16 Agosto 2018
Depois das tempestades provocadas em algumas partes do corpo episcopal pela sua exortação apostólica Amoris laetitia, em maio e junho, Francisco proferiu “nãos” firmes à reabertura de três questões “quentes”.
A análise é de Luigi Sandri, publicada na revista Confronti, de julho-agosto de 2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Primeiro “não”: à admissão quase generalizada do cônjuge luterano que, ao se casar em uma igreja católica, gostaria de receber também a Eucaristia.
Em fevereiro, a Conferência Episcopal Alemã, liderada pelo cardeal Reinhard Marx, arcebispo de Munique, havia aprovado uma normativa que previa que, em todas as dioceses, se pudesse aceitar o pedido.
Porém, sete bispos, liderados pelo cardeal arcebispo de Colônia, Rainer Maria Woelki, recorreram a Roma para impedir essa iniciativa.
Em 3 de maio, uma delegação de bispos, mais o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Luis Francisco Ladaria Ferrer (cardeal desde 28 de junho), discutiram, sem chegar a solução alguma.
Depois, não esperando o debate no seio da Conferência, em 25 de maio, Ladaria, em nome do papa, impôs que se retirasse aquela norma, pois é um problema que ultrapassa a Alemanha e diz respeito à Igreja universal. Mas, no fim de junho, o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Alemã aprovou um texto muito semelhante ao de fevereiro!
Segundo “não”: à revisão da Humanae vitae, a encíclica de Paulo VI que declarava a contracepção como imoral. Teólogos de confiança do pontífice anteciparam o “não”, que, informaram, será reiterado por Bergoglio por ocasião dos 50 anos (25 de julho de 1968) do criticadíssimo texto de Montini, até agora sempre defendido por Francisco, embora muitíssimos cônjuges católicos não o tenham “recebido”.
Terceiro “não”: a discutir novamente a proibição à mulher-padre proclamada por João Paulo II na carta apostólica Ordinatio sacerdotalis de 22 de maio de 1994: “Para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr. Lc 22, 32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja”.
O diktat, defendido por Ratzinger, teria sido abalado por Francisco? Interrogado sobre um possível “sim”, Bergoglio repetiu: “Essa porta está fechada”.
Mas foi o arcebispo de Viena, Schönborn, quem reabriu os jogos, pensando no conclave. O cardeal, em abril, teve a audácia de sacudir a Ordinatio sacerdotalis. E, defendendo que um papa sozinho não pode resolver esse problema, propôs a convocação de um novo Concílio. Nesse ponto, o papa silenciou. Depois, sugeriu a Ladaria que ignorasse Schönborn, escrevendo, no entanto, no L’Osservatore Romano (30 de maio), um artigo para reiterar a intangibilidade do pronunciamento wojtyliano de 1994, considerado, na prática, “infalível”. E, em uma entrevista à agência Reuters, em 20 de junho, ele reiterou a tese da Ordinatio sacerdotalis.
Por que essa sequência de “nãos” sobre pronunciamentos magisteriais questionáveis?
Talvez Francisco se deu conta de que, se minasse também proibições proclamadas há séculos pelos seus antecessores, como fizera ao ofuscar a admissão de pessoas divorciadas e recasadas à Eucaristia – permito-me aqui me referir a um livro meu livro recentemente publicado: Il papa gaucho e i divorziati. Questo matrimonio (non) s’ha da fare [O papa gaúcho e os divorciados. Este matrimônio (não) deve ser feito], Ed. Aracne – uma parte, embora minoritária, do Colégio cardinalício e episcopal se oporia, dilacerando a Igreja Católica.
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Três ''nãos'' problemáticos de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU