"Combate-se o terror construindo pontes." Entrevista com o arcebispo anglicano Justin Welby

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20 Setembro 2016

A paz é necessária para combater guerras e violência. Quem está consciente disso é o primaz da Igreja Anglicana, que está hoje em Assis, por ocasião da visita do Papa Francisco. "Nunca é correto usar a identidade cristã para fechar as portas aos outros, mas todos os Estados devem se ajudar para enfrentar o fenômeno da imigração".

A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal La Repubblica, 20-09-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ele também está consciente de que hoje, na era da violência generalizada, das tantas guerras travadas e, especialmente, na era do terrorismo, há mais necessidade do que nunca de paz e de mensagens de paz promovidas e lançadas por aqueles que, como ele, está à frente de uma importante religião.

Por isso, Justin Welby, arcebispo de Canterbury e líder espiritual da Comunhão Anglicana, está contente por estar em Assis no encontro "Sede de Paz", organizado pela Comunidade de Santo Egídio.

Ele diz: "Estou muito agradecido à Comunidade pelo convite. Este evento é realmente importante para a paz no mundo e para o compromisso dos líderes religiosos pela paz".

Eis a entrevista.

O Papa Francisco disse claramente que a "terceira guerra em pedaços" a que estamos assistindo não é uma guerra religiosa. Mas houve quem criticasse os muçulmanos que participaram das missas depois do martírio do padre Hamel. Como o senhor avalia essas críticas?

É uma boa pergunta. Não estamos em uma guerra religiosa. No entanto, estamos vendo que, em cada grande tradição religiosa, há uma renovação das violências. Mas não há violências muçulmanas ou violências cristãs. Simplesmente, em cada grupo religioso, pode haver uma radicalização da violência. A resposta que todos devemos dar é a tentativa de nos corrigir. Nós cremos em um Deus que salvou Jesus Cristo da morte. Devemos tentar nos enriquecer uns aos outros, estando juntos daqueles que pensam diferente de nós e, como muitas vezes dizemos na nossa Igreja Anglicana, "aprendendo a não estar de acordo numa boa". Em outras palavras, não devemos pretender estar todos de acordo, mas estar em desacordo numa boa. Em relação a participar da missa ou participar dos funerais ou das exéquias do padre Hamel, eu gostaria de dizer que eu peço a Deus para que as pessoas tenham a coragem de derrubar as barreiras e estar juntos umas com as outras. Se construirmos muros, não seremos nada mais do que muros. Ao contrário, se derrubarmos muros, já começamos a ser as pedras da nova paz.

No Ocidente, alguns países justificam os seus fechamentos em relação aos fluxos da imigração como medidas para defender a própria identidade cultural ligada ao cristianismo. É legítimo usar a referência ao Evangelho para fechar as portas aos imigrantes?

Nunca é correto usar a identidade cristã para fechar as portas aos outros. No entanto, dada a ampla escala da crise dos imigrantes que chegam à Europa, precisamos de uma discussão séria sobre o assunto, analisando as suas causas, soluções, problemáticas. O nível da imigração é tal que nenhum Estado pode geri-la sozinho. Todos os Estados devem se ajudar a enfrentar o fenômeno. Esse é o problema europeu. E é um desafio para toda a liderança europeia. Devemos, em todos os casos, dizer às pessoas para não temerem a imigração, devemos dar esperança, criar trabalho para todos e gerar hospitalidade. Em outras palavras, não devemos defender aqueles que fecham as portas, mas devemos dizer às comunidades mais pobres dos nossos países que os imigrantes não são uma ameaça para elas.

Em muitos lugares, existe a exigência de construir pontes, a necessidade de criar laços também entre povos diferentes. No entanto, a Inglaterra votou pela saída da União Europa. O que o senhor pensa a respeito?

Eu falei publicamente antes do referendo em favor de permanecer na Europa, mas o povo britânico votou para sair. Não devemos ser arrogantes ao dizer que o povo errou. Qualquer que tenha sido a nossa posição durante a campanha eleitoral, agora devemos nos unir em um esforço comum para construir um país generoso e capaz de olhar para o futuro, dando a sua contribuição para o crescimento humano de todo o mundo. Devemos continuar sendo hospitaleiros e solidários, construir pontes, e não muros. Devemos dar respostas, oferecendo garantias, fazendo florescer a nossa sociedade extremamente plural e afirmando a contribuição única que cada um pode dar.

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