“Eu não vou mais voar”: Greta faz prosélitos. Virada ecológica das linhas aéreas

Greta Thunberg | Foto: Wikimedia Commons

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30 Julho 2019

A Gretanomics - ou a arte de viver uma vida ambientalmente compatível - eleva o padrão (em todos os sentidos) e aponta para o grande alvo: o avião. A razão é clara: os motores a jato descarregam no céu 2,5% do CO2 produzido no planeta, mais – por exemplo – do que a Austrália e a Alemanha. Se as empresas mundiais fossem um estado soberano, elas estariam entre as dez nações mais poluidoras do mundo. Essas emissões podem ser reduzidas? "Sim", dizem os teóricos da "flight-shame" (literalmente, a "vergonha do voo").

A reportagem é de Ettore Livini, publicada por Repubblica, 22-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

E a única maneira é evitar de usar o avião. "Eu não faço isso desde 2015", Greta Thunberg confessou no twitter que em abril cumpriu 10 dias de turnê entre Estocolmo, Hamburgo, Roma, Basiléia, Paris, Londres e Bruxelas usando apenas o trem. A sua não é mais uma escolha isolada. De fato, milhares de pessoas - da Escandinávia à França, dos Estados Unidos ao Extremo Oriente - decidiram parar de voar por razões éticas.

Os números do fenômeno estão começando a ser importantes. O Flyggfritt, o movimento sueco de "não ao avião" já recrutou 14.500 pessoas que prometeram não pisar em um jato em 2019. Promessas fáceis escritas apenas nas mídias sociais? Não, fatos: Sj, as ferrovias de Estocolmo, registraram um aumento anormal de 12% nos primeiros três meses de 2019 de bilhetes vendidos. Uma reviravolta em favor do trilho - dizem os números - que tem um impacto "ecológico" importante: a viagem Milão-Roma de avião, para se ter uma ideia, produz 89 kg de dióxido de carbono por passageiro, contra os 63 do carro e os 18 do trem.

A política - com a ascensão dos verdes europeus na última eleição - já começou a se engajar no protesto. Quinze parlamentares franceses apresentaram um projeto de lei para proibir o uso do avião em rotas como Paris-Marselha (conectadas hoje por 35 voos diários) onde a diferença no tempo de viagem entre aeronaves e trens de alta velocidade é menor que duas horas e meia. O Greenpeace pede uma sobretaxa para os passageiros frequentes - 15% dos maiores viajantes hoje cobrem 70% do total de voos - e também na sociedade civil, algo está começando a se movimentar: o jornal dinamarquês Politiken proíbe que seus funcionários utilizem voos domésticos no país. Muitas universidades americanas estão revendo sua política de viagens corporativas, reduzindo ao mínimo o uso de aeronaves. E uma pequena startup de Berlim, a Weiberwirtschaft, oferece três dias extras para os funcionários que usam o trem em suas férias.

Pode ser que a onda do "não ao avião" se revele uma moda passageira. No entanto, as companhias aéreas decidiram levar as coisas a sério. Os precedentes pesam: a guerra contra o plástico abalou a química industrial, veganos e flexitarianos estão forçando os grandes produtores de carne a repensar seu futuro. "Se não tomarmos providências rápidas, os primeiros protestos correm o risco de se tornar uma avalanche", disse Alexandre de Juniac, diretor da Associação Internacional de Transporte Aéreo, às 150 operadoras reunidas nas últimas semanas em Seul. A linha de defesa das companhias aéreas é clara: "Hoje os aviões poluem a metade do que na década de 1990" - é o mantra coletivo - "e desde 2010 as emissões de um único jato caíram a uma taxa média de 2,8% ao ano". Único problema: o tráfego cresce mais rápido que os progressos "ecológicos". Entre 2010 e 2018, o número de passageiros anuais saltou de 2,6 para 4,3 bilhões (e dobrará novamente nos próximos vinte anos) e as toneladas de dióxido de carbono produzidas saltaram de 610 para 927 milhões de toneladas ao ano.

O que fazer? As empresas tentam lavar sua consciência comprando créditos "ecológicos" – ou seja, investindo em projetos de reflorestamento ou similares - proporcionais à poluição que produzem. E estabeleceram para si o ambicioso objetivo de reduzir pela metade as emissões até 2050. Muito pouco, dizem os críticos. A solução poderia ser o uso de biocombustíveis: mas a disponibilidade é escassa (hoje pesam menos de 1% do total do combustível usado pelas aeronaves) e os custos são muito maiores. Por enquanto, os motores a jato elétricos continuam sendo uma miragem.

Mas isso - com o boom inesperado do povo dos antiaviões - poderia se tornar uma realidade muito antes do esperado.

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