28 Abril 2021
O que há de mais sedutor do que as investigações sobre os rolos do Mar Morto e, em geral, sobre os manuscritos bíblicos? O leitor profano se depara com contínuas últimas notícias surpreendentes – “Um manuscrito dos Dez Mandamentos, que no entanto são onze” – e com dilemas extremos: se se trata da mão imemorial de Deus ou de um falsário de anteontem.
A reportagem é de Adriano Sofri, publicada em Il Foglio, 27-04-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A filologia se vale de recursos científicos e técnicos que perseguem o talento estilístico. Um amplo artigo de Ariel David no Haaretz no sábado passada relata, a partir da revista Plos One, a pesquisa de uma equipe de estudiosos holandeses que submeteram a leitura de um dos manuscritos mais intactos, os sete metros do Rolo do livro de Isaías, que remonta ao século II a.C., ao escrutínio da inteligência artificial.
Esta é capaz de comparar simultaneamente, ao contrário do olho humano, centenas de milhares de traços nos caracteres individuais, traços de tinta no pergaminho subjacente e distinguir microsemelhanças e microdiferenças (algo semelhante ao que ocorre, fatigante mas inexoravelmente, com o advento da genética nos processos judiciais).
Mais ou menos na metade do texto, a inteligência artificial encontrou “uma mudança sutil, mas significativa na grafia, cuja explicação mais provável postula a intervenção de dois escribas diferentes”. Se não entendo mal, a diferença observada pelo algoritmo do computador (e inobservável pelo olho humano) é tão importante quanto a semelhança: ou seja, é uma diferença tão pequena que leva a pensar que os dois amanuenses foram treinados para uniformizar as suas grafias, “indicando uma origem comum ou uma formação compartilhada”.
Os primeiros rolos, incluindo o Isaías, foram encontrados em 1947 por um pastor beduíno em uma gruta perto do antigo assentamento de Qumran, na costa do Mar Morto, na atual Cisjordânia. Milhares de outros fragmentos foram encontrados mais tarde, o último há apenas um mês.
Eles foram escritos entre o século III a.C. e o século I d.C., antes da destruição romana do Segundo Templo, no ano 70. Hoje, não são mais atribuídos apenas à comunidade ascética dos essênios, mas à fermentação de seitas e grupos da qual teriam surgido o judaísmo rabínico e o cristianismo.
As novas investigações se somam a descobertas já adquiridas, como a presença, ao lado da maioria dos pergaminhos de ovelha, de outros de couro de vaca, que indicariam uma proveniência diferente daquela do deserto da Judeia e da comunidade de Qumran, onde não havia criação de bovinos. A pesquisa holandesa conclui cordialmente que, se nunca for conhecido o nome dos escritores dos rolos, pelo menos “depois de 70 anos de estudo, sentimo-nos como se pudéssemos apertar as mãos por meio da sua escrita”.
O leitor profano também se congratula com isso, mesmo que se pergunte, com o frívolo direito que a ignorância dá, se uma variação quase imperceptível na grafia não pode provir, por exemplo, de algum pequeno incidente ortopédico. Ou se a presença de duas mãos treinadas em um mesmo estilo caligráfico, portanto presumivelmente de um mesmo lugar, não confirma uma opinião bastante previsível, já que a quantidade e a variedade de textos e o longo tempo de composição pressupõem que os escritores foram numerosos e que constituíram algo como uma escola.
É verdade, porém, que a possibilidade de ter distinguido duas mãos distintas (ambas destras? A pesquisa não diz) já é entusiasmante, ainda mais em uma pandemia, e duplica o gesto que esperamos voltar a fazer ao conhecer alguém de bom grado: “Muito prazer!”.