11 Abril 2019
A casa, os pais, a irmã, a doença e suas lembranças: a sueca de dezesseis anos conta sua história. Da greve em frente ao Parlamento aos protestos planetários contra as alterações climáticas
A reportagem é de Giacomo Talignani, publicada por La Repubblica, 08-04-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Às vezes, é preciso uma pessoa invisível para nos fazer abrir os olhos. Greta Thunberg era isso. Antes das greves pelo clima, das palestras na ONU, do milhão e meio de estudantes que seguiram seu exemplo, marchando contra a inércia dos governos sobre as mudanças climáticas, a adolescente sueca vivia fechada em seu silêncio, encolhida com o nariz afundado no pelo de seu cachorro Moses, vertendo lágrimas por ter sofrido bullying na escola.


Greta (Foto: Reprodução Twitter)
“Demorava 2 horas e 10 minutos para comer cinco nhoques”, lembra o pai falando sobre a doença. Mas Greta, portadora da síndrome de Asperger, sob aquela capa de invisibilidade e sofrimento, na realidade estava lutando: não fez nada além de estudar, repetir de cor os dados sobre as emissões de dióxido de carbono, recortar artigos, conhecer e entender os fatos. “Uma única viagem de avião pode cancelar vinte anos de coleta de lixo reciclável”, repetia sozinha na cozinha. Ele estava se preparando para agir. A narrativa desse período, de como uma família unida usou a mesma força necessária para tentar tratar suas filhas (também a irmã Beata sofre de distúrbios de desenvolvimento neurológico) para uma batalha concreta contra a mudança climática é o enredo de La nostra casa in fiamme (A nossa casa em chamas, em tradução livre) o livro escrito por Greta Thunberg junto com sua família e que a partir de 9 de abril estará nas bancas com o jornal Repubblica por 12,90 euros, mais o custo do jornal. Atendendo à vontade de Greta, tinha que ser um “livro sobre o clima”, e em grande parte o é, bem como, novamente por escolha das irmãs Thunberg, é uma publicação cujos rendimentos irão todos para instituições beneficentes que estão lutando para salvar o planeta.
Mas acima de tudo, é uma história, através das conversas da jovem paladina do meio ambiente, das anedotas mãe cantora de ópera Malena Ernman e do pai ator Svante, de fragilidade e força. A fragilidade de uma terra superaquecida que “daqui a 12 anos não será mais a mesma”, de uma família que passou de viver sempre viajando sob os holofotes para se fechar sobre si mesma para superar a doença das filhas. De uma força, aquela com a qual se sai dos problemas cotidianos, transformada em compromisso social: a voz de Greta, com dados científicos, narra o compromisso necessário para deter o avanço do aquecimento global, lembrando-nos que “estamos diante de uma catástrofe. “Quero que vocês sintam o medo que eu sinto todos os dias”, diz ela. E repete isso sem poupar ninguém, dos governos à mídia, até seus próprios pais: “Vocês acabaram de produzir 2,7 toneladas de dióxido de carbono” diz, alertando seu pai e sua irmã Beata que foram para a Itália de avião.
É um livro que fala sobre derretimento de geleiras, poluição que mata, futuro roubado aos jovens, mas, acima de tudo, esperança. A mesma que começa em 20 de agosto, quando Greta faz a primeira greve pelo clima. Logo em seguida, os jovens de todo o mundo a seguirão para nos mostrar algo que permaneceu invisível aos nossos olhos por tempo demais: uma Terra extremamente doente que está nos pedindo ajuda.


(Foto: Divulgação)
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Greta, um diário da família. “Lutamos pelo planeta” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU