“O verdadeiro objetivo de Ratzinger é se opor ao Sínodo alemão”

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04 Fevereiro 2020

Escreve-se “Amazônia”, mas se lê “Alemanha”. Essa nos parece ser a chave – outros têm outras e terão as suas razões – para situar o sentido e as perspectivas do caos eclesial provocado por um livro, centrado sobretudo na defesa do celibato sacerdotal, assinado por Bento XVI e pelo cardeal Robert Sarah, e depois “desconhecido” pelo pontífice emérito e, em vez disso, confirmado, em relação à contribuição deles, por parte do cardeal guineense.

O comentário é do vaticanista italiano Luigi Sandri, publicado por Il Trentino, 03-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Dois dias antes de ser publicado no dia 15 de janeiro em Paris, assinado pelos dois, o livro Des profondeurs de nos coeurs[Do fundo de nossos corações, em tradução livre], a editora francesa antecipava às mídias as páginas do livro, afirmando:

1) existe um vínculo ontológico entre sacerdócio ministerial e celibato;

2) é extremamente pernicioso admitir a ordenação sacerdotal de diáconos já casados na Amazônia.

Ora, essa hipótese havia sido aprovada – com 128 “sim” contra 41 “não” – pela assembleia que, em outubro, refletindo sobre os problemas daquela enorme região (7,8 milhões de quilômetros quadrados!), constataria que, em muitas aldeias dispersas pela floresta, o padre celibatário chega uma vez a cada um ou dois anos.

E Francisco, que havia avaliado positivamente essa exceção à regra do celibato sacerdotal obrigatório para os presbíteros da Igreja latina, está (ou estava) polindo precisamente a sua exortação pós-sinodal sobre esse tema. Portanto, a opinião pública eclesial, e com razão, viu no livro em questão uma pressão para dissuadir Bergoglio de aprovar esse “sim”.

Em suma, um papa emérito contra um papa reinante! No entanto, Dom Georg Gänswein, secretário particular do papa que renunciou em 2013, além de prefeito da Casa Pontifícia (neste papel, desejado por Francisco), apressou-se em dizer que Ratzinger absolutamente não havia assinado esse livro e insistiu que o seu nome fosse removido da capa.

Mas Sarah confirmou – publicando as fotocópias de vários e-mails – que o seu “coautor” sabia bem da operação e havia passado ao cardeal páginas suas de reflexões sobre sacerdócio-celibato.

E então? Em paciente espera de uma investigação da magistratura vaticana para apurar os fatos, nós acreditamos que Sarah disse a verdade (pois, se ele tivesse construído provas falsas, deveria ser privado da púrpura e reduzido ao estado laical!). E levantamos a hipótese de que o próprio Francisco, ou o secretário de Estado, Parolin, intervieram junto a Ratzinger, ou a Gänswein (secretário ou mesmo promotor, tradutor e intérprete dos desejos do “seu” papa, que completará 93 anos em abril), para que a embaraçosa assinatura fosse retirada.

Tal assinatura é de uma pessoa que, por sua escolha – é bom enfatizar – não é mais papa; seria algo, de todos os modos, eclesialmente fatal.

Deixando de lado a antiga questão do celibato sacerdotallatino”, ficamos estarrecidos diante do que fato de que Sarah e Ratzinger – ou quem escreveu ocultando-se com o seu nome – não sabem que as Igrejas Católicas orientais têm desde sempre o clero uxorado: serão elas de “segunda categoria” ou estarão rompendo o vínculo “ontológico” entre sacerdócio e celibato?

É escandaloso, além disso, que Bento e Sarah ignorem deliberadamente o Vaticano II, que também havia elogiado os presbíteros orientais casados; e que, substancialmente, essa dupla ignore a renovada teologia dos ministérios delineada pelo Concílio.

Talvez os dois não tivessem idealizado a santa conspiração se a exceção dos presbíteros casados se restringisse à Amazônia. O medo deles - fundamentado! – é que o “mau exemplo” se propague, e não só na África.

Mas suspeitamos que o seu verdadeiro objetivo era convencer Francisco a impedir o Sínodo alemão – que, agora, no fim de janeiro, começa entrar no cerne dos seus trabalhos – sacuda das raízes a lei do celibato obrigatório. E a sacudiria devido ao peso histórico, teológico, eclesial e “exemplar” da Alemanha, decidida a indicar o caminho para superar a irreversível falta de padres, que, aliás, paira sobre todo o Ocidente.

Certamente, a Igreja romana não se revigoraria simplesmente dando esposas aos padres; mas sim – pensam os alemães – com uma corajosa reavaliação, a partir da Bíblia e da primeira Igreja, dos “ministérios”, todos abertos também a mulheres e homens casados.

Essa Igreja possível – também em vista do futuro conclave! – tira o sono dos Ratzinger e dos Sarah.

 

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