Principal assessor de João Paulo II defende legado do Papa a respeito dos abusos sexuais

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25 Fevereiro 2019

Durante uma cúpula sobre abuso sexual clerical que se encerra hoje no Vaticano, a resposta do falecido Papa João Paulo II aos escândalos foi citada mais de uma vez, o que pode ser uma surpresa para muitos que achavam que a Igreja começou a levar a questão a sério apenas no papado de Bento XVI.

A reportagem é de Paulina Guzik, publicada por Crux, 24-02-2019. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

Crux, juntamente com o canal de televisão polonês TVP1, conversou com o assistente mais próximo do Papa polonês, o cardeal da Cracóvia Stanisław Dziwisz, sobre a abordagem do pontífice ao abuso clerical. Na entrevista, Dziwisz defendeu o legado de seu mentor.

Quando João Paulo II descobriu a verdade por trás das acusações de abuso sexual, "ele ficou profundamente horrorizado", disse Stanisław Dziwisz, que aparecia no fundo de todas as fotos do Papa, como se fosse sua sombra ou bengala "humana", quando João Paulo II não conseguia andar sozinho.

"Ele sempre viveu os assuntos da Igreja intensamente: gostava do que havia de bom e ficava triste por todas as manifestações do mal. A notícia de que sacerdotes e religiosos, cuja vocação é ajudar as pessoas a conhecer Deus, causaram tanto sofrimento aos jovens e geraram um escândalo para todos deixaram [o Papa] muito triste”, revelou.

"Don Stanislao" foi secretário particular de Karol Wojtyła por 12 anos em Cracóvia, antes de acompanhá-lo no Vaticano durante seus 27 anos de pontificado. A respeito da cúpula dessa semana, ele disse: "O evento está alinhado às ações de João Paulo II".

Apesar de João Paulo II ter sido responsável pelas três atribuições episcopais de Theodore McCarrick, o desacreditado ex-cardeal que recentemente foi expulso do sacerdócio, nos EUA (Metuchen, Nova Jersey, em 1981; Newark em 1986; Washington, D.C. em 2000) e tê-lo nomeado cardeal, sua excomunhão também é consistente com a abordagem do falecido papa, de acordo com Dziwisz.

"Considero a recente decisão de remover Theodore McCarrick do Colégio dos Cardeais e do sacerdócio completamente em consonância com a direção de João Paulo II", disse.

"Ao longo de seu pontificado, ele esteve perto e defendeu as pessoas feridas, bem como as que foram machucadas por membros da Igreja”, observou.

Para o ex-assessor de João Paulo, é bom saber que a comissão organizadora da cúpula citou documentos apresentados durante seu pontificado como "um importante ponto de referência" e elogiou o cardeal de Boston, Sean O'Malley, e o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, ambos vistos como líderes reformistas, por "recordar as palavras de João Paulo II de que não há lugar para quem prejudicaria os jovens no sacerdócio e na vida religiosa".

Ao longo dos anos, os críticos muitas vezes acusaram João Paulo II de tentar criar um "papado imperial", centralizando o poder. No entanto, Stanisław Dziwisz discorda.

"João Paulo II alinhava-se ao Concílio [Vaticano II]", afirmou. "Para ele, a colegialidade era uma regra básica na Igreja. Seus colaboradores, principalmente os líderes de dicastérios do Vaticano, tinham contato pessoal com o Papa e podiam sempre falar com ele. Assuntos importantes eram decididos em conjunto nas reuniões dos superiores de dicastérios."

Stanisław também negou ter exercido poder inadequadamente, principalmente na velhice de João Paulo.

"O secretário pessoal do Santo Padre nunca substituiu os dicastérios da Cúria Romana", declarou.

Os primeiros casos de abuso sexual com uma intensa cobertura da mídia eclodiram no Canadá e na Irlanda nos anos 80 e 90, seguidos pela grande tempestade estadunidenses do início dos anos 2000. Stanisław admite que na época o Vaticano estava apenas começando a descobrir a gravidade da questão.

"Não estávamos cientes da escala nem da natureza global dos abusos sexuais como hoje", disse o cardeal ao Crux.

Apesar disso, observou, João Paulo II se esforçou para fazer a coisa certa.

"O Papa viu que o problema não era apenas o flagelo vivido pelas vítimas, mas também as reações erradas dos superiores", disse. "Ele viu que embora houvesse procedimentos e leis na Igreja, nem sempre foram aplicados pelos bispos", admitiu.

Foi João Paulo II, disse ele, que obrigou a denúncia dos casos de abuso clerical diretamente para a Congregação para a Doutrina da Fé, na época liderada pelo cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, "em quem João Paulo II depositava a máximo confiança".

Isso foi feito para "evitar a tentação de colocar esses assuntos dolorosos debaixo do tapete".

Em relação à existência de uma cultura do silêncio no Vaticano durante o papado de João Paulo II, ele diz que isso não partia do Papa: "Ele era uma pessoa muito clara e direta. Quem conheceu e trabalhou com ele sabe bem que não havia aceitação consciente ou compromisso com o mal nele", disse.

"João Paulo II acreditava que a Igreja precisava de transparência, mas também de responsabilidade no tratamento de cada pessoa em relação à dignidade", observou.

"Ele dizia que na época a Igreja tinha que tentar ser uma 'casa de vidro', e que isso era o certo”, comenta.

Para Stanisław, João Paulo tinha uma visão ampla da crise de abusos.

"Ele tinha plena consciência de que a crise afetava não só a Igreja, mas toda a sociedade, e que tinha relação com profundas questões relacionadas à ​moralidade sexual." "Ele identificou esse problema logo no início do pontificado."

Ele revela que a conclusão de João Paulo era clara: "a única forma de enfrentar essa crise e suas causas era promover uma experiência madura e responsável do amor humano e da sexualidade".

Stanisław tem esperança de que as águas turbulentas da Igreja gerem frutos agora.

"O Papa João Paulo II viu o mal, mas nunca perdeu a esperança", disse. "Ele olhava para tudo com muita fé na bondade que Deus pode trazer do pior dos males. Ele acreditava que a graça poderia fluir com mais abundância de onde houve pecado.”

Stanisław Dziwisz lembrou, mais de uma vez, que a crise poderia ajudar a Igreja em sua purificação e fortalecer sua santidade.

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