Mas o Papa não vota

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21 Mai 2019

A Santa Sé, por princípio, não intervém em temas apenas porque outros os criam. Com algumas exceções. E ontem o Secretário de Estado fez uma. O cardeal Parolin apresentou algumas declarações que são uma resposta sutil, mas clara, a Matteo Salvini: que no sábado em Milão, vestindo o uniforme de teólogo inquisidor, deu uma lição ao papa, forneceu indicações aos fiéis sobre seus párocos, invocou os santos e até mesmo consagrou a Itália ao coração de Maria (simpática exceção ao "primeiro os italianos", já que a Mãe de Deus continua sendo uma mulher judia que temporariamente se refugiou no exterior com seu Filho e um marido que não era o pai).

O comentário é de Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha, publicado por la Repubblica, 20-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini

Nota de IHU On-Line: Veja o vídeo do ministro Salvini, com o rosário na mão, no comício de Milão, clicando aqui (em italiano).

O Secretário de Estado usou o estilo diplomático não por cortesia, mas por obrigação. Salvini, quer se goste ou não, é um homem de governo e, portanto, quando escarnece o Papa que chora os mortos no Mediterrâneo, comete um ato que interfere nas relações entre a Itália e a Santa Sé. O cardeal limitou-se a dizer: "Acredito que a política partidária divida; mas, Deus pertence a todos. Invocar Deus para si mesmos é sempre muito perigoso”. E na diplomacia vaticana, "sempre" e "muito", não são nem sempre nem muito.

O “agora basta” chega no momento em que, ressentido por uma audiência que certamente assim não irá acontecer, Salvini decidiu cruzar a linha vermelha. Nunca na história italiana um homem do governo tinha atacado o pontífice, incitando os fiéis contra os párocos que "fazem política do púlpito" (uma acusação que sempre precedeu a violência contra os padres), depois de minimizar uma ação fascista de perturbação do Angelus papal sem precedentes, realizada a poucos passos da polícia (se nas faixas houvesse uma mensagem do ISIS, quem deveria ter pedido demissão?).

Com tal passo a Lega Nord se aventura em uma terra desconhecida. O equilíbrio entre a alma do partido ligada aos territórios e, portanto, às paróquias, aquela indulgente com o tradicionalismo antissemita e aquela que se torna a voz do integralismo de família, não existe mais agora que o líder se alinhou - realmente ouvindo o jovem Arata? - a Bannon, que recomenda que todos ataquem o Papa Francisco de frente.

O balanço eleitoral desse movimento é incerto: mas trata-se de uma manobra mais estudada e complexa daquela do ano passado, quando durante a campanha eleitoral, agitou o rosário como um "amuleto religioso" (definição do cardeal Bassetti) e acenou com um evangelho. O discurso de Salvini em Milão tinha apenas um aspecto tosco, ou seja, a invocação dos santos europeus. Porque São Bento é quem escreveu que todos os hóspedes "devem ser recebidos como Cristo". Santa Brígida pregava pela libertação "das distrações perniciosas". Santa Catarina de Siena ensinava que apenas "o humilde extingue a soberba"; Cirilo e Metódio inventaram um alfabeto para falar com outras culturas e Edith Stein tinha seu farol na "solidariedade com toda a humanidade".

Para o resto, o discurso de Salvini foi e quis ser um contraponto ao europeísmo do Papa Francisco enunciado em maio de 2016. Francisco havia falado das muitas raízes da Europa e da necessidade de os cristãos as irrigarem com o evangelho: Salvini, em vez disso, relembrou a batalha de João Paulo II sobre a constituição europeia pela menção de raízes definidas de "judaico-cristãs" com um hífen assimilacionista que não agrada àqueles que, como a comunidade judaica de Roma fez ontem, questionam sobre os suprematismos e seus acobertamentos. Contra os passos dados por Francisco no diálogo com o islã, o vice premier mencionou o predecessor e as profecias de Oriana Fallaci. E diante do papa querigmático, prendeu ao próprio peito a medalha daquele "espírito cristão" que, quando existe, não se permite ser exibido como uma bandeira. Coisas que, no silêncio da igreja italiana, Parolin certificou como inadmissíveis.

 

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