Índios indefesos, o Covid entrou nas comunidades no Peru

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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25 Mai 2020

O vírus ameaça os cinco milhões de habitantes das comunidades indígenas, sem máscaras e testes. O governo está se mobilizando com atraso. E os casos de mineradores infectados estão crescendo: o extrativismo não para. No ranking latino-americano dos países mais afetados pelo Covid-19, o Peru ocupa o segundo lugar, atrás do Brasil, no número de casos (mais de 108 mil) e mortes (mais de 3.100).

A reportagem é de Claudia Fanti, publicada por Il Manifesto, 23-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

O vírus ameaça particularmente os cinco milhões de habitantes que, segundo o censo de 2017, afirmam pertencer a uma das nacionalidades indígenas do país, 48 amazônicas e quatro andinas. Na comunidade de Willoq, no vale sagrado dos incas, perto de Cusco, o Covid-19 chegou em 20 de abril com um "forasteiro" de respiração ofegante a quem um membro da comunidade havia aberto as portas de sua casa para descansar e que acabou morrendo na manhã seguinte sem sequer dizer seu nome. Levou três dias para ele ser retirado dali. Foi assim que o vírus começou a se espalhar pelos os oito povos indígenas da região, onde vivem 335.000 descendentes dos incas.

Mapa do Peru | Foto: America Mapas

Na verdade, ninguém sabe quantos indígenas estão infectados no país: nos relatórios do Ministério da Saúde, o componente étnico não é levado em consideração. E embora os povos originários sejam um grupo extremamente ameaçado, devido às altas taxas de desnutrição e anemia, o governo levou 56 dias para dispor, por decreto legislativo, genéricas medidas de proteção. Um alto índice de contágios se registra na Amazônia, onde vivem cerca de 400 mil indígenas: somente na região de Ucayali, 45 índios shipibo morreram com sintomas relacionados ao Covid 19. A situação é particularmente grave no departamento de Loreto, onde, com um sistema sanitários extremamente deficitário, mais de 2.300 casos positivos são registrados e mais de mil mortes (mas são subestimadas). "Estamos perdendo a guerra", afirmou Oscar Ugarde, médico envolvido no estudo das políticas de saúde pública.

Os povos indígenas se defendem como podem, fechando suas comunidades à passagem de estranhos - na ausência de máscaras, desinfetantes, testes, remédios e até informações - refugiando-se na medicina tradicional. Mas à medida que o sistema de saúde entra em colapso, o vírus vai avançando. E em um país onde mais de 20% do território é coberto por concessões de mineração de vário tipo, o Covid-19 está se disseminando rapidamente também no setor extrativista, que nem mesmo a pandemia conseguiu parar: de acordo com algumas estimativas, pelo menos 718 mineiros já estariam infectados.

 

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